A Cinderela do All Star Amarelo

Capítulo 4

Miranda estava perdida em seus pensamentos, os olhos vagando pela tela do iPad enquanto algo aleatório passava, sem que ela realmente prestasse atenção. Suas reflexões eram como um redemoinho silencioso, arrastando-a para longe do presente. Ela mal notou o barulho das páginas sendo viradas e os sussurros animados das meninas até que, de repente, sentiu um calor familiar, o toque de pequenos braços ao seu redor.

Caroline e Cassidy se aproximaram com sorrisos radiosos, enchendo-a de beijos e abraços, agradecidas pelo presente que haviam acabado de receber: a trilogia "Os Guardiões da Neve e do Fogo", de Andrea Sachs. O entusiasmo das meninas era contagiante, mas Miranda sentiu algo mais profundo ao ouvir o nome da autora. Seus olhos, que antes vagavam distraídos, agora estavam fixos nos rostos das filhas, que expressavam alegria e gratidão.

— Mãe, você nem imagina o quanto estávamos querendo esses livros! — exclamou Cassidy, os olhos brilhando de emoção. — Andrea Sachs é incrível! As histórias dela são cheias de aventuras e personagens tão cativantes.

Na verdade ela pediu a Emily, sua primeira assistente, que comprasse o livro mais famoso entre o público da idade delas, já que não conseguia se lembrar do título que as meninas haviam pedido com tanta empolgação. "Os Guardiões da Neve e do Fogo" era o nome da trilogia que agora ocupava toda a atenção das gêmeas. Leitoras inveteradas, para o orgulho da mãe, elas sempre ansiavam por novas histórias, e Miranda ficava feliz por incentivá-las, mesmo que nem sempre conseguisse acompanhar de perto seus interesses literários.

Caroline, sempre um pouco mais contida, segurava os livros como se fossem um tesouro precioso, mas havia uma felicidade evidente em seu olhar.

— A gente começou a ler o primeiro livro e vimos que é quase impossível parar! — disse Caroline, quase saltitante.

Miranda sorriu, acariciando os cabelos das filhas. Sentia um orgulho imenso ao ver o amor delas pela leitura, especialmente em Caroline, que tinha uma paixão pela escrita que Miranda reconhecia e admirava. Foi então que o nome da autora a atingiu de maneira estranha, como um eco de um passado quase esquecido: Andrea Sachs. O nome fez algo mexer dentro dela, trazendo à tona memórias de Paris, de uma jovem de olhos cor de chocolate que a havia encantado de uma forma que ninguém mais conseguira.

Ela balançou a cabeça ligeiramente, afastando a ideia. Não podia ser a mesma pessoa. "Andrea Sachs" não era um nome incomum, e o mundo era grande, sem contar que a jovem que conhecera disse chamar-se Andy, o que necessariamente não queria dizer que era uma forma de se referir a alguém que se chamasse Andrea. E se ela tivesse mentido o nome, afinal ela não disse que se chamava Miranda como muitos a conheciam. Pensar em tudo aquilo a deixou desconfortável, uma sensação que ela não conseguia definir, como se algo muito importante estivesse à espreita, esperando para ser descoberto.

— Fico feliz que gostaram, minhas queridas. — respondeu Miranda, com a voz mais suave do que pretendia. — Espero que se divirtam muito com a leitura.

As meninas voltaram a falar sobre a história do livro, trocando teorias e impressões com uma energia que era difícil de acompanhar. Miranda se forçou a focar na conversa delas, a dar a atenção que suas filhas mereciam, mas a imagem de Andrea continuava a rondar sua mente.

Por mais que tentasse afastar os pensamentos, a possibilidade de que fosse a mesma Andrea, aquela jovem que ela conhecera em Paris, continuava a se insinuar. Mas Miranda decidiu não dar voz àquela sensação. Não agora, não com as filhas ali, tão felizes e cheias de vida. Ela as ouviu com atenção renovada, saboreando o momento, enquanto uma parte dela, bem no fundo, não conseguia deixar de se perguntar sobre o que o futuro ainda poderia lhe reservar.

A noite em Portland estava calma e silenciosa quando Miranda, suas filhas, Roy e Cara chegaram à nova casa. O voo havia sido cansativo, e as crianças estavam exaustas. O céu noturno estava coberto de nuvens, criando uma aura de tranquilidade que parecia acompanhar o grupo em sua chegada.