12 - Injustiça

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— Tem medo de altura? — Jake me perguntou enquanto colocava a mochila recheada até o limite nas costas.

— Nenhum pouco. — Respondi mentindo da melhor forma que pude.

Sem dizer mais nada, Jake me pegou pelo pulso e foi me guiando enquanto descíamos pela escada de incêndio nos fundos do prédio. Os degraus metálicos eram finos e tremiam tanto com as nossas passadas, que a minha imaginação não conseguia decidir sobre qual cenário eu devia temer mais: viaturas dominando a alameda abaixo de nós ou aquela escada de segurança montada a 100 anos atrás se desmontando sob os nossos pés.

Foquei o olhar no horizonte e deixei que meus pés tratassem de descer os degraus por instinto. Olhar pra baixo ou segurar no fino corrimão enferrujado não ajudava na minha velocidade. De repente esbarrei em Jake e percebi que agora estávamos a apenas uns 3 metros de altura e só precisávamos destravar os últimos degraus para que a escada tocasse o chão.

Jake então soltou o meu pulso, segurou no corrimão lateral e simplesmente pulou. Assustada, eu me debrucei sobre o corrimão, esperando vê— lo esborrachado lá embaixo.

— VOCÊ TÁ BEM? — Disparei. Jake estava de pé, parecendo confuso com a minha reação.

— São só uns três metros... Você consegue né? — Ele perguntou.

— Era melhor se você tivesse perguntado isso antes... — Eu disse, calculando se aquele salto podia me fazer torcer o tornozelo ou até quebrar um osso.

— Eu perguntei se você tinha medo de altura.

— Eu sou sedentária demais pra pular de 3 metros... Meus pés mal sabem o que eh correr

— Tá, então eu vou tent...

— Não, tudo bem, eu me viro!

Não tinha jeito de conseguir pular como ele fez. Pensei então em destravar a escada mas eu nunca tinha feito aquilo antes... Onde ficavam as travas? Não tínhamos tempo. Passei uma perna por cima do corrimão e depois a outra.

Dei uma olhada pra baixo e vi que Jake segurava um sorrisinho.

— Agora só falta pular. — Ele disse, colocando a mochila no chão, sem tirar os olhos de mim.

Universo, não deixe eu quebrar nenhum osso, por favor! — Pensei, tentando conjurar algum fiapo de sorte que me restara naquela viagem.

E então soltei. Não sei se caí bem em cima de Jake, ou se ele tentou aparar a minha queda de propósito, mas senti meu pé bater no peito com ele com todo o meu peso. No final nós dois rolamos no chão.

Me levantei de cima dele em um salto. Aquela palhaçada já tinha custado tempo demais e parecia que eu podia ouvir sirenes à distância. Puxei Jake por um braço enquanto ele pressionava o peito com o outro. Com um gemido de dor, ele se levantou e a voz soou falhada:

— Acho que essa eu mereci... Na próxima te ensino a soltar as travas...

— E agora, pra onde? — Eu perguntei enquanto esfregava o peito dele como quem diz "passou, passou... Nem doeu...".

— Agora... — Ele disse endireitando as costas,— Seguindo reto à direita e virando a segunda à esquerda, tem um ponto de táxi.

Jake então tira uma série de notas do bolso e coloca na minha mão. Pegando novamente a mochila e colocando nas costas, ele me instrui a pagar o táxi com dinheiro, nada de cartão ou App.

— Não vamos juntos??

— Não, não vou deixar te pegarem comigo... Eu tenho outro caminho.

Não, não, não... Ele vai sumir sozinho. De novo.

Noite com Ele - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora