25 - Ela Sabia

165 11 15
                                    

FIGHT FIRE WITH FIIIREE! You Bet... You can't hold me down...

O vocalista estava a todos os pulmões, seguindo uma batida raivosa e caótica; invadindo e se misturando à minha linha de raciocínio enquanto eu falava com Thomas.

— Você não pode tá mesmo achando que eu fiz de propósito! — Thomas disse, as mãos levantadas e um olhar magoado no rosto.

Me arrependi de ter escolhido o Aurora para essa conversa. Teria sido melhor se eu pudesse ver suas expressões claramente, se sua voz não estivesse sendo engolida pelo caos das luzes contrastando com a escuridão e os gritos que a música exigia. Do lado de fora, a tempestade embaçava as janelas, me fazendo sentir presa em uma caixa cheia de pessoas disputando o ar entre si.

Eu não disse isso. Mas o timing foi esquisito... Certeza que a Hanna não... — Eu dizia, quando como um fantasma, a própria surgiu por trás de Thomas.

— Já combinamos de não falar mais com o Bloomgate sem advogado, MC. Não vai acontecer de novo. — Ela disse, se colocando entre mim e Thomas enquanto apertava o meu braço com uma mão e segurava um drink com a outra. — Você realmente acha que eu quero que encontrem ele?

Aquela voz serena e melodiosa no meio daquele barulho absurdo do bar me perturbava mais do que acalmava. O jeito com que ela fazia a minha hipótese -que eu nem sequer tinha citado em voz alta- parecer estúpida, era tão leve, tão deliberado, que realmente comecei a duvidar de mim mesma. Hanna emanava carinho por Jake, mesmo sem dizer o nome dele. Tentei me concentrar na realidade, mesmo com a música martelando e me distraindo, tentando evitar aqueles olhos que pareciam tanto com os do irmão.

A questão não era a Hanna ter algo ou não contra Jake: o fato era que ela enfrentaria perpétua pela morte da Jennifer, dependendo de como fosse vista pela Lei, enquanto Jake já enfrentava acusações por crimes próprios... Tudo realmente dependia do quanto Hanna queria escapar da prisão e que preço estava disposta a pagar. E, vindo de alguém que arrastou um corpo pela floresta e estava sorrindo tranquilamente dois dias depois... Não sei. De qualquer forma, eu a espelhei: sorri e dei de ombros, fingindo não saber que os federais haviam oferecido um acordo a ela.

Se eu fizesse perguntas diretas sobre aquele assunto, e Hanna decidir contar ao tal agente federal, seria o Alan quem acabaria com problemas. Ela não podia saber que eu sabia.

— Será que você não está implicando? — Phil se aproximou assim que Thomas e Hanna voltaram para a mesa próxima às janelas de vidro, lançando um meio sorriso, como se soubesse a resposta para a própria pergunta.

— Talvez eu esteja. Quem sabe?

Você sabe. Aquela ali não é flor que se cheire. — ele disse, aproximando o rosto do meu.

— Porque ela não te quis? — Provoquei em voz mais baixa.

— Ah, claro! Você me rejeita toda hora e eu continuo aqui ajudando, não é? Você acha mesmo que eu sou assim? — Ele sorria, mas os olhos estavam tão sérios... Enxerguei uma aflição que não era normal para ele.

— Eu não acho nada. — Olhei as horas — E a Millie? Não era pra ela ter chego?

— Do jeito que está chovendo, não sei nem se ela vem mais.

Respirei fundo. A música passou a ficar extremamente irritante.

— E ele? — perguntei.

— Tá puto, mas tá esperando ainda. Sabia que ele tem o vício mais entediante da história? A gente tá num bar e o bobão tá mastigando todo o gelo.

Noite com Ele - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora