Noite com Ele - Duskwood

06 - Medo

Saímos do calor da Aurora e entramos no estacionamento frio e úmido. Meus olhos lacrimejaram um pouco com a mudança repentina de clima. Esfregando as mãos, me apoei em Jake. O corpo dele estava quentinho e aconchegante. Ele me ofereceu seu moletom, mas recusei, ansiosa para chegar à sua moto e depois ao seu apartamento. De repente, senti o cheiro dele - uma colônia amadeirada com um toque de gasolina - quando ele passou o braço pelos meus ombros. Corei e sorri sem que Jake percebesse, de tão alerta que ele estava ao caminho.

Caminhamos... caminhamos... e caminhamos um pouco mais. Depois de um tempo, percebi que já estávamos longe demais do Aurora, mas não havia sinal da moto ou qualquer indicação de Jake de que estávamos nos aproximando dela. Conforme passávamos por vários becos e esquinas, eu olhava as janelas decoradas e os tijolos marrons das casas em Duskwood, Me perguntando se um dia poderíamos ter um encontro normal, caminhando pela rua durante o dia como qualquer casal. Quando me dei conta, não sabia mais onde estávamos.

"Será que estamos perdidos?'" Eu cogitei enquanto olhava ao redor. Quando estava prestes a perguntar se ele sabia onde estava indo, senti Jake colocando um boné na minha cabeça, bagunçando um pouco meu cabelo, enquanto ele próprio vestia o capuz do moletom. Só então percebi: essa longa caminhada confusa era o jeito dele de garantir que ninguém nos seguisse. Fiquei em silêncio, apenas sentindo sua mão fria segurando a minha.

Depois de algum tempo, descemos uma longa escadaria, um atalho sombrio e escuro. Mal conseguia ver os degraus, mas Jake me guiava como se tivesse passado por ali várias vezes. Chegando lá embaixo, demos de cara com um belo parque arborizado. As árvores eram largas e altas, cercadas e iluminadas por lâmpadas arredondadas lançando uma luz fraca e pálida. O parque cinzento e sem folhas era deslumbrante na neblina.

De repente, Jake parou.

- Chegamos.

Eu estava tão resignada à caminhada e distraída pela vista que não percebi a moto bem na nossa frente. Jake continuou dizendo;

- Desculpe por te fazer andar tanto. O lugar é perto, então você vai poder descansar em breve.

- Não estou nenhum pouco cansada. - Respondi, empolgada. Dei alguns passos para trás, como que enquadrando Jake e o parque atrás dele em foto na minha memória.

"Então esta é a moto. Bem a cara dele", pensei. Um modelo todo preto, parecido com uma Triumph Rocket, mas mais robusta, como que equipada pra longas viagens. Ele pegou sua jaqueta de couro no baú e estendeu pra mim.

- Você vai precisar disso. - Ele disse.

Coloquei a jaqueta, agradecida pelo calor e pelo cheiro dele me envolvendo. Subi na garupa, abraçando sua cintura. Seus ombros eram mais largos do que eu esperava, e o calor do seu corpo me fez sentir aconchegada e segura.

Eu estava indo para a casa dele, para passar a noite, no primeiro encontro. De repente uma onda de calor subiu pelo meu rosto.

- Você me diria se eu estivesse sendo inconveniente, não é? Eu sei que você não planejou nada. - Eu disse, pressionando minha bochecha nas costas dele.

- Inconveniente? Tá mais pra um sonho se realizando. - Ele disse. Corei imediatamente com uma frase tão fofa saindo da boca dele. O abracei com mais força e vi suas orelhas ficarem vermelhas. Colocamos os capacetes, ele deu partida no motor e pegamos a estrada.

- Só espero que você não fique com medo. - Ele disse alto, contra o rugido do motor.

- Por que eu ficaria com medo?" Perguntei, enquanto o vento alfinetava o meu rosto.

Jake respondeu friamente:

- Você vai ver.