o que uma mentira pode fazer?

Trinta e quatro

Maraisa

Eu estava completamente exausta, mas a dor estava esquecida enquanto esperava, a sensação de uma nova vida começando enchia o ambiente de uma forma indescritível. O som dos médicos e enfermeiros movimentando-se ao redor de mim estava abafado, quase como se eu estivesse em um túnel, concentrada apenas na expectativa de ouvir o choro dos meus bebês.

Finalmente, o choro das meninas ecoou na sala. Era um som tão pequeno, mas tão potente, que me fez sentir uma onda de emoções que eu não sabia que poderia sentir. Fechei os olhos e deixei que as lágrimas descessem pelo meu rosto. O choro de Amanda e Natália era um som que eu esperava ansiosamente, e agora que estava aqui, tudo parecia mais real do que nunca.

Os médicos e enfermeiros se movimentaram rapidamente, realizando os procedimentos necessários enquanto eu me esforçava para permanecer consciente e conectada com a experiência. Senti uma enorme onda de alívio e amor quando as vi pela primeira vez. Eram pequenas, frágeis, mas suas carinhas redondas e seus pequenos choros me fizeram sentir uma alegria pura e inesperada.

Após o nascimento, fui levada para uma sala de recuperação. O cansaço me dominava, e a dor ainda era presente, mas havia algo reconfortante em saber que minhas filhas estavam bem. Assim que fui acomodada, Marília entrou, seus olhos procurando os meus com uma mistura de preocupação e amor. Eu sabia que o momento que estávamos prestes a viver seria crucial para o nosso relacionamento e para o futuro das meninas.

— Marília.- eu disse, tentando estender a mão para ela. — Eu... sinto muito por não ter contado antes. Eu sei que deveria ter sido honesta desde o início.

Ela sentou-se ao meu lado, um olhar de tristeza e confusão em seus olhos.

— Maraisa, eu... eu não consigo acreditar que você me escondeu algo tão importante. Eu sou a mãe das meninas e não sabia disso até o último minuto. Como você pode fazer isso?

Senti um aperto no peito ao ouvir as palavras dela.

— Eu sei que foi um erro. Eu... estava com tanto medo de como você reagiria, de como tudo mudaria. Achei que talvez fosse melhor deixar você fora disso até que tudo estivesse mais claro.

Marília suspirou, passando a mão pelo rosto, exausta e ainda processando tudo.

— Mas não era justo comigo, Maraisa. Nós construímos uma vida juntos, e esconder uma gravidez... isso muda tudo. Eu poderia ter ajudado, poderíamos ter enfrentado isso juntos desde o início.

Olhei para ela, sentindo uma mistura de culpa e tristeza.

— Eu entendo, Marília. E estou profundamente arrependida. Eu devia ter confiado em você. Mas agora, quero que saiba que estou pronta para fazer o que for preciso para que possamos lidar com isso. Eu só preciso que você esteja ao meu lado.

Marília me olhou com um misto de raiva e compaixão.

— Eu quero estar ao seu lado, Maraisa. Eu amo você e essas meninas, mas precisamos encontrar uma maneira de lidar com isso de forma mais aberta e honesta. Não podemos seguir assim, escondendo coisas uma da outra.

A conversa foi interrompida pelo som de um choro suave que emanava do berço ao lado. Eu e Marília nos viramos para olhar as meninas, que estavam sendo cuidadas pelas enfermeiras. O pequeno choro delas me fez lembrar da razão pela qual estávamos passando por tudo isso.

— Olha para elas.- eu disse, apontando para o berço. — Elas são a razão pela qual precisamos resolver isso. Elas merecem um lar cheio de amor e honestidade.

Marília assentiu lentamente, seus olhos suavizando ao olhar para as gêmeas.

— Sim, você está certa. Elas são lindas. Eu... quero tentar fazer isso dar certo. Vamos começar de novo, devagar, com calma. Não quero que o que aconteceu nos separe.