Capítulo 36

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Era uma noite fria em Nova York, e a cidade parecia envolta em um manto de névoa suave. Andrea e Miranda caminhavam lado a lado pelas ruas iluminadas por lâmpadas antigas, as calçadas brilhando com o reflexo das vitrines. Miranda, sempre elegante em seu casaco de lã preto, e Andrea, um pouco mais descontraída, com um cachecol de tricô enrolado no pescoço, pareciam destoar do movimento apressado das pessoas ao redor.

Andrea ainda estava tentando se acostumar com a ideia de sair com Miranda para algo tão simples quanto uma sessão de cinema. A ideia de ver a sempre ocupada e icônica Miranda Priestly tirando um tempo para um encontro casual em público ainda lhe causava certo espanto. Era algo quase íntimo, ainda que estivessem cercadas por uma cidade lotada.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Andrea perguntou com um sorriso tímido, enquanto paravam diante da fachada de um pequeno cinema alternativo.

Miranda olhou para Andrea de soslaio, seus lábios se curvando em um leve sorriso de desafio.

— Acho que posso sobreviver a uma experiência comum como essa, Andrea. — Ela inclinou a cabeça de maneira imperiosa, mas com um toque de diversão nos olhos. E depois acho que merecemos aproveitar essas últimas horas, antes de irmos buscar as meninas que ainda não sabem que você está de volta, para nós.

— Mal posso esperar para abraçar as minhas ruivinhas e enche-las de beijos. Estou morta de saudades.

— Até eu estou, mas nós duas merecíamos esses momentos, não acha querida? E depois quando eu viajar, Cassidy e Caroline a terão integralmente para elas.

Andrea riu baixinho. Miranda, como sempre, tinha uma forma única de expressar seu desdém pelos lugares comuns, mas ao mesmo tempo, Andrea podia ver que ela estava se permitindo desfrutar dessa noite especial. Escolheram um filme clássico, algo cult e europeu, perfeito para a discrição que Miranda tanto prezava.

Entraram na sala de cinema, que já estava com as luzes levemente abaixadas, e se acomodaram em uma fileira um pouco mais ao fundo. Miranda tirou o casaco com elegância e, para a surpresa de Andrea, se aproximou o suficiente para que seus ombros se tocassem. O gesto foi sutil, mas íntimo de uma maneira que fez o coração de Andrea acelerar.

— É estranho estar aqui com você. — Andrea sussurrou, rindo baixinho ao se acomodar na poltrona, olhando para a tela, mas claramente mais concentrada na mulher ao seu lado.

Miranda ergueu uma sobrancelha, mantendo seu olhar fixo à frente, mas inclinando a cabeça levemente para responder.

— Estranho por quê? — perguntou com suavidade. — Você achou que eu não fosse capaz de fazer algo tão... mundano?

Andrea corou um pouco e deu de ombros, mordendo o lábio para esconder um sorriso.

— Não é isso... É só que eu nunca pensei que, um dia, estaríamos aqui, juntas. Parece quase... surreal. E também porque você parece tão... natural nisso, mesmo sendo... bem, *você*. — Andrea riu de leve, seu nervosismo aparecendo em cada palavra.

Miranda finalmente olhou para ela, seus olhos azuis brilhando na penumbra. Ela se aproximou, inclinando-se apenas o suficiente para que sua voz saísse baixa e íntima, mas com aquele tom que só ela conseguia usar.

— Você está dizendo que é difícil me imaginar em um cinema, compartilhando uma pipoca? — O tom de Miranda era quase divertido, embora seus olhos mantivessem aquela intensidade que fazia Andrea sentir um arrepio.

— Miranda Priestly comendo pipoca? Isso sim, é difícil de imaginar. — Andrea provocou, não resistindo à oportunidade de brincar um pouco com a imagem impecável de Miranda.

Surpreendentemente, Miranda soltou um leve riso, uma raridade que fez o peito de Andrea se aquecer.

— Bem, não vamos exagerar, querida. E depois Miranda Priestly sou para outro, pra você sou apenas Miranda Louise. — Miranda respondeu com uma piscadela rápida e um selinho, antes de se endireitar na cadeira e voltar sua atenção à tela, como se o assunto estivesse encerrado.

O filme começou, e Andrea se esforçava para manter o foco na tela, mas a presença de Miranda ao seu lado tornava impossível ignorar o fato de que estavam ali, tão próximas, em um ambiente tão fora da rotina de ambas. Ao longo do filme, seus braços se tocaram várias vezes, e, em certo momento, Miranda descansou sua mão suavemente sobre a de Andrea, sem dizer uma palavra.

Era um gesto simples, mas para Andrea, era o bastante para sentir que estavam conectadas de uma maneira única. Miranda, sempre tão controlada, estava se permitindo estar presente, naquele momento, apenas como uma mulher que desejava estar perto de outra, sem as camadas de expectativas ou armaduras que costumava usar no cotidiano.

Conforme o filme avançava, Andrea sentiu Miranda se mover ligeiramente em sua direção. Sem dizer nada, apenas pegou a mão dela com firmeza, entrelaçando seus dedos de forma tranquila. Andrea olhou de soslaio para Miranda, mas não disse nada. Apenas apertou a mão de volta, sentindo o calor reconfortante daquela conexão.

Quando o filme terminou, as luzes se acenderam lentamente, e o murmúrio das pessoas saindo da sala preencheu o ambiente. Elas ficaram sentadas por um momento, deixando que todos saíssem primeiro. Miranda se levantou com a mesma elegância de sempre, ainda segurando a mão de Andrea, e quando finalmente começaram a caminhar em direção à saída, Andrea quebrou o silêncio.

— Você gostou do filme?

Miranda deu de ombros levemente, um sorriso discreto nos lábios.

— O filme foi aceitável... — Ela parou por um momento, virando-se para Andrea com um brilho divertido nos olhos. — Mas a companhia, essa sim foi incomparável.

Andrea sorriu, apertando a mão de Miranda com mais força enquanto saíam do cinema, o ar frio da noite novamente as envolvendo. As palavras de Miranda ecoaram suavemente no coração de Andrea, que se sentia mais conectada a ela do que jamais imaginara possível.

E, naquele momento, enquanto caminhavam de mãos dadas pelas ruas de Nova York, Andrea soube que era exatamente onde queria estar.

A Cinderela do All Star AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora