O dossiê

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Mais um mês se passou.

Era início do expediente quando Fernando me é anunciado.

- Bom dia senhor Rodolffo.

- Bom dia. Aguardava ansioso pela sua visita. O quê me traz aí?

- A podridão da vida desse Maurício. Comece pelas fotos.

Comecei vendo um book de fotos e elas me causavam enjôo.

- Como que beija outro barbado dese jeito? Eu não sou homofóbico, mas não dá. - disse balançando a cabeça.

Das poucas fotos que tinha com Juliette, quase todas eles andavam de mãos dadas.

- São vários parceiros?

- Ele é garoto de programa nas horas vagas.

- Não é possível. Isso é sério?

- Seríssimo.

- Só de homens?

- Geralmente.

- Meu Deus do céu e a namorada?

- Aparentemente só se encontram aos domingos e ela serve como um tapa buraco para camuflar a tendência homossexual.

- Mas eles não dormem juntos?

- As vezes ela vai no apartamento dele e fica lá por um bom tempo, mas não vejo ela ficar para dormir. Mas acredito que por ela ainda morar com o pai, talvez não queira dormir com ele.

- Que cara sórdido.

- O quê vai te surpreender é isso aqui. - Fernando me mostra um vídeo e eu não consigo nem assistir.

- Na minha empresa?

- Tem aqui o motivo da justa causa.

- Estou chocado.

- O quê pretende fazer?

- Vou tomar providências sérias. Muito obrigado Fernando.

- Disponha.

Fernando e eu saímos da sala. Fui pessoalmente falar com o gerente do RH e exigir a demissão imediata do Maurício.

Depois fui até a recepção do departamento de Juliette e a procurei.

- Bom dia senhor. A Juliette foi até a sala do Maurício, mas volta já. - respondeu Cecília.

- Por favor diga a ela que me procure imediatamente na minha sala. Tenho que conversar com ela.

- Tudo bem senhor.

...

Na sala de Maurício.

- Acabou Maurício. Até que eu tentei, mas não tem futuro.

- Juzinha não diga isso.

- Eu quero mais. Eu preciso de mais. Você não está para mim como eu gostaria.

- Mas eu te amo.

- Mas eu não amo você. Inclusive não sou nem apaixonada. Eu tentei. Foi válido. O namoro mais duradouro da minha vida e eu cogitei que poderia dá grandes passos ao seu lado, porém nossas estradas são diferentes.

- Minha mãe vai ficar arrasada.

- Acredito que só ela ficará. Adeus Maurício.

Juliette saiu batendo a porta e logo estava de volta a sua recepção.

- O senhor Rodolffo quer falar com você em particular na sala dele.

- Quando?

- Ele disse que assim que você voltasse.

Juliette sentiu o coração acelerar.

- Juliette que cara é essa?

- Não é nada.

- E você está esperando o quê para ir? Tem medo que ele te coma?

- Cecília... Que conversa é essa?

- Se você pedir eu acho que ele faz...

- Mulher deixa disso. Eu sempre fico nervosa perto dele.

- Medrosa... - Cecília disse rindo e Juliette caminhou em direção ao elevador.

...

Escritório de Rodolffo.

Escutei batidas na porta e fiz questão de abrir a porta.

- Juliette... Entra por favor.

Ela entrou e eu a convidei a sentar.

- O senhor pediu que eu vinhesse?

- Pedi. Mas retire o senhor, por favor.

- Eu não consigo. Me desculpa.

- Tudo bem. Juliette você ainda namora o Maurício?

- Acabei de terminar.

Fiquei surpreso.

- Terminou?

- Não tinha futuro. Eu vi isso. Ele não é quem eu pensei que seria.

- Estou demitindo ele hoje por práticas sexuais dentro da minha empresa.

Juliette arregalou os olhos.

- Mas...

- Obviamente não é contigo. Mas com outro funcionário.

- Funcionário?

- Juliette o Maurício não presta e eu andei investigando a vida dele. Não tem como vocês serem um casal. Maurício é gay dentro do armário. Você quer ver o vídeo? As fotos?

- Deus me livre. Não quero ver nada. Misericórdia. Que loucura. Nem sei o quê dizer...

- Ao mesmo tempo que tenho uma péssima notícia tenho uma proposta.

- Proposta?

- Preciso de uma secretária eficiente ao meu lado. Acha que consegue me ajudar?

- O senhor já me ajudou tanto, mas...

- Mas...

Juliette ficou pensativa.

- Eu estou estudando no momento.

- Isso não é um impedimento.

- Então eu... Eu... - ela me olhou uma vez mais. - Eu aceito.

- Pode começar hoje mesmo.

- Hoje?

- Sim. Precisamente agora.

- Mas as minhas estão lá na recepção...

- Quer ajuda para ir buscá-las?

- Não. Eu vou sozinha.

Ela fez saída. Eu não resisti e fui junto.

- Não precisa se preocupar. Eu não preciso de ajuda. - ela disse tentando me impedir de pegar o elevador com ela.

- Com licença senhorita. Eu faço questão.

Quando as portas do elevador se fecharam, Juliette se pôs a chorar. Um choro forte e sentido.

- Por que ele fez isso comigo? Por quê?

- Não fique assim.

- Eu tenho nojo de mim mesma.

Eu a abracei, ao mesmo tempo que parei o elevador.

...

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