Cinquenta e um

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Natália
1 de dezembro 2010

Eu tô aqui, no avião com a titia Dulce. O barulho do avião é bem grande, mas eu tô segurando a mão dela forte, porque me dá um pouco de medo. A titia Dulce falou que a gente vai ver a minha irmã Amanda e a mamãe Maraisa. A Amanda é minha irmãzinha, mas eu não vejo ela faz tempo... Será que ela lembra de mim? Eu lembro dela!

— Titia, como é a mamãe Maraisa? Ela é igual a mamãe Marília? — Eu pergunto, porque a mamãe Marília nunca fala muito dela. Só que hoje, eu perguntei: "sente falta da mamãe Maraisa?" e a mamãe Marília ficou quieta, não me respondeu nada. Eu fiquei confusa. Por que ela não me respondeu? Será que ela não quer falar da mamãe Maraisa?

Eu olho pela janelinha e as nuvens estão grandes e fofas lá fora. Eu queria saber se a Amanda também gosta de nuvens. Será que ela sente saudade de mim?

— Titia, a Amanda é como eu, né? A gente é parecida? — Fico perguntando, porque quero muito saber.

Tô com um montão de perguntas dentro da minha cabeça, e A titia Dulce me olha e dá aquele sorrisinho dela, o mesmo que ela sempre dá quando eu faço muitas perguntas.

— A Amanda é sua irmãzinha, sim. E vocês duas são muito parecidas — ela responde, apertando minha mão um pouquinho mais forte.

Eu olho de novo pra fora, pras nuvens. É que elas são tão grandonas e fofas, quase como algodão doce. Eu queria poder pegar uma nuvem e dar pra Amanda. Será que ela ia gostar? Eu não lembro muito dela, mas eu lembro que a gente brincava juntas.

— Titia... a Amanda gosta de brincar de boneca? Eu gosto! — pergunto, porque eu quero saber se a gente ainda gosta das mesmas coisas.

— Gosta sim, Nat. Ela vai adorar brincar com você — a titia Dulce responde, e eu fico feliz. Acho que vai ser muito legal brincar com ela de novo.

Mas ainda tem uma pergunta na minha cabeça que não sai. Aquela que eu fiz pra mamãe Marília no aeroporto. Por que ela não respondeu? Eu penso e penso, e decido perguntar de novo, dessa vez pra titia Dulce.

— Titia, a mamãe Marília sente falta da mamãe Maraisa? — pergunto, baixinho, com medo que seja uma pergunta que eu não devia fazer.

A titia Dulce fica quietinha por um tempinho, como se estivesse pensando. Ela olha pra mim e passa a mão no meu cabelo.

— Ah, pequena... Isso é algo que você vai entender melhor quando crescer mais um pouquinho — ela fala, meio devagar.

Mas eu já sou grande! Eu já tenho três anos e eu quero entender agora!

Eu faço uma carinha meio séria, porque eu não gosto quando dizem que vou entender "quando crescer". Eu quero entender agora, mesmo sendo pequena. Fico pensando por um tempinho, segurando o bichinho de pelúcia que trouxe comigo. Ele sempre me ajuda a pensar.

— Mas, titia, por que a mamãe Marília não fala tanto da mamãe Maraisa? — insisto, ainda curiosa.

A titia Dulce suspira, e dá aquele sorriso de novo, só que dessa vez ele parece um pouco triste.

— Às vezes, adultos não falam de algumas coisas porque pode ser difícil pra eles. Mas, não é porque ela não sente falta, Nat. Só é complicado de explicar... — ela diz, me olhando nos olhos.

Eu fico quietinha, pensando nas palavras da titia. Complicado? Como brincar de quebra-cabeça? Eu gosto de quebra-cabeça! Mas parece que, pra mamãe Marília, falar da mamãe Maraisa é mais difícil que isso.

Olho pras nuvens de novo, agora imaginando a Amanda lá com a mamãe Maraisa, brincando, talvez com o mesmo quebra-cabeça que eu.

— Titia, quando a gente chegar, você acha que a Amanda vai lembrar de mim? — pergunto baixinho, um pouquinho preocupada, apertando meu bichinho de pelúcia.

A titia Dulce me olha de novo com aquele olhar carinhoso que só ela tem.

— Claro que vai, Nat. Ela fala de você o tempo todo, sabia? — ela diz, e eu sorrio.

Eu não vejo a hora de chegar logo e ver a Amanda e a mamãe Maraisa. Só que, dentro da minha cabeça, a pergunta sobre a mamãe Marília ainda tá lá, guardadinha. Será que um dia ela vai me contar sobre a mamãe Maraisa?

Eu olho pela janelinha de novo, vendo as nuvens mudarem de forma. Agora parece que tem um aviãozinho de papel lá fora. Será que a Amanda também gosta de imaginar coisas nas nuvens? Queria muito que a gente pudesse brincar juntas, como eu e a titia Maiara sempre fazemos. Mas eu não vejo a titia Maiara há muito tempo, desde que eu era bem pequenininha, nem lembro dela direito. Será que ela vai lembrar de mim?

— Titia, a Amanda é como eu, né? A gente é parecida? — fico perguntando, porque quero muito saber.

Tô com um montão de perguntas dentro da minha cabeça, e a titia Dulce me dá um sorriso, mas eu ainda não sei se ela vai responder tudo o que eu tô pensando.

— Sim, vocês são bem parecidas. Ambas têm o mesmo cabelo e o mesmo sorriso! — diz a titia Dulce.

Isso me deixa feliz! Queria muito saber se a Amanda ainda tem o mesmo sorriso que eu lembro. Tô tão ansiosa pra ver a minha irmã!

— Titia, você acha que a mamãe Maraisa faz bolinhos gostosos? — pergunto, porque eu gosto muito de bolinho.

— Ah, com certeza, ela faz os melhores bolinhos! — a titia Dulce responde, rindo. — E ela vai adorar fazer bolinhos com você.

— Eu quero ajudar! — digo, animada. E se a gente puder fazer bolinhos juntas? Isso ia ser tão divertido! Eu vou ensinar a Amanda também.

Meu coração bate rápido só de pensar em todas as coisas legais que a gente pode fazer juntas. E se a mamãe Maraisa me der um abraço bem apertado quando me ver? Eu quero saber o cheiro dela. Será que ela é cheirosa?

— Titia, você promete que a gente vai ver a mamãe Maraisa e a Amanda logo? — pergunto, com os olhos bem grandões, tentando mostrar que eu realmente estou ansiosa.

— Prometo, minha querida. Estamos quase chegando. Você vai adorar passar tempo com elas, eu tenho certeza — responde a titia Dulce, dando uma apertadinha na minha mão.

Acho que a titia Dulce consegue ver a ansiedade nos meus olhos. Mas ainda tem a pergunta na minha cabeça.

— E a mamãe Marília? Por que ela não falou sobre a mamãe Maraisa? — minha voz sai um pouquinho mais baixinha, como se eu tivesse medo de saber a resposta.

A titia faz uma pausa, como se estivesse pensando com cuidado antes de falar.

— Às vezes, Nat, as pessoas têm sentimentos que não sabem como compartilhar. Mas isso não quer dizer que ela não se importe com a mamãe Maraisa. Pode ser que ela só esteja tentando proteger você, mesmo que isso signifique não falar.

Mas eu quero saber. Eu quero entender tudo agora. O avião começa a descer, e eu consigo ver algumas luzes piscando lá embaixo. O coração acelera de novo, mas é por causa da felicidade.

— Eu não vejo a hora de abraçar a mamãe Maraisa! — eu digo, sorrindo de orelha a orelha.

— E eu não vejo a hora de ver você feliz ao lado delas! — responde a titia Dulce.

o que uma mentira pode fazer?Onde histórias criam vida. Descubra agora