Kelly

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Kelly estava sentada na ponta da mesa de reuniões, os papéis espalhados à sua frente e o projetor exibindo as últimas campanhas da equipe de marketing. No entanto, ela mal conseguia prestar atenção nas apresentações. Sua mente estava longe dali, como vinha acontecendo há semanas. Os gráficos e as análises passavam despercebidos, enquanto sua raiva fervia por dentro. Fazia um mês que não recebia notícias de Natália, sua filha, e a crescente proximidade de William, seu ex-marido, com ela era um golpe que Kelly não conseguia engolir.

"Kelly, o que acha dessa proposta para a nova campanha?" perguntou um dos gerentes de marketing, tentando envolver a chefe na discussão.

Kelly piscou algumas vezes, tentando se recompor, mas sua paciência estava curta demais para manter as aparências.

- Sabe, sinceramente, eu não dou a mínima para essa campanha agora - ela explodiu, interrompendo o fluxo da reunião. - Acho que vocês podem resolver isso sem mim.

A sala ficou em silêncio, as expressões dos funcionários se entreolhando, chocados com o tom de voz afiado. Kelly nunca havia sido tão direta ou brusca antes. Mas hoje era diferente. A pressão e a raiva que ela vinha acumulando há semanas estavam explodindo em momentos inesperados.

Ela se levantou bruscamente da mesa, ignorando os olhares confusos, e saiu da sala sem mais explicações. Assim que as portas de vidro se fecharam atrás dela, Kelly deixou escapar um suspiro de frustração e raiva. **William**.
A simples menção do nome dele fazia seu sangue ferver. Ele estava se reaproximando de Natália, usando a tragédia dos avós para manipulá-la. E Caio, seu irmão misterioso, parecia permitir que isso acontecesse, sem levantar um dedo.

Kelly sentia um misto de impotência e fúria. Era inconcebível para ela que Natália tivesse assumido o controle de tudo. Ela sabia que sua filha era forte, mas a ideia de que todo o legado da família estava agora nas mãos de Natália a deixava furiosa.
**Ela** deveria estar no controle. **Ela**, que havia sacrificado tanto, que havia enfrentado a humilhação e a ruína de seu casamento, que nunca mais pôde voltar a St. Jacobs. Aquela cidade... Aquela maldita cidade.

Enquanto caminhava de volta para seu escritório, seus pensamentos voltaram para St. Jacobs. Foi ali que seu casamento com William começou a desmoronar. Cada esquina, cada rua, trazia lembranças amargas do que haviam perdido. Ela jurou, no dia em que saiu daquela cidade, que nunca mais colocaria os pés lá. Mas agora, tudo girava em torno de St. Jacobs novamente. A cidade que destruiu sua vida, e agora, estava arrastando Natália para o mesmo buraco negro.

Assim que entrou em seu escritório, Kelly bateu a porta com força. Estava sozinha, mas a raiva ainda estava ali, latejando dentro dela.

"Eu deveria ter lutado mais", ela pensava em voz alta, as palavras carregadas de ressentimento. "William arruinou tudo, e agora está tentando destruir a relação que tenho com Natália que ja não édas melhores . Ele vai manipula , fazendo-a acreditar que pode confiar nele, quando ele só quer o controle de novo."

O telefone em sua mesa tocou, interrompendo seus pensamentos. Ela hesitou antes de atender, já esperando que fosse mais uma ligação indesejada.

- O que é agora? - disse com irritação, nem se preocupando em suavizar o tom.

- Kelly? - A voz de Caio, seu irmão, soou calma do outro lado da linha, mas Kelly já sentia a raiva borbulhar ao ouvi-lo.

- Caio - ela retrucou, mordaz. - O que você quer?

- Vim te avisar que William está se aproximando cada vez mais de Natália. Ele está mexendo os pauzinhos. Achei que você gostaria de saber.

- Como se eu já não soubesse disso! - Kelly interrompeu, a raiva transbordando em cada palavra. - Ele vai manipular ela, Caio, e você não está fazendo nada! Você deveria estar protegendo Natália, mas não, você fica nas sombras, observando, como sempre faz!

Caio permaneceu em silêncio por alguns segundos. Kelly podia quase ouvir o som de sua respiração controlada, o que só a irritava ainda mais.

- E o que você sugere que eu faça, Kelly? Você mesma não consegue falar com Natália há semanas. Ela está fazendo as próprias escolhas. Você precisa aceitar isso - respondeu ele, com uma calma irritante.

- Aceitar? Eu não vou aceitar que William faça com Natália o que fez comigo! - Kelly gritou, sua voz tremendo de raiva. - Ele destruiu nossa família, Caio. Você sabe disso! E agora ele está envenenando a mente dela!

Caio suspirou do outro lado da linha.

- Talvez o problema não seja só o William, Kelly. Talvez seja o fato de que você sempre quis controlar tudo e todos. Talvez seja isso que afastou Natália de você. Pense nisso.

Aquelas palavras foram como uma faca no coração de Kelly. Ela ficou sem palavras por um momento, segurando o telefone com força enquanto processava o que acabara de ouvir.

- Você não sabe de nada, Caio - ela finalmente respondeu, com a voz mais baixa, mas carregada de amargura. - Você não sabe o que eu passei, o que eu sacrifiquei. Não se atreva a me julgar.

- Não estou te julgando, Kelly. Só estou dizendo que talvez seja hora de você parar de lutar contra tudo e todos. - Com essas palavras, Caio desligou.

Kelly ficou olhando para o telefone, seu corpo tremendo de raiva. As palavras de Caio ecoavam em sua mente, misturadas com o ressentimento que ela carregava por tanto tempo. St. Jacobs, William, Natália... Parecia que tudo e todos estavam contra ela, e a cidade que jurara nunca mais pisar parecia puxá-la de volta, mesmo contra sua vontade.

Ela se jogou na cadeira, as mãos cobrindo o rosto, tentando conter as lágrimas de frustração que ameaçavam cair. Kelly sabia que precisava fazer algo, mas o quê? A sensação de que estava perdendo o controle, que sua vida estava escapando por entre seus dedos, era insuportável.

E agora, além de tudo, St. Jacobs estava lá, como uma sombra do passado, pronta para engoli-la novamente.

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