XXIV

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Angélica deu um suspiro pesaroso.

- Num primeiro momento pensei que ele estivesse fazendo isso por mim. Ele sabia que eu tinha muito medo. Principalmente depois do que aconteceu com a minha irmã. Eu contei para ele. - ela falou, reticente.

- O que houve com a sua irmã? - perguntou, curioso.

Ela escondeu o rosto na curvatura do pescoço dele, completamente envergonhada.

- Acho que já passamos dessa fase, anjo. - o coração dela aqueceu. Ele a chamou pelo apelido que falara durante o sexo. Mas agora ele não estava sob o efeito do prazer sexual.

- Rosana se apaixonou, mas meu pai não queria o casamento. Segundo ele, Álvaro não estava dentro dos padrões de uma Tavares Bastos. Então Rosana forçou meu pai a aceitar e consentir o casamento. Ela apareceu em casa com Álvaro certo dia com um lençol manchado de sangue. Eu fiquei com medo daquilo. Para mim era algo muito selvagem. - Jorge riu entendendo. Ela deu um tapinha de leve no braço dele. - Não ria de mim, eu era muito inocente.

- Não estou rindo, anjo. - mas ele não parava de rir.

- Pare, Jorge. - falou com falsa irritação.

- Desculpa. - ele deu um beijo na cabeça dela. - Parei. - disse tentando se controlar. - Continue.

- Perguntei a minha mãe o que era aquilo, mas ela, muito envergonhada, só me disse que era algo que uma mulher faz quando se casa e Rosana desavergonhadamente fez antes de casar. Eu não entendi e pedi para que ela me explicasse mais. Mas minha mãe me mandou esquecer o assunto. Eu fiquei com aquilo na cabeça e prometi a mim mesma que jamais faria o que se faz depois que se casa. Então não queria casar de jeito algum. Disse que seria freira. Alguns anos depois meu pai me obrigou a casar com Augusto. Casei e contei a ele. Augusto me disse que não tinha problema algum.

- Ele nunca tentou nada com você? - perguntou, estupefato, quando ela terminou o breve relato.

- Não. Ele me deu um beijo, mas nada parecido com os que você me dá. - ele deu um beijo forte e rápido nos lábios dela. - Augusto não era um homem responsável. Não assumiu a fazenda. Voltava tarde para casa quase todos os dias. Sempre bêbado. Supus que ele estivesse com outras mulheres. Acreditei que ele só não consumou o casamento porque não queria a mim. Porque não sou desejável.

- Você é muito desejável, Angélica. Tanto que me enlouqueceu antes mesmo de nos casarmos. E quando veio com aquela proposta de não consumarmos logo o casamento, fiquei louco, mas aceitei porque a queria demais. - ela sorriu.

- Então eu não sei porquê ele não me quis.

- Augusto certamente era um louco. Estou morrendo de vontade de me enterrar em você novamente, mas sei que você está dolorida. Vou me contentar em te beijar. Por hora.

Então a beijou enquanto uma mão acariciava seu cabelo com carinho.

- Você teve medo de mim? - ela negou com a cabeça - Então por quê me pediu para esperar?

- Tive vergonha de você descobrir que eu era uma viúva virgem. - ele riu. - Não ria de mim.

- Desculpe, anjo. - ele beijou a pontinha do nariz dela. - Mas devo confessar que adorei ser o seu primeiro. Quase uma satisfação primitiva.

- Homens! - comentou ela.

- Mas quando você perdeu o medo do ato selvagem da consumação do casamento?

- Quando conversei com o padre Júlio.

- O quê? - ele disse, espantado. Ela não entendeu e esperou. - Você, realmente, conversou com o padre Júlio sobre isso?

- Sim. Eu não tinha coragem de conversar nem com a minha mãe, nem com a Rosana, nem com ninguém. Conversei com o padre Júlio em confissão. - ele riu.

- Angélica, você é surprendente. - disse sorrindo. - Mas me diga o que o padre Júlio te disse. Estou muito curioso. - ela bateu de novo no braço dele.

- Ele apenas me explicou que a consumação do casamento é um ato de amor. - ela sentiu que ele ficou rígido e tentou consertar. - Bem, ele disse que eu não deveria ter medo porque a natureza é perfeita. Que isso acontece desde que o mundo é mundo. Antes de nos casarmos, ele me disse que você seria bom pra mim. Seria atencioso na hora do... bem, você sabe.

- Que bom que o padre Júlio tem fé em mim. - ele tentou brincar, mas seu semblante estava sério.

Jorge não sabia o que lhe dizer. Ele não sabia ao certo o que sentia. Então sem poder expressar mais nada e com pensamentos agitados, ele colocou a mão na sua nuca e apossou de sua boca como se fosse seu dono. Beijou-a não só com sua boca, mas com seu coração e sua alma. Apesar de sua inocência tinha o suspendido, pois era sensual e apaixonada. Abraçou-a e a viu adormecer em seus braços. Ele pegou um cobertor na cesta que levou e os envolveu. Jorge pensou em Joana. Amava-a demais. Casou-se por amor. Os dois se amavam muito. Quando ela morreu foi quase a morte pra ele também. Ele passou muito tempo morto em vida. Não gostava mais de si. Procurou outras mulheres para se aliviar, mas era algo momentâneo. Depois do sexo estava mais vazio que antes. Diferente de agora. Sentia-se preenchido por Angélica. Não a queria longe como nas vezes que fazia sexo com outras mulheres. Queria-a perto. Queria amá-la. Mas não sabia se conseguiria. Não por ela. O problema era ele. Ela era um verdadeiro anjo. Com um coração lindo e gentil. Não a amava, mas viveria por ela e para ela. Teriam filhos e seriam uma família feliz.

Era uma vez... A viúva virgemOnde histórias criam vida. Descubra agora