A Cinderela do All Star Amarelo

Capítulo 26

Aquele dia na Runway havia sido particularmente exasperante para Miranda Priestly. A chuva de incompetências que se sucedera parecia não ter fim, e por mais que ela tentasse manter a compostura, a irritação fervilhava sob a superfície. O peso de decisões mal executadas e falhas alheias a consumia, e mesmo após chegar em casa, o mal-estar continuava a rondá-la. Embora quisesse manter sua habitual fachada impenetrável, não querendo transferir seus problemas para Andrea, a fachada começou a desmoronar durante a chamada de vídeo que haviam marcado para aquela noite.

Andrea, sempre atenta e sensível ao humor de Miranda, percebeu a tensão no semblante da editora, mesmo através da tela. Seus olhos preocupados buscaram os de Miranda, e com uma voz calma e reconfortante, ela ofereceu um espaço seguro para que Miranda desabafasse. Andrea assegurou que estava ali por ela, pronta para ouvir, e que, na condição de casal, deveriam compartilhar tanto os momentos bons quanto os ruins.

- Você não precisa disfarçar quando não se sente bem, Miranda," disse Andrea suavemente. - Eu entendo o quanto a revista pode ser desgastante, mas quero que saiba o quanto eu te admiro. Você é uma editora brilhante, e eu estou aqui para você, em todos os momentos.

Essas palavras atingiram Miranda como uma onda de alívio. Pouco a pouco, a rigidez em seus ombros começou a suavizar, e sua expressão, antes tensa, se transformou em algo mais sereno. Andrea, percebendo que Miranda estava começando a se acalmar, sugeriu que escolhessem uma música juntas, algo que pudesse trazer ainda mais conforto. Miranda, ainda um pouco relutante, concordou, deixando que Andrea escolhesse a canção. A música suave começou a preencher o silêncio entre elas, e o tom sereno de Andrea continuou a guiá-la para um estado de tranquilidade.

Enquanto conversavam, a voz calma e reconfortante de Andrea, junto com a música suave, começou a embalar Miranda em um estado de relaxamento profundo. A tensão acumulada do dia começou a se dissipar, e antes que percebesse, Miranda estava lentamente sucumbindo ao cansaço. Seus olhos se fecharam sem que ela se desse conta, e logo estava dormindo, a respiração se tornando ritmada e tranquila.

Do outro lado da tela, Andrea sorriu, sentindo uma ternura avassaladora ao ver Miranda dormindo. Ela nunca a tinha visto tão vulnerável, e essa visão a fez se derreter por completo. Miranda, na tranquilidade do sono, parecia tão serena e linda que Andrea não conseguiu desviar o olhar. Ficou ali, admirando a mulher que tanto amava, sentindo-se profundamente conectada e grata por aquele momento.

Antes de encerrar a chamada e se preparar para dormir, Andrea enviou uma mensagem carinhosa: "Te amo." Sabia que Miranda veria a mensagem ao acordar, e esperava que aquelas palavras fossem a primeira coisa a trazer um sorriso ao rosto de sua amada pela manhã. E, com o coração aquecido, Andrea adormeceu, ansiosa pelo próximo encontro, seja através de uma tela ou, em breve, frente a frente.

Miranda acordou com um sobressalto, os olhos piscando rapidamente enquanto tentava relembrar os eventos da noite anterior. A memória veio em fragmentos: a conversa com Andrea, o tom suave da voz de sua namorada, a música que soava baixinho ao fundo. E então, o constrangimento a atingiu ao perceber que havia adormecido durante a chamada, deixando Andrea falando sozinha. Um calor desconfortável subiu-lhe ao rosto enquanto pegava o celular ao seu lado.

Ao desbloquear o aparelho, no entanto, sua vergonha foi substituída por um sorriso involuntário ao ver a mensagem que Andrea havia deixado. "Te amo." As sete letras simples, mas carregadas de um significado profundo, fizeram o coração de Miranda aquecer. Era raro alguém conseguir tocar seu coração daquela maneira, mas Andrea parecia ter esse poder sobre ela.

Miranda pensou em ligar imediatamente para Andrea, queria ouvir a voz dela, assegurar-lhe que tudo estava bem. Mas ao verificar a hora, lembrou-se de que em Portland ainda era madrugada. Não queria acordá-la tão cedo, então optou por enviar uma mensagem: "Também te amo, Andrea. Sinto muita saudade." Ela ficou um momento olhando para a tela, permitindo-se um suspiro, antes de se levantar e iniciar seu dia.

O dia, no entanto, não foi mais fácil do que o anterior. As reuniões exaustivas e os prazos apertados na Runway testaram os limites de sua paciência. Mas a mensagem matinal de Andrea, ainda fresca em sua mente, parecia criar uma barreira contra o estresse que normalmente a consumiria. Ela se agarrou àquela pequena troca de afeto, usando-a como âncora enquanto navegava pelas turbulências do trabalho.

Quando a noite finalmente chegou e Miranda pôde retornar ao seu refúgio particular, foi recebida por uma surpresa que a deixou momentaneamente sem palavras. Sobre a mesa do hall de entrada, um vaso elegante de orquídeas estava posicionado com perfeição. As flores eram de uma beleza delicada e vibrante, cada pétala cuidadosamente aberta, exalando uma leve fragrância. Miranda se aproximou, e ao ler o pequeno cartão anexado, soube imediatamente que era um presente de Andrea.

"Para alegrar seus dias tanto quanto você alegra os meus," dizia o bilhete, seguido por um simples coração desenhado à mão. Miranda segurou o cartão por um longo momento, sentindo uma onda de emoções misturadas: surpresa, gratidão e um amor que parecia crescer a cada gesto de Andrea.

A exaustão do dia pareceu diminuir, substituída por um calor reconfortante que irradiava de seu peito. Miranda tocou suavemente uma das orquídeas, um raro sorriso curvando seus lábios. Andrea, mesmo a quilômetros de distância, conseguia encontrar maneiras de estar presente, de a fazer sentir amada e cuidada.

Miranda se sentou no sofá, ainda segurando o bilhete, e pegou o celular para enviar uma nova mensagem:

"Você é maravilhosa, Andrea. Muito obrigada pelo presente. Mal posso esperar para estar ao seu lado novamente. Te amo."

Ela enviou a mensagem e, por um momento, fechou os olhos, respirando profundamente, sentindo-se mais conectada do que nunca à mulher que conseguia suavizar até mesmo os dias mais difíceis.