26 - Agavea Azul

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Um zumbido começou no meu ouvido enquanto eu ia pra cozinha do Aurora, onde o Jake estava esperando a Millie aparecer. Quanto mais eu chegava perto, mais alto parecia, como se meus pensamentos estivessem presos entre a realidade e ansiedade —ou talvez só preocupação mesmo. Então, virei para o extremo oposto, entrando no banheiro. Me tranquei em uma cabine e me sentei na tampa do vaso enquanto segurava uma ardência na garganta; a raiva que se acumulava somada a vergonha sobre as coisas que eu não conseguia enxergar antes.

Forcei os olhos a encarar a luz oscilante no teto, entorpecendo a sensação de aqui e agora, e então a sensação de anos atrás pôde voltar. A perda. Mas o que eu estava sentindo escapar pelos dedos dessa vez?

Eu não era tão importante pra ele como ele era pra mim.

O acontecido que a Hanna citou na tentativa de me humilhar aconteceu na primeira noite da nossa viagem.

Durante as cerca de dez horas que passamos no carro, Jessy, Phil e eu deveríamos alternar a direção, mas insisti para que ela me deixasse dirigir mais vezes. No final, apenas eu e Phil acabamos guiando todo o caminho. Passando todo aquele tempo tão próximos, logo ele percebeu que eu não estava de bom humor para flertes; mais tarde, quando chegamos à primeira parada de descanso, ele já havia deixado de lado a fachada marrenta, e na segunda parada eu já sabia qual tipo de música ele gostava, qual era sua tatuagem mais recente, qual delas ele se arrependia e pretendia cobrir. Também notei o hábito de manter a mandíbula tensa, dando leves mordidas na parte interna da bochecha, provavelmente por causa da abstinência de cigarro durante o trajeto longo e cansativo.

Em toda oportunidade que tinha eu dava uma olhada no celular, esperando pela mensagem que nunca chegava, com Jake sempre ali, no fundo da minha mente.

Estalei o pescoço, segurando o volante enquanto Phil reclamava da minha playlist.

— "Uma hora de Eminem medieval". Você gosta dessa merda?

— Eu gosto de todo tipo de música. Agora eu quero ouvir essa, pode ser só a primeira.

— Ainda bem que estamos chegando. — Ele disse, apoiando o queixo no punho e olhando para a janela. De repente, se ajeitou na cadeira e apontou para o lado — Olha, já dá pra ver a praia.

Olhei para o lado, tentando não descuidar da direção.

— Wow.

O sol quente, a água azul, a areia brilhante... Tudo o que eu esperava de uma praia não estava ali. Em vez disso, o céu estava cinzento, e a areia era escura e argilosa. Senti um calafrio subir pela coluna ao olhar para as ondas calmas, onde a água se misturava ao céu em meio a uma neblina fina. Sorri para Phil, vendo-o lançar uma bola de papel em Jessy, que dormia com Dan no banco de trás.

Chegando no hotel, descarregamos as malas enquanto Jessy e Dan cantarolavam uma música que eu nunca tinha ouvido antes, enquanto Phil correu para fumar um cigarro longe de nós. Hanna, Thomas e Cleo apareceram minutos depois, no outro carro.

— Até que passou rápido, não foi? — Jessy disse para Cleo, que alongava os braços com uma careta no rosto.

— Só se foi pra vocês, eu não aguentava mais.

— Foi de vela pro casal. — Dan disse.

— Se arrependimento matasse.... E você Mc? Como foi o caminho? — Cleo me perguntou.

— Tranquilo. Pensei que seria pior.

— VAMOS LOGO, O KRAFTKLUB VAI COMEÇAR EM UMA HORA! — Hanna passou correndo entre nós, arrastando a mala de rodinhas.

— Que história é essa? — Jessy perguntou para Cleo.

— Ela enfiou na cabeça que quer ver o Kraftklub hoje ainda, já até pegou ingresso pra todo mundo.

Noite com Ele - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora