11- Bom Dia

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Desci do táxi um tanto confusa e desorientada. Eu não conhecia o centro de Duskwood, mas a praça do mercado foi o primeiro lugar que me veio à cabeça após entrar no carro às pressas naquele começo de tarde.

Instintivamente caminhei até a fonte de àgua que ficava no meio da praça levemente arborizada, cercada de crianças em idade pré-escolar, barulhentas e cheias de energia.

Me sentando em um dos bancos que cercavam a vista, puxei meu celular do bolso, mesmo sabendo que nada nele diminuíria a preocupação e raiva que estavam começando a fazer parte da minha rotina diária.

Somadas, uma tsunami de emoções se misturavam no meu peito e junto à euforia de ter passado uma manhã muito bem aproveitada ao lado de Jake, estava uma culpa tremenda... O medo agora ofuscava toda a minha alegria.

Eu devia ter deixado ele conferir o Nymos...

Com a incerteza me dominando, eu continuava a me castigar, relembrando cada aspecto desse encontro, hora segurando o sorriso e corando, hora xingando a mim mesma e a realidade na qual eu mesma me colocara.

Horas atrás, Jake dormia pacificamente no meu peito enquanto eu observava o seu sono pesado e profundo... Memorizando aquele rosto amassado contra minha pele - fofo e vulnerável- sentindo uma angústia repentina ao lembrar que ele provavelmente não dormia bem daquela forma sempre, considerando as olheiras azuladas... A forma como os músculos de seu ombro continuavam tensos e duros e sua mão esquerda ainda segurava firme o meu antebraço, despertavam em mim um instinto que eu não sabia que possuía nem sabia nomear.

Mas, meu braço estava cansado da mesma posição, então tentei me mover com cuidado para não acordá-lo. A tentativa foi frustrada e Jake abriu os olhos de imediato, se esticando para logo relaxar novamente.

-Não quero acordar.- Jake disse com a voz rouca e baixa.

-E eu não quero dormir. - Respondi, afagando o cabelo preto como carvão molhado.

-Hmm... Seu coração acelerou de repente... Te assustei?

-Não. É que lembrei do tempo passando. Agora que você acordou, provavelmente vamos ter que checar a contagem do Nymos e eu vou ter que ir embora...

Jake respirou fundo, apoiando-se nas mãos e joelhos, me cobrindo da luz da manhã que entrava pela janela. Pude sentir o calor subindo pelo meu rosto quando ele me encarou tão de perto.

-Estar comigo te faz tão feliz assim?- Ele perguntou com um sorriso melancólico.

-Tanto quanto estar comigo faz esse cara feliz, pelo jeito. - Eu rio enquanto esfrego minha coxa contra o corpo de Jake. Ele estava pronto para outra rodada, assim, do nada.

Pude vê-lo corando mesmo com ele afundando o rosto no meu pescoço para se esconder enquanto ria.

-Impossível ficar tranquilo com você falando essas coisas. - Ele diz, com a voz abafada aquecendo a minha orelha.

-Que você me deixa feliz?

-Uhum.

-Então deixa eu te mostrar o quanto você me deixa feliz... -Eu digo enquanto deslizo por baixo do corpo de Jake, beijando o pescoço e descendo cada vez mais.

-Se dependesse só da minha vontade... - A voz de Jake soa quase como um sussurro. Ele tem os olhos fechados e se mantêm parado em quatro apoios, como que com medo de me esmagar ou me machucar por baixo dos lençois finos. - ...Mas precisamos mesmo checar o Nymos... Não quero te colocar em...

Jake interrompe a própria frase com uma inspiração repentina. Eu havia chegado onde queria, na parte mais sensível, que desmontrava da forma mais óbvia o quanto ele sentiu a minha falta todo esse tempo que passamos separados... Eu não queria ouví-lo falar das probabilidades do Nymos.

Eu tinha certeza que Nymos nos daria um número pequeno... O que poderia ter mudado de algumas horas atrás? A Hanna me disse que Bloomgate havia parado de perguntar sobre Jake há meses e até o fato de que eles eram meio irmãos tinha permanecido em segredo. A Hanna não tinha motivos pra mentir ou trair o irmão.

Por isso tomei todo o tempo que quis.

Lambi todo o membro de Jake, aplicando uma pressão especial na ponta e então num tom manhoso eu disse:

-Se você quer checar o Nymos, não sou eu que vou ficar no caminho... - Fiz menção de me levantar, empurrando Jake de leve. Mas ele não só não saiu de cima de mim, como pressionou o meu ombro com o joelho, se elevando para me olhar de cima. Eu encaro de volta, surpresa.

-Já que você começou... Melhor terminar. - Ele diz, desviando o olhar.


Minha lembrança é interrompida por um grito de criança. Uma mãe tentava convencer a filha birrenta que era hora de se despedir dos amiguinhos e ir pra casa. A sensação quente e inebriante da memória se desfez e eu fiquei com a rispidez e a frieza dos números que Nymos nos dera essa manhã.

88%

Quase 90% de chances do Jake ser capturado ainda hoje.

Jake me explicou que talvez algo estivesse errado com o algoritmo, ou algo muito fora do comum acontecera. Aquele número nunca havia chegado tão longe e o programa espião no Despartamento de Polícia de Duskwood poderia ter sofrido com alguma atualização do sistema. Mas até termos certeza sobre à quantas andava o plano da morte falsa, Jake teria que encontrar um novo esconderijo.

Em poucos minutos eu me arrumei como podia, enquanto Jake esperava com paciência e frieza àtipica de quem fugia da justiça. Ajeitei o cabelo num rabo de cavalo, esfregando freneticamente embaixo dos olhos numa tentativa de tirar o que restava do rímel dormido.

-Bora. - Eu disse num misto de determinação e medo. Eu não sabia qual era o plano de fuga de Jake; mas se ele me pedisse, eu estava pronta pra largar tudo no meu hotel e sumir.

Mas não tive tempo de dizer nada disso à ele.


Noite com Ele - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora