Noah Wordsen

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Ana apareceu no restaurante com uma revista na mão, jogando-a no balcão com desdém.

— "10 sinais de que você está em uma comédia romântica" — ela repetiu o título com um suspiro exasperado. — Não acredito que alguém gasta tempo escrevendo essas coisas idiotas. Olha isso: 1. O primeiro encontro desastroso; 2. Inimizade inicial... Quem quer isso pra vida?

Eu olhei para a revista e ri de leve, com um toque de nostalgia.

— Ah, faz parte do imaginário coletivo, né? Acho que todo mundo, no fundo, quer algo bonito acontecendo na vida, mesmo que seja bobo.

Ana balançou a cabeça, desacreditada.

— Bonito? Isso é coisa de filme, Alex. Ninguém deveria querer viver uma comédia romântica. A vida é mais complexa que isso.

— Talvez seja por isso que as pessoas gostam. É mais fácil acreditar nessas histórias do que enfrentar a realidade — dei de ombros, sem querer prolongar o debate.

Ela revirou os olhos, já perdendo o interesse, quando de repente, cutucou meu braço, apontando para a entrada do restaurante.

— Tá vendo aqueles caras ali? — ela sussurrou.

Segui seu olhar e vi dois caras entrando. Eles caminhavam como se estivessem em um desfile, as roupas caras e impecáveis, e uma confiança quase arrogante exalando deles. Um deles, mais alto, com cabelo castanho claro e olhos de um azul profundo, chamava atenção de todos ao redor. Havia algo magnético nele, quase como se o ar ao redor fosse seu por direito. Ao lado, o loiro, mais baixo, ria de algo, claramente descontraído.

— Ouvi dizer que aquele mais alto é Noah Wordsen — Ana murmurou. — Dizem que ele é de uma família de figurões de Hollywood.

Eu revirei os olhos.

— Mais um filhinho de papai, ótimo — murmurei, tentando não me deixar levar pelo entusiasmo dela. Mas, era difícil não notar a forma como Noah dominava o espaço ao redor. Ele era... perturbadoramente magnético.

— Alex, faz semanas que você está aqui e ainda não ficou com ninguém. Não tem como ninguém ter chamado sua atenção? — Ana provocou, empurrando meu ombro com um sorriso travesso, claramente mirando em Patrício do outro lado do salão.

— Eu não vim aqui pra isso, Ana. — Suspirei, tentando ser firme. — Tenho que focar no meu objetivo.

Ela deu de ombros, ainda sorrindo.

Noah e seu grupo de amigos se acomodaram em uma mesa com vista privilegiada no restaurante. Fui designado para atendê-los, embora minha vontade fosse de me afastar o máximo possível. Peguei o bloco de notas e me aproximei da mesa, já preparando minha paciência.

Assim que cheguei, Noah me lançou um olhar de cima a baixo, com a mesma expressão que alguém teria ao avaliar um objeto em uma prateleira. Aquele olhar frio e desdenhoso me irritou instantaneamente. Eu já estava cansado, e agora teria que lidar com esse playboy metido a besta?

— Boa noite. Posso anotar os pedidos? — Perguntei, tentando manter minha voz calma e profissional.

Noah, sem levantar os olhos do celular, respondeu com um tom preguiçoso.

— Vou querer uma salada com o molho à parte, o filé malpassado e uma água com gás.

Anotei rapidamente, mordendo a língua para não responder de forma sarcástica. Me virei e fui direto para a cozinha. Por que diabos alguém tão cheio de si tinha que agir como se todo mundo fosse seu criado pessoal? Ele era um cliente, claro, mas não precisava ser um idiota completo.

Quando voltei com os pratos, coloquei a salada e o filé na frente de Noah, seguido da água com gás. No entanto, assim que olhou para a salada, sua expressão de desagrado foi imediata.

— Eu pedi o molho à parte — disse ele, com uma frieza que me deu vontade de atirar a salada na cara dele. — Isso está errado.

Respirei fundo, tentando manter a calma.

— Desculpe, senhor. Vou buscar outra salada para o senhor.

Enquanto me afastava, ouvi Noah comentar em voz baixa, mas o suficiente para que eu escutasse:

— Será que ele sequer entendeu o que eu pedi?

A raiva subiu pela minha garganta. Esse cara achava que era quem? Um príncipe? Respirei fundo e me virei para ele, decidindo que não ia deixar passar dessa vez.

— Eu entendi, sim. Foi um erro da cozinha, mas vou corrigir isso imediatamente — minha voz saiu mais dura do que o usual, mas eu não podia me conter. Ele me olhou surpreso, como se não esperasse que alguém o enfrentasse.

Houve um momento de tensão no ar. Seus olhos se fixaram nos meus, e por um instante, eu vi algo mudar em sua expressão. Talvez estivesse surpreso por alguém não se dobrar diante dele. Mas não me importava. Não ia deixar esse riquinho metido me desrespeitar sem fazer nada.

Voltei à cozinha e pedi uma nova salada, com o molho à parte dessa vez. Quando retornei, coloquei o prato à sua frente e, mais uma vez, Noah me olhou com aquela frieza irritante. Mas agora, havia um lampejo de algo diferente. Curiosidade, talvez? Ou só mais desprezo?

Após alguns segundos de silêncio, ele finalmente murmurou:

— Obrigado.

O tom era seco, distante, mas eu já tinha passado do ponto de me importar. Tudo nele me irritava. O jeito como ele andava, falava, olhava... Era como se estivesse acostumado a sempre ter o que queria, sem precisar mover um dedo.

Eu me afastei da mesa, tentando não deixar minha irritação transparecer mais do que já tinha. Mas era impossível ignorar a tensão crescente entre nós. Não sabia o que ele queria, mas algo me dizia que essa não seria nossa última interação desagradável.

Que idiota. Filho de papai, riquinho, metido a besta. Como alguém assim pode achar que tem o direito de tratar os outros desse jeito?

O Idiota Americano - 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora