Extremo

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Nos primeiros dias, eu me orgulhava de ter conseguido manter o foco no trabalho. Fiz uma promessa a mim mesmo de juntar o máximo de dinheiro no primeiro mês, e isso significava aceitar todo turno extra que aparecia. Mas agora, eu começava a questionar se não estava exagerando. O intercâmbio estava me sugando mais do que eu previa. O frio, a neve, os clientes... tudo começava a pesar, e era como se o cansaço estivesse grudado em cada fibra do meu corpo.

No fim do meu turno de esqui, eu já sentia as pernas pesadas, e cada respiração parecia se tornar um esforço. No restaurante, a situação não melhorou: a cada pedido, a cada sorriso forçado, sentia minha paciência se esgotando mais um pouco. Às vezes, me pegava perguntando se realmente valia a pena me desgastar tanto.

Enquanto anotava mais um pedido, Ana apareceu, me dando um leve empurrão no ombro, com um sorriso malicioso no rosto.

— Alex, você errou três pedidos hoje. — Ela tentou brincar, mas seu tom tinha uma ponta de preocupação. — Você nunca fazia isso, nem no começo. Tá exausto, precisa parar de fingir que consegue seguir nesse ritmo.

Eu suspirei, sem encontrar palavras para responder. Ela tinha razão, mas parar? Não fazia parte dos meus planos. Eu tinha um objetivo, e toda vez que relaxava, era como se eu estivesse me afastando dele.

— É só o cansaço normal do trabalho — falei, tentando soar confiante, mas minha voz não carregava a mesma certeza de antes.

Patrício, que passava pelo corredor, escutou nossa conversa e parou ao meu lado, cruzando os braços.

— Cansaço normal? — Ele balançou a cabeça, divertido, mas o olhar era sério. — Você tá se matando de trabalhar, cara. Se continuar assim, vai acabar se esgotando. Uma noite de descanso não vai te impedir de alcançar o que você quer.

— É isso, Alex. Precisa de uma folga! — Ana concordou, me dando um tapinha no ombro. — Vamos sair daqui alguns dias, vai ter uma festa dos J1. Uma noite de diversão vai fazer bem pra você.

Eu sabia que eles estavam certos, mas alguma coisa dentro de mim ainda hesitava. Meus objetivos eram claros, e qualquer distração parecia ameaçá-los. Mas, ao mesmo tempo, o cansaço físico e mental estava cobrando seu preço. Me perguntava se realmente estava sendo teimoso demais.

— Talvez vocês tenham razão... — admiti com relutância, mas sem muito entusiasmo. — Só não sei se consigo me desligar. Tenho um prazo, um plano...

Patrício riu, balançando a cabeça.

— Cara, todos nós temos metas e prazos. Não somos robôs. Você acha que vamos relaxar a vida inteira? — Ele piscou. — Um descanso não vai destruir sua vida.

Ana sorriu com compreensão.

— Olha, eu sei que esse intercâmbio é importante, Alex. Mas o intercâmbio não é só trabalho. Lembra que é uma experiência para aprender, para viver coisas novas. Não faça dela só um fardo.

Seus olhos encontraram os meus, e eu me dei conta de que ela estava certa. Meu plano e objetivos eram uma parte importante, mas talvez eu estivesse me fechando tanto neles que estava deixando passar a própria experiência de estar ali. O restaurante estava praticamente vazio agora, e as luzes de fora refletiam no piso de madeira enquanto as mesas ainda tinham alguns vestígios do jantar.

O lugar finalmente estava em silêncio, uma calmaria depois de tanta correria. A neve caía lá fora, cobrindo a entrada do resort e algumas árvores, que brilhavam sob a luz amarela dos postes. Eu sabia que aquilo deveria ser suficiente para me lembrar que esse momento também fazia parte de tudo. Suspirei, e a calma do ambiente começou a acalmar meus pensamentos, ainda que de forma sutil.

— Ok, vocês venceram — cedi, soltando um suspiro. — Acho que uma noite de diversão não vai me matar.

Ana e Patrício trocaram sorrisos vitoriosos, claramente satisfeitos. Ana, sempre animada, logo sugeriu:

— Perfeito! Vamos garantir que você realmente se divirta, Alex. E eu quero ver você dançar!

Patrício riu e deu um leve empurrão no meu ombro.

— E nem precisa beber se não quiser, mas eu não ficaria só no refrigerante se fosse você.

Eu sorri, sentindo uma pequena parcela de alívio.


O Idiota Americano - 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora