Capítulo 14

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Quando abri os olhos, o quarto estava envolto em silêncio. A luz suave que entrava pela janela indicava que o dia já havia começado há algum tempo, mas algo estava diferente. Demorou um segundo para eu perceber o que era, e quando percebi, fui inundada por um vazio imenso. Miranda não estava ali. O espaço ao meu lado na cama estava vazio, frio, e de repente, aquele lugar que antes parecia tão seguro agora parecia desolador.

Eu senti falta dela, uma falta tão profunda que me assustou. Era como se algo essencial estivesse faltando, como se o mundo tivesse perdido um pouco de sua cor e calor. E esse sentimento, essa necessidade quase desesperada de tê-la por perto, me encheu de medo. Eu sabia que não era saudável, essa dependência emocional que começava a se formar dentro de mim. Já havia passado por isso antes, com Nate, e as consequências foram catastróficas. Eu me perdi completamente naquele relacionamento, e a ideia de que poderia acontecer novamente, desta vez com Miranda, era aterrorizante.

Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não havia como comparar Nate e Miranda. Eles eram opostos em quase todos os sentidos. Nate era conquistador, se apresentou como um príncipe encantado que não demorou a se revelar como um homem ciumento, possessivo, limitador...ele deu sinais claros sobre seu caráter...eu custei a acreditar que havia caído naquela cilada... enquanto Miranda... Miranda era desafiadora, complexa, e estar perto dela me fazia querer ser melhor, ser mais. Ela me fazia sentir viva, de uma maneira que eu nunca havia experimentado antes. Mesmo assim, o medo persistia, um lembrete constante de que a linha entre amor e dependência pode ser muito tênue.

Então, enquanto eu estava perdida nesses pensamentos, meu telefone tocou. Quando vi o nome de Miranda na tela, meu coração deu um salto. Atendi, tentando manter a compostura, mas a verdade é que sua voz trouxe um alívio imediato, como se o simples fato de ouvi-la pudesse restaurar o equilíbrio dentro de mim.

Ela me convidou para almoçar com ela e as meninas. A proposta me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo, senti uma alegria que não conseguia esconder. Era mais do que um simples convite; era um gesto que me fazia sentir que eu pertencia, que havia um lugar para mim na vida dela e das filhas.

O resto do dia foi simplesmente incrível. Passar a tarde com Miranda, Cassidy e Caroline foi como entrar em um mundo onde tudo parecia mais brilhante, mais vivo. As meninas eram adoráveis, cheias de energia e curiosidade, e estar com elas me fez sentir leve, como se todas as preocupações do mundo tivessem desaparecido. Brincamos, rimos, e o mais surpreendente foi o quanto aquilo me parecia natural. Não havia hesitação, não havia aquela sensação de estar deslocada. Pelo contrário, era como se eu já fizesse parte da vida delas há muito tempo.

Enquanto brincava com as meninas, senti uma onda de emoção me tomar. Aquele sentimento de pertencimento era algo que eu não sabia que estava buscando, mas agora que o havia encontrado, sabia que era precioso. O sorriso de Miranda enquanto observava tudo de longe, sua expressão suave e quase carinhosa, fez meu coração se aquecer. Pela primeira vez em muito tempo, senti que estava exatamente onde deveria estar, e isso, mais do que qualquer outra coisa, me deu uma sensação de paz que eu não experimentava há muito tempo.

Ao voltar para casa naquela noite, senti algo diferente. A despedida de Miranda e das meninas, que eu havia imaginado ser dolorosa, na verdade foi surpreendentemente tranquila. Claro, a saudade já começava a se manifestar no instante em que nos afastamos, mas dessa vez era uma saudade diferente. Uma saudade boa, saudável. Não havia aquela sensação de desespero ou vazio. Pelo contrário, havia uma paz reconfortante, uma certeza de que haveriam outros encontros, outros momentos tão especiais quanto o que acabamos de viver.

Eu me permiti saborear essa saudade, sem pressa, sem angústia. Era como um suave lembrete do que foi bom, e uma expectativa serena do que ainda estava por vir. Pela primeira vez em muito tempo, senti que estava em um equilíbrio que eu não sabia que era possível alcançar. As expectativas estavam lá, claro, mas não eram esmagadoras. Eu queria que as coisas se mantivessem assim, tão pacíficas e equilibradas.

Finalmente, entendi o quanto era importante para mim estar inteira, estar bem por mim mesma. Percebi que só assim poderia viver plenamente as boas experiências que a vida, e Miranda, estavam me oferecendo. E eu queria viver isso, queria me permitir sentir cada momento sem as sombras do passado me assombrando.

Assim que cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi telefonar para Brenda, minha psicóloga. Já fazia algum tempo que eu estava adiando essa conversa, mas sabia que era necessária. Brenda atendeu quase de imediato, e ao ouvir sua voz, senti um nó se desfazendo dentro de mim. Conversamos por um bom tempo, e houve lágrimas, muitas lágrimas. Mas com cada lágrima, vinha um pouco mais de alívio, um pouco mais de clareza. Contei a ela sobre as minhas recentes experiências, sobre meus medos e esperanças, e juntas, decidimos que eu faria duas sessões semanais daqui para frente.

Depois da ligação, tomei uma ducha quente e relaxante, deixando que a água levasse consigo qualquer resquício de tensão que ainda pudesse estar ali. Senti meus músculos relaxarem, e com isso, minha mente se abriu para novas possibilidades. Saí do banho sentindo-me renovada, como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros.

Sentada na frente do meu notebook, comecei a digitar. Minha cabeça estava fervilhando de ideias para o meu novo livro. As palavras fluíam com facilidade, cada frase trazendo consigo uma sensação de propósito. Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que estava no caminho certo. Estava criando algo que importava, algo que vinha de um lugar genuíno dentro de mim.

E ao escrever, percebi que estava começando a viver novamente, a permitir que a vida me mostrasse todas as suas possibilidades. E parte disso, eu sabia, devia-se à maneira como Miranda havia entrado na minha vida, não como um furacão, mas como uma presença constante e firme, que me fazia querer ser melhor, para mim mesma, e para tudo o que o futuro pudesse trazer.

A Cinderela do All Star AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora