o que uma mentira pode fazer?

Trinta e dois

Maraisa
2 de agosto de 2006

Descobri que estava grávida na sexta semana, e desde então minha vida se transformou de maneiras que eu nunca poderia ter previsto. As duas linhas no teste de gravidez eram tão pequenas, mas carregavam uma verdade imensa: eu estava esperando um bebê. Não, espera. Como eu descobriria um pouco mais tarde, eu estava esperando duas. Duas meninas. Gêmeas.

As primeiras semanas foram como uma névoa de emoções e sensações novas. A náusea foi a primeira a aparecer, e veio como uma avalanche. Não era só de manhã; eu sentia enjoos o dia inteiro. O simples cheiro de café, que eu costumava amar, agora me fazia correr para o banheiro. Estar na faculdade se tornou um desafio maior do que eu imaginava. Tentava manter a rotina de estudos, mas era difícil me concentrar quando o meu estômago parecia estar sempre revirado. Eu estava exausta, tanto mental quanto fisicamente.

Maiara, minha irmã, notou as mudanças rapidamente. Ela sempre foi observadora, e não demorou a perceber que algo estava diferente. Quando contei a ela sobre a gravidez, seus olhos se encheram de lágrimas. Ela sabia o quanto essa notícia era significativa, especialmente considerando tudo pelo que eu já tinha passado. Ela prometeu estar ao meu lado em cada passo desse novo caminho, e eu sabia que poderia contar com ela.

Na faculdade, no entanto, manter a gravidez em segredo foi difícil. Eu estava sempre correndo para o banheiro, faltando a algumas aulas por não me sentir bem, e meus colegas começaram a notar. As perguntas começaram a aparecer, mas eu ainda não estava pronta para compartilhar essa nova fase da minha vida com todos. Eu me senti dividida entre o desejo de continuar meus estudos e a necessidade de cuidar de mim mesma e dos meus bebês.

Na décima semana, fui à minha primeira consulta pré-natal. Sentei na sala de espera do consultório da Dra. Hernández, sentindo um misto de ansiedade e medo. Quando entrei no consultório e ela começou o exame de ultrassom, meu coração estava disparado. O momento em que ela revelou que eu estava esperando gêmeas foi surreal. "Duas meninas", ela disse, e eu mal consegui processar a informação. Estava feliz, assustada, e um pouco sobrecarregada com o que isso significava.

Os meses seguintes trouxeram uma rotina de consultas médicas, exames e ajustes em meu estilo de vida. A Dra. Hernández foi clara sobre os riscos de uma gravidez de gêmeos, especialmente em alguém na minha situação. Eu precisava ser extremamente cuidadosa com a minha saúde. Isso significava seguir uma dieta específica, tomar suplementos, e, mais importante, descansar o máximo possível. Mas descansar era mais fácil de falar do que de fazer.

À medida que minha barriga começava a crescer, as idas à faculdade se tornaram mais exaustivas. O peso dos bebês fazia com que eu me sentisse cansada o tempo todo, e caminhar pelos corredores da faculdade se transformou em uma tarefa árdua. Lembro-me de um dia em particular, durante a 16ª semana, quando senti uma tontura tão forte que precisei me apoiar na parede para não cair. Um dos meus professores percebeu e me pediu para sentar e descansar, mas eu estava determinada a continuar. Não queria que minha gravidez me impedisse de seguir meus sonhos, mas meu corpo estava começando a dar sinais de que eu precisava desacelerar.

Os desejos de grávida também começaram a aparecer por volta dessa época, e eles eram estranhos. Tinha dias em que eu ansiava por combinações de alimentos que nunca teria considerado antes. Sorvete com batata frita, pizza com abacaxi e até lasanha com geleia de morango. Maiara e Maitê riam das minhas combinações malucas, mas sempre faziam o possível para me ajudar a satisfazer esses desejos. Eu sabia que era só uma fase, mas não deixava de ser um pouco divertido e assustador ao mesmo tempo.

Conforme a gravidez avançava, os sintomas ficavam mais intensos. Os enjoos deram lugar a azia constante e uma sensação de peso no estômago que parecia nunca desaparecer. Minhas costas doíam tanto que, às vezes, era difícil encontrar uma posição confortável para dormir. Eu tentava manter uma rotina de estudos, mas minha concentração estava se deteriorando. Havia dias em que eu lia o mesmo parágrafo várias vezes sem conseguir absorver nada.