14 - A outra face de Jake

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— Mas tem uma condição.

Jake segurou meus ombros, me prendendo com seus olhos claros e profundos. Por mais curiosa que eu estivesse sobre o HD, com o rosto dele tão próximo e as mãos me segurando tão firme, tive dificuldade em me concentrar não me perder em outros sentimentos.

— Nada mais beijo, com língua ou sem língua, não importa. NADA. MAIS. DE. BEIJO. E você precisa me contar caso o Phil tentar algo estranho de novo. — Jake disse, me balançando gentilmente pra frente e pra trás.

— Tá bom, nada de beijo. — Não consegui segurar o sorriso. Todo esse suspense, pra isso?

— E não tenta minimizar as coisas que ele faz só porque ele é irmão da Jessica. Se acontecer de novo, eu vou lidar com ele do jeito que eu quiser.

Quase consegui ver uma nuvem negra sobre a cabeça dele enquanto Jake proferia aquela ameaça vaga. Arqueei as sobrancelhas concordando com a cabeça.

— Justo.

Após me encarar por mais um instante, eu esperava por um beijo mas ao invés, Jake soltou os meus ombros e foi pra janela, pegando o notebook e enfiando-o na mochila.

— Eu não quero que você continue em Duskwood. — Ele disse, evitando olhar pra mim enquanto colocava uma das alças no ombro.

— E eu não quero que você vá embora. Jake... eu te fiz uma pergunta, lembra?

Tentei soar o mais gentil que podia. Eu entendia certas reservas de Jake, já que foi agindo assim— protegendo qualquer assunto que o rodeava, que ele conseguiu evitar ser preso por todo esse tempo.

E apesar de eu sempre ter, no fundo da minha mente, a noção de que ele fez algo muito sério, aquela conversa com Bloomgate abriu os meus olhos para uma vontade que eu mantinha escondida no meu coração: Pra mim não bastava mais ficar no escuro. Eu precisava saber mais sobre Jake. Mas mesmo me ouvindo alto e claro, ele parecia não se importar muito com as minhas perguntas.

— Eu não posso mais ficar em Duskwood, Mc. Já fiquei muito mais do que devia.

— Mas e tudo o que eu te contei sobre o Bloomgate, e o julgamento da Hanna? — Me aproximei dele, tentando controlar a minha voz.

— Eu não posso dar a chave pra você, por mais que você queira o meu arquivo.

Juntei o ar mas não consegui uma resposta para aquilo. Era só disso que ele achava que se tratava pra mim?

Jake continuou:

— E sobre a Hanna... Talvez eu consiga ajudar ela de outra forma. Preciso pensar melhor.

— Você quer ajudar a Hanna sozinho? — Perguntei, magoada de uma forma que eu não sabia explicar.

— Você quer ajudá-la? — Jake perguntou, mas ele sabia a resposta.

— Eu quero ajudar você. — respondi. — Já ajudei a Hanna como podia. Talvez... Talvez a gente tenha uma oportunidade de ficar e resolver tudo pra nós.

— Ou... você pode vir comigo. — Jake falou como alguém que comentava sobre o clima, se estava muito frio ou muito quente.

O meu silêncio foi ensurdecedor.

Se ele tivesse feito esse pedido durante a manhã, enquanto descíamos aquela escada de incêndio barulhenta e enferrujada, eu não teria pensado duas vezes. Nós já estaríamos não sei aonde, fazendo não sei o quê. Mas agora...

— Acho que podemos fazer melhor do que passar a vida nos escondendo. — Eu disse, desviando o olhar, sem saber como explicar a minha hesitação naquele momento.

Noite com Ele - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora