— E aí, galera! Bem-vindos ao inverno de verdade! — Patrício brincou, me cumprimentando com um sorriso fácil. — A primeira vez que você sente esse frio é inesquecível, né?
Eu ri, apesar de não estar totalmente no clima para piadas. O frio era tão intenso que parecia rasgar minha pele. Ainda estava tentando me adaptar à mudança brusca de temperatura. Não parecia algo que meu corpo carioca estivesse preparado para lidar.
Depois de uns 40 minutos de espera no frio do aeroporto, Patrício finalmente apareceu, vestindo um casaco grosso e um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Ele encontrou comigo e Ana, explicando que precisávamos esperar mais uma pessoa antes de irmos para o housing.
— Vou buscar mais uma menina. A última pessoa do grupo — ele disse, balançando a cabeça como se isso já fosse rotina para ele.
Caminhamos por alguns minutos até que avistamos Stefani, uma menina baixinha com um rosto simpático, enrolada em um cachecol enorme e parecendo completamente perdida no meio do aeroporto.
— Ah, finalmente vocês chegaram! — ela exclamou, claramente aliviada ao nos ver. — Pensei que teria que me virar sozinha nesse frio insuportável!
Ana e Stefani desceram do carro com expressões bem diferentes. Ana parecia animada, seus olhos brilhando enquanto observava tudo ao redor com curiosidade. Já Stefani... bom, Stefani não parava de reclamar desde que saímos do aeroporto.
— Isso é um absurdo, eu não sabia que seria tão frio assim! — Stefani bufou, puxando o casaco com força, como se quisesse se esconder dentro dele para fugir do vento gelado.
Patrício, claramente acostumado com reações como essa, apenas sorriu e começou a nos guiar para o carro.
— Relaxa, Stefani. Daqui a pouco você se acostuma. — Ele disse, pegando nossas malas com facilidade. — O housing não é grande coisa, mas pelo menos tem aquecimento.
Ana, que já havia se tornado minha amiga no aeroporto, deu um leve empurrão em Stefani, tentando animá-la.
— Ei, vamos sobreviver. Você vai ver, vai ser uma aventura.
Eu me segurei para não rir. Ana parecia conseguir encontrar uma forma de aliviar as situações. Já Stefani parecia que estava prestes a pegar o próximo voo de volta.
Minha cabeça estava ocupada com preocupações sobre o que viria a seguir: o housing, o trabalho, o dinheiro que eu precisava economizar... Havia tanto para pensar. A frase da minha avó ecoava na minha mente, como sempre fazia nos momentos de dúvida: "Devemos ir atrás de nossas oportunidades, pois na vida já existem dificuldades demais para ficarmos com medo de tentar."
Quando o carro estava finalmente carregado com nossas malas, Patrício começou a falar sobre o que esperar do housing.
— Olha, vocês deram sorte dessa vez. Na minha primeira experiência, dividi o quarto com cinco caras, e a casa era um caos total. Agora são só cinco pessoas na casa, dois quartos e um banheiro. Não é a maior coisa do mundo, mas vocês vão sobreviver.
— Só um banheiro? — Stefani perguntou, incrédula, com aquele tom que parecia anunciar mais reclamações por vir.
Eu e Ana trocamos olhares, tentando segurar o riso.
— Relaxa, Stefani. Pelo menos não é como a casa dos outros J1s, onde tem o dobro de gente. — Patrício deu de ombros. — Vocês vão gostar. É simples, mas funcional.
Enquanto dirigíamos até o housing, o nervosismo que eu sentia ao chegar começou a dar lugar a uma leve empolgação. Talvez fosse o tom descontraído de Patrício, ou o fato de estar começando algo novo, mas a sensação de estar fora de lugar começou a se dissipar.
Eu não pude evitar uma anotação mental sobre como Patrício era bonitinho. Ele tinha aquele jeito meio tranquilo, mas com uma simpatia natural que facilitava tudo. Mesmo enquanto tentava organizar a chegada de todos, ele ainda conseguia ser levemente engraçado. Ele definitivamente sabia como quebrar o gelo (literalmente e figurativamente).
Quando finalmente chegamos, Patrício abriu a porta da casa como se fosse o dono do lugar, um sorriso largo no rosto.
— Bem-vindos ao lar temporário! — ele anunciou com orgulho. — Não é muito, mas é nosso.
A casa era simples, com dois quartos, uma pequena sala, uma cozinha básica e o tal banheiro que Patrício mencionou. Não era luxuosa, mas definitivamente era melhor do que eu esperava. E, honestamente, o fato de não precisarmos dividir o quarto com mais gente do que cabe já era uma vitória.
Escolhi uma cama ao lado da janela e comecei a arrumar minhas coisas. Patrício já tinha ocupado a cama oposta e estava todo instalado, suas malas organizadas de maneira quase metódica, como se ele já tivesse feito isso muitas vezes.
Ana, por outro lado, parecia desapontada, mas eu sabia que o problema não era o housing em si. Ela olhava para Stefani, que não parava de reclamar, agora sobre a falta de água quente.
— Como alguém sobrevive sem um chuveiro decente nesse frio? — Stefani resmungou pela terceira vez desde que chegamos, olhando para a pequena cabine do chuveiro como se fosse uma tortura medieval.
Eu revirei os olhos para Ana, que balançou a cabeça, rindo discretamente. Era aquele riso que todo mundo faz quando está prestes a explodir.
— Você se inscreveu para um intercâmbio em um resort de inverno, Stefani. O que você esperava? Praia e sol? — Ana respondeu, já sem a mínima paciência.
— Eu esperava que o chuveiro fosse decente, no mínimo! — Stefani retrucou, cruzando os braços, claramente irritada.
Patrício, que parecia achar toda aquela situação hilária, riu.
— Eu disse que a água demora um pouco a esquentar, mas tem água quente sim. E além disso, você vai sobreviver, Stefani. Prometo.
Acho que a convivência vai ser um desafio. Não é à toa que reality shows adoram jogar um monte de gente desconhecida numa casa e ver no que dá. Bem, parece que agora estávamos vivendo nosso próprio experimento social, só que sem as câmeras espalhadas por todo canto... ou será que estavam?
Me joguei na cama, soltando um suspiro. Apesar de todas as reclamações, havia uma sensação estranha de pertencimento começando a surgir. Não era o lugar ideal, mas era o nosso começo. E talvez, com o tempo, tudo começasse a fazer mais sentido.
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O Idiota Americano - 1 (Em revisão)
RomanceO que acontece quando duas pessoas de mundos opostos se encontram em um lugar inesperado? Alexandre, um jovem brasileiro de 22 anos, vai para os EUA em um intercâmbio Work and Travel, determinado a juntar dinheiro para sua pós-graduação em cinema...