Quarenta e quatro

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Maraisa
2 anos depois
07 de agosto de 2010

Dois anos se passaram... e tanta coisa mudou. Amanda já tem três anos, e todo dia, quando ela corre pela casa com aquele sorriso, eu sinto uma mistura de alegria e saudade. Ela é uma garotinha curiosa, cheia de vida, mas sempre tem algo que a preocupa. Não passa um dia sem que ela me pergunte pela Nat e pela "mamãe Lila". "Por que a Nat está no México? Quando a mamãe vai voltar?", ela me pergunta com os olhinhos cheios de expectativa, e meu coração aperta.

Marília... faz tempo que não a vejo pessoalmente. Ela se dedicou totalmente à empresa, company's Medonça, e não é à toa que o império de cosméticos dela é um dos mais famosos agora. Eu admiro sua força, mas é difícil. A distância entre nós parece maior do que os quilômetros que nos separam. Natália está lá com ela, e, de algum jeito, conseguimos manter uma convivência que funcione para todos... mas Amanda sente falta da irmã. E, confesso, eu também.

E, no meio de tudo isso, minha vida profissional explodiu de uma maneira que eu jamais poderia ter imaginado. Maiara e eu batalhamos tanto por esse sonho, e finalmente, aconteceu. Nossa música tomou o Brasil de assalto. Ouvimos nossos nomes sendo gritados em multidões, nossos rostos estampados em capas de revistas... A correria, os shows, as viagens — é o que sempre quisemos. Mas às vezes, na quietude de um quarto de hotel, sinto falta do que deixei para trás.

Amanda dorme tranquila ao meu lado agora, depois de mais um dia cheio de perguntas sobre a irmã e a mãe. E eu fico aqui, olhando para ela, pensando no futuro... No que será de nós.

Esses momentos de solidão são os que mais doem. A fama trouxe consigo um turbilhão de emoções, mas o vazio da ausência de Marília e Natália nunca desapareceu. Sempre que estou prestes a subir ao palco, um pensamento me atravessa: "E se a Marília estivesse aqui? O que ela diria?" Muitas vezes, imagino seu olhar orgulhoso enquanto assistiria a gente brilhar. Amanda não sabe, mas eu sempre falo dela. Digo que ela é uma mulher forte, que cuida de sua empresa e da Natália, e que em breve vão nos visitar.

A vida nos palcos é cheia de euforia. A cada apresentação, sinto a energia do público e a adrenalina me invadir. É quase como uma terapia. Os gritos, os aplausos, tudo isso me faz esquecer um pouco das preocupações. Maiara e eu escrevemos músicas que falam sobre amor, dor e superação, e parece que, de alguma forma, estamos compartilhando nossas histórias com o mundo. É incrível, mas, às vezes, a solidão do backstage é ensurdecedora.

A Amanda, com seu jeito inocente, adora dançar e cantar nossas músicas. Quando a vejo imitando nossos passos, meu coração se enche de esperança. Ela não sabe, mas é a razão pela qual sigo em frente. Quero que ela tenha um futuro brilhante, que aprenda a lutar por seus sonhos, assim como eu e a Maiara fizemos.

O dia a dia é uma mistura de emoções. Acordamos cedo, enfrentamos compromissos, ensaios e gravações, mas, à noite, quando finalmente estamos em casa, o silêncio volta a se instalar. Sento no sofá com Amanda em meu colo, e, mesmo com a televisão ligada, sinto que falta algo. Uma parte de nós ainda está no México, e essa ausência é como uma sombra que nunca se vai.

Às vezes, sonhei que estava de volta ao México, visitando Marília e Natália. Em meus sonhos, Amanda e Natália brincam juntas, e nós, como mães, observamos com um sorriso no rosto. Mas, ao acordar, a realidade é bem diferente.

As noites em que tudo parece calmo, Amanda me puxa para dançar, e eu me perco em sua alegria. É nesses momentos que percebo que, mesmo com as dificuldades e as ausências, tenho que ser forte por ela e por mim. O futuro pode ser incerto, mas uma coisa é certa: vou fazer tudo o que puder para que Amanda e Natália cresçam sabendo que sempre foram amadas e que a música, nossa música, será o legado que deixaremos.

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