Cheguei em casa quase de madrugada, após ter passado horas na companhia de Andrea. Permaneci lá até que ela adormecesse, algo que, confesso, senti necessidade de fazer. Não foi apenas uma gentileza ou preocupação superficial. Era como se uma parte de mim precisasse ter certeza de que ela estava realmente em paz, pelo menos naquela noite.
Enquanto caminhava em direção ao carro, a cidade quieta ao meu redor, não conseguia deixar de pensar no que aconteceu na vida de Andrea nesses sete anos que estivemos distantes. O que poderia ter lhe causado tanta tristeza? Aquele brilho nos olhos dela, que um dia vi tão claro e cheio de esperanças, agora parecia sempre sombreado por algo que eu não podia identificar completamente. A maneira como ela sorria, mas havia uma melancolia profunda escondida ali... algo me dizia que Andrea havia passado por algo que ninguém deveria enfrentar sozinha.
No entanto, no meio de todos esses pensamentos, senti, estranhamente, que estava no caminho certo. Que, de alguma forma, minha presença naquela noite fez diferença. Talvez eu esteja me iludindo, mas senti que talvez possa ser a pessoa que a ajude a encontrar um pouco de luz em meio à escuridão que parece a envolver. De qualquer forma, isso é algo que eu preciso descobrir, não apenas por ela, mas por mim também.
Quando cheguei em casa naquela noite, senti uma necessidade imediata de ver minhas meninas. Fui direto para o quarto delas, onde as encontrei dormindo, tão tranquilas e serenas que parecia impossível que o mundo lá fora pudesse ser tão caótico. Fiquei na porta por alguns minutos, apenas observando. Meu coração se apertou com o amor avassalador que sinto por Cassidy e Caroline, uma força tão poderosa que chega a doer de tão intensa.
Aproximei-me das camas delas e, com todo o cuidado do mundo, ajeitei os cobertores sobre seus pequenos corpos. Passei os dedos suavemente pelos cabelos delas, sentindo uma onda de ternura tomar conta de mim. Esses momentos, quando tudo fica em silêncio e posso apenas ser mãe, são preciosos. Eles me lembram por que faço tudo o que faço. Quando deixei o quarto, senti uma mistura de gratidão e exaustão.
Depois, fui tomar um banho. A água quente era exatamente o que eu precisava para relaxar e deixar para trás o estresse do dia. Quando finalmente me deitei, esperava que o sono me levasse rapidamente. E assim aconteceu, mas o que me surpreendeu foi o sonho que tive. Andrea estava lá. Estávamos juntas, felizes, em um cenário simples, mas com uma alegria tão genuína que, ao acordar, percebi o quanto aquilo mexeu comigo.
Na manhã seguinte, como de costume, Cassidy e Caroline estavam cheias de energia, fazendo planos para o dia. Não demorou muito para que as duas viessem até mim com um pedido que, de alguma forma, eu já esperava: queriam que Andrea almoçasse conosco. Tentei, como sempre faço, oferecer alternativas, mas a determinação delas era inabalável. E, para ser sincera, resistir ao entusiasmo delas é praticamente impossível.
Acabei cedendo e, com uma hesitação que raramente sinto, liguei para Andrea. A alegria na voz dela do outro lado da linha foi inconfundível. Aceitou o convite com tanta empolgação que não pude deixar de sorrir. As meninas ficaram radiante e, em pouco tempo, estávamos a caminho do chalé de Andrea.
Quando chegamos, Cassidy e Caroline ficaram encantadas com o lugar. "Mamãe, parece uma casa de bonecas!" Cassidy exclamou, os olhos brilhando com a empolgação. Caroline, sempre tão observadora, começou a explorar cada detalhe com curiosidade. O chalé era realmente acolhedor, charmoso, e combinava perfeitamente com Andrea.
O almoço foi agradável, cheio de risadas e conversas leves. As meninas não se afastavam de Andrea, que, como sempre, era afetuosa e atenciosa. Depois de comer, fomos para o jardim, onde as gêmeas continuaram a explorar e brincar, enquanto eu e Andrea conversávamos. A tensão que eu sentira no dia anterior parecia ter se dissipado.
A tarde passou num piscar de olhos, cheia de brincadeiras, risos e uma descontração que raramente experimento, mas que naquele dia, me preencheu de uma forma inesperada. Quando chegou a hora de ir embora, percebi o quanto aquele dia havia sido especial. As meninas estavam felizes, e eu, surpreendentemente, também me sentia leve, algo que não sentia há muito tempo.
Estar na companhia de Andrea, junto com minhas filhas, é uma experiência que, por mais que eu tente racionalizar, mexe profundamente comigo. Sempre fui uma pessoa que preza pelo controle — controle sobre minha vida, meu trabalho, minhas emoções. Mas há algo na presença de Andrea que desafia essa necessidade incessante de manter tudo sob rédeas curtas.
Quando estou com Cassidy e Caroline, meu amor por elas é o que me ancora, o que me mantém centrada. Elas são minha prioridade, a razão pela qual eu suporto tudo o que suporto no meu dia a dia. No entanto, quando Andrea está conosco, há uma mudança sutil, mas palpável, na dinâmica. É como se a presença dela adicionasse uma camada de calor, de algo que não consigo nomear, mas que sinto profundamente.
Hoje, por exemplo, enquanto almoçávamos juntas, as risadas das meninas se misturavam com a voz suave de Andrea, criando uma espécie de harmonia que me tocava de uma forma inesperada. Ver o quanto Cassidy e Caroline se apegam a Andrea, o quanto gostam de estar com ela, me faz sentir algo que vai além do simples alívio de ter uma companhia agradável. É quase como se Andrea tivesse, de alguma forma, encontrado um lugar nesse pequeno núcleo que somos nós três, e o pior — ou o melhor, dependendo do ponto de vista — é que isso não me incomoda. Pelo contrário, sinto uma espécie de conforto que nunca imaginei que sentiria.
Ao vê-las brincando no jardim, rindo e correndo, Andrea ali ao lado delas, não pude deixar de pensar no quanto esses momentos são raros para mim. E, no entanto, hoje, aqui, com elas e com Andrea, me senti leve, quase... feliz? Não é um estado que costumo permitir a mim mesma, porque a felicidade, na minha experiência, é sempre passageira e, geralmente, seguida de alguma decepção ou dor. Mas Andrea, com sua presença, suas risadas, e o modo como interage com as meninas, fez com que essa sensação se instalasse em mim, mesmo que eu relutasse em admiti-la.
Estar com Andrea e minhas filhas desperta em mim uma mistura de sentimentos — uma certa vulnerabilidade, sim, mas também uma sensação de completude, como se, por alguns instantes, a vida pudesse ser mais simples, mais leve. Talvez seja a forma como Andrea olha para mim, ou a maneira como ela se integra tão naturalmente à nossa pequena unidade familiar. Não sei ao certo, mas sei que esses momentos com elas são especiais, e, por mais que eu tente evitar, estou cada vez mais consciente de que Andrea está se tornando parte de algo maior, algo que envolve não apenas as meninas, mas também a mim.
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A Cinderela do All Star Amarelo
FanfictionO destino, em sua trama invisível, resolveu entrelaçar os caminhos de duas mulheres que, embora separadas por tempo e circunstâncias, estavam predestinadas uma à outra. Seus encontros, antes meros acasos, agora se revelam como partes de um plano mai...