XXVII

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- Dê-me isso, Jorge. - ela repetiu.

- Acalme-se, querida Paola. Eu nem li pra você ainda. - ela esperou, impaciente e irritada. - A cidade de Salvador ficou chocada com o crime. - ele começou a ler.- Prostituta mata estudante de direito e rouba todo o seu dinheiro. As fontes afirmam que eram amantes. A mulher, Paulina Freitas, está foragida da lei. Quem tiver informações será muito bem pago. A família do estudante está oferencendo uma recompensa bastante considerável. - ele parou de ler e a encarou. - Devo dizer que prefiro o nome Paola à Paulina. O que será que as autoridades paulistas podem fazer com essa informação?

- Por favor, Jorge. Eu refiz a minha vida.

- E eu acredito em você. Soube que o rapaz que você marcou não valia nada tanto quanto você. Mas se você voltar a incomodar a minha esposa, pode ter certeza que você será presa, Paulina Freitas. Agora eu vou perguntar novamente: você está grávida?

- Não. Eu menti para importunar você e sua querida esposa.

- Ótimo. - ele se levantou. - Não mexa com a minha mulher, Paola, ou eu acabo com você. - ameaçou. - Esse é meu último aviso. - ele se dirigiu para a porta.- Deve ser triste conhecer a vida boa e acabar terminando numa prisão suja e infestada por ratos.

Ela não disse mais nada. Jorge saiu da casa dela com a certeza que ela nunca mais incomodaria a sua esposa.

- Senhor Jorge? - ele ouviu um chamado sussurrado atrás da árvore do jardim quando se encaminhava para o portão. Jorge se aproximou e reconheceu a empregada da casa de Paola.

- Sim?

- A dona Paola está mentido. Ela não está grávida. Inclusive as regras dela desceram hoje.

Jorge achou aquilo estranho.

- E por que você está me contando isso? Ela não é sua patroa? Pensei que gostasse dela.

- Eu gosto da dona Paola, mas desde que ela soube que o senhor se casaria, parece que enlouqueceu. Vive tentando de tudo para ficar com o senhor. Mas eu não posso permitir que ela faça mal a dona Angélica.

- Você conhece a minha mulher? - espantou-se.

- Sim. Ela é uma senhora muito boa. A dona Angélica me ajudou quando meu filho nasceu com problemas. Ela me viu na igreja chorando e me perguntou o que havia acontecido. - a mulher fungou e enxugou o nariz. Seus olhos escuros brilhavam em lágrimas. - Eu sou uma mulher negra, senhor Jorge. Pessoas como a dona Angélica não me olham e se olham, torcem o nariz.

Jorge assentiu. Sabia nem que aquilo era verdade. Alguns, inclusive, ainda acreditavam viver no regime escravocrata.

- Eu contei pra dona Angélica e, então, ela pagou o médico e as despesas do hospital. Não adiantou. O pobrezinho morreu. Mas nunca vou esquecer o que ela fez por mim sem nem me conhecer. Não posso permitir que a dona Paola faça a dona Angélica sofrer por causa de capricho.

- Entendo e agradeço a sua honestidade. - falou, verdadeiramente.

- Não tem que agradecer não, A dona Angélica merece toda a felicidade do mundo. - ele assentiu.

- Se algum dia você precisar de qualquer coisa, pode me procurar na fazenda.

- Obrigada, senhor Jorge.

Era uma vez... A viúva virgemOnde histórias criam vida. Descubra agora