XXXVIII

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O médico entregou o bebê a Dolores.

- O que está acontecendo, doutor? - Jorge perguntou em desespero.

Ele não respondeu. Angélica estava sangrando muito. Panos e mais panos encharcados de sangue. Então Jorge entendeu. Sua esposa o estava deixando.

- Não me deixe, meu amor. - ele falava e chorava ao mesmo tempo. Chorava muito. Chorava alto.

Jorge beijava a face da esposa e falava em meio ao choro, em meio aos soluços.

- Você é a minha vida, anjo. Por favor, não me deixe.

Ele segurou a mão da esposa com mais firmeza. Depois de vários minutos que pareceram horas, implorando para que não o deixasse, o médico deu um longo suspiro. Jorge tirou o olhar da esposa e encarou o médico. Ele estava coberto de sangue. Sangue da sua esposa.

- O que eu podia fazer, fiz. - parecia uma sentença de morte.

- Ela vai acordar não vai? - perguntou com a voz esperançosa.

- Reze pra isso, filho. - o médico falou num tom amargo. Nem ele tinha esperança.

Adelina apareceu e enquanto retirava com cuidado a roupa de cama suja, Jorge percebeu que ela fungava. Seu rosto estava banhado de lágrimas. A nova roupa de cama era branca. Angélica estava usando uma camisola branca. A roupa suja de sangue havia sido retirada. Sua mulher estava linda e parecida ainda mais com um anjo.

- Não a tire de mim, Deus. - a voz de Jorge é desolada. - Por favor.

Adelina saiu quase aos prantos. Dolores entrou com um pacotinho nos braços. Jorge chorou. Quantas noites os dois passaram na cama com Angélica falando sobre o filho deles. Sonhando com ele. Agora ele estava ali diante dos seus olhos e ela não o estava vendo.

- É um menino, Jorge. - Dolores falou emocionada.

Ele deu um sorriso triste, mas não conseguiu sair de perto da esposa para ver o filho.

- Ele é lindo. - ela continuou falando. - Você quer vê-lo? - ele assentiu, mas não se levantou. Então Dolores se aproximou e sentou na cama ao lado deles. - Veja, parece com você.

Quando seu filho fez o sonzinho tão característico de um bebê, ele sorriu, então o menino abriu os olhos e encarou diretamente o pai.

- Tem os olhos de Angélica. - falou, emocionado.

- Verdade.

- Coloque-o do lado dela. Angélica precisa senti-lo.

Dolores fez o que ele pediu. O bebê bocejou fazendo Jorge sorrir novamente.

- É a sua mamãe, filho. Ela te ama demais. - enquanto falava, lágrimas escorriam. - Diga a ela que nós precisamos dela. Diga a ela para não nos deixar. - ele agora chora alto. - Deus, não a tire de nós.

- Acalme-se, meu querido. - Disse Dolores também já chorando.

Jorge olhou para a empregada que ajudou a mãe a cuidar dele e de Isabel. A pessoa que estava na família há tanto tempo. A mulher que o conhecia desde que usava fraldas. A mulher que o conhecia tão bem.

Era uma vez... A viúva virgemOnde histórias criam vida. Descubra agora