Depois de toda a correria da viagem e da chegada ao housing, finalmente me joguei na cama, olhando para o teto e tentando relaxar. O silêncio que se instalou na casa era quase reconfortante, mas minha mente ainda estava a mil. Cada vez que eu fechava os olhos, sentia o peso da viagem me puxando para um cochilo, mas algo ainda me deixava alerta, pensando no que viria a seguir.
Foi então que ouvi uma voz masculina, suave e com um sotaque familiar, mesclado com algo que reconheci de imediato.
— Hey, bienvenido! — disse a voz, me tirando dos meus devaneios.
Abri os olhos e me levantei da cama de repente, meio sem jeito. Me virei e vi Diego, um cara de altura média, moreno, com um sorriso fácil e acolhedor. Ele estava parado ao lado da cama dele, que ficava no canto do quarto, meio que perpendicular à cama de Patrício e à minha.
— Hey, obrigado — respondi, ainda meio tímido com a intromissão inesperada, mas tentando soar casual.
— Tranquilo, hermano. — Diego sorriu e deu de ombros, jogando a mochila que segurava no chão. — Você chegou hoje, né?
— Cheguei agora há pouco — confirmei, ainda me ajustando à nova companhia. — E você, tá aqui há quanto tempo?
— Já tem uns dias — Diego respondeu com um sorriso despreocupado. — Cheguei antes da maioria. Agora já estou mais ou menos acostumado com esse frio doido.
Eu sorri, começando a me soltar.
— De onde você veio? — perguntei.
— Buenos Aires, Argentina. — Diego disse, e dava para ver o orgulho estampado no rosto dele.
— Sempre quis visitar Buenos Aires — falei, com um brilho no olhar. — Parece um lugar incrível. Nunca fui, mas tá na minha lista.
Diego riu e fez um gesto com as mãos.
— Claro que você tem que ir, hermano! Buenos Aires es... como se diz... incrível! Tem muita cultura, a comida é ótima, e a galera é bem animada. — Ele piscou, brincalhão. — Mas te aviso, prepara-se para comer muita carne, porque... mano, você vai precisar de espaço no estômago.
Ri junto, já começando a me sentir mais à vontade com ele.
— Vou me preparar psicologicamente — respondi, entrando na onda.
Havia algo intrigante em Diego. Ele misturava espanhol com português de um jeito que me fazia sorrir. A facilidade com que ele passava de um idioma para outro, e a boa pronúncia do português, me deixava curioso.
— Você fala bem português — comentei, levantando uma sobrancelha. — Como que você aprendeu?
Ou é esse portunhol que faz tudo parecer natural?
Diego riu, inclinando a cabeça.
— Ah, eu vou muito pro Brasil. Minha tia se casou com um brasieliro e passou a morar em Porto Alegre, sabe? Então... sempre que posso, eu tô lá. Bueno, na real, falo bastante portugues quando estou no Brasil. Minha tia é meio louca, sempre nos chamava para visitar. Com o tempo, acabei pegando o jeito, aunque... ainda misturo as palavras.
— Porto Alegre? Que legal. Nunca fui pro sul, mas dizem que é bem diferente do Rio — comentei.
— Sim, muito diferente. É um lugar bonito. Você vai gostar — ele piscou, rindo. — Talvez eu te leve lá um dia.
Percebi que Diego tinha esse jeito leve, fácil de lidar. Apesar do portunhol, a conversa fluía, e eu percebi que, em questão de minutos, já estava mais à vontade com ele do que esperava.
— E o que tá achando do lugar até agora? — Diego perguntou, puxando uma cadeira e se sentando de forma casual, claramente pronto para conversar por mais tempo.
— Tá... diferente, né? — respondi, rindo. — Ainda tô me acostumando com o frio. Mas parece que vai ser uma experiência interessante.
Diego assentiu, concordando.
— É, o frio daqui é de outro nível. No começo, parece que o corpo nunca vai esquentar, pero... depois de uns dias, você vai ver que se acostuma. — Ele falou com uma seriedade fingida que me fez rir ainda mais.
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O Idiota Americano - 1 (Em revisão)
RomanceO que acontece quando duas pessoas de mundos opostos se encontram em um lugar inesperado? Alexandre, um jovem brasileiro de 22 anos, vai para os EUA em um intercâmbio Work and Travel, determinado a juntar dinheiro para sua pós-graduação em cinema...