Assim que Noah saiu do bar, fiquei ali por alguns segundos, tentando entender o que acabara de acontecer. Noah... estava vulnerável? Ainda era difícil ligar o cara arrogante que eu conhecia àquele que acabara de confessar suas inseguranças. Mexi nos copos distraidamente, tentando me desligar do assunto, mas o que ele disse continuava ecoando.
Foi então que ouvi uma voz familiar me tirando do transe:
— Que sorriso bobo é esse, Alex? Parece que acabou de ganhar na loteria. — Me virei e vi Ana encostada no balcão, um sorriso travesso iluminando o rosto. Ela sempre surgia com aquela energia animada, pronta para me provocar em qualquer momento.
Fiz cara de desinteressado, mas sabia que não escaparia do interrogatório.
— Não é nada — desconversei, voltando a mexer nos copos.
Ana não se deu por vencida e se aproximou ainda mais, com um olhar de pura curiosidade. — Nada? Ah, tá. Eu vi vocês dois conversando. Então, o que o galã queria?
Revirei os olhos, sabendo que ela não desistiria. Ana tinha esse talento nato para tirar qualquer informação.
— Nada de mais... Ele estava com uns problemas e resolveu desabafar — comecei, meio relutante, mas já entregando a informação, enquanto fingia arrumar algumas garrafas no balcão.
— Problemas? Que problemas uma pessoa como ele teria? O tipo tem tudo, até aquele cabelo loiro que dá até raiva. — Ela fez uma careta, mas não deixou de observar, interessada.
Ri, balançando a cabeça. O pior é que eu até concordava com ela. O cabelo dele realmente era... bom, aquele tipo perfeito que dava raiva. Eu ri da comparação absurda, antes de responder.
— Olha, parece que o estúdio da família está numa situação difícil, e ele quer apostar em um projeto novo, mas o pai dele tem medo de arriscar e não quer dar uma chance. Então ele veio... sei lá, pra desabafar sobre o pai dele.
Ana soltou uma risada incrédula e revirou os olhos como só ela sabia fazer.
— Essas pessoas de Hollywood! Sempre a mesma coisa: poder, fama, sucesso... Sabe o que eu acho? Bando de gente mimada. — Ela deu de ombros, claramente convencida de que estava certa.
Mas algo na resposta dela me fez parar e refletir. Até concordava em partes, mas a conversa com Noah me fez perceber que essa era uma visão superficial. Eu também passava parte do tempo pensando nos projetos que queria realizar e nos roteiros que estavam apenas na minha cabeça, esperando para serem concretizados. Será que eu também era mimado, só que numa escala bem mais econômica?
Olhei para Ana, com um pensamento que precisava compartilhar.
— Olha, eu sei que parece isso, mas o cinema é a arte mais antiga de todas, contar histórias. — Enquanto falava, eu sentia minha voz se acalmar, um tom quase poético tomando conta. — Sei que parece que o foco é o dinheiro, mas é mais do que isso, pelo menos para mim. É trazer ideias, sensações, coisas que as pessoas esquecem que podem sentir... entende?
Ana cruzou os braços, o sorriso travesso ainda nos lábios, mas eu percebia que ela ouvia com atenção. Eu continuava: — O cinema é sobre explorar o que somos. A arte de contar histórias é mágica, e é viciante. Uma vez que experimenta, você nunca esquece. Tudo muda.
Ela balançou a cabeça e riu, me dando um tapinha no ombro.
— Ai, que forma bonita de falar, Alex! Fico até emocionada — brincou, com aquele brilho travesso. — E olha, só vou dizer uma coisa: com esse discurso apaixonado, você vai arrasar como... como... como é mesmo que chama? Cinegrafista?
Fiquei vermelho na hora, mas não pude deixar de corrigir.
— Cineasta, Ana! É cineasta, pelo amor de Deus!
Ela riu ainda mais alto, se divertindo com a minha irritação, enquanto se rendia.
— Tá, tá, Sr. Cineasta! — Ela deu de ombros, ainda rindo. — Mas, falando sério, você vai ser ótimo nisso. E digo mais: tenho certeza de que vai fazer grandes filmes um dia. Você tem essa coisa nos olhos, sabe? Essa paixão meio doida que faz a gente acreditar que dá pra mudar o mundo. É isso que faz você ser... você.
Olhei para ela, surpreso com a seriedade inesperada, mas um sorriso cresceu no meu rosto. Ana estava certa, e mesmo que eu ainda tivesse dúvidas, a paixão que me guiava era o que importava. Era como um lembrete de que esse sonho, essa busca, valiam cada segundo de luta.
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O Idiota Americano - 1 (Em revisão)
RomanceO que acontece quando duas pessoas de mundos opostos se encontram em um lugar inesperado? Alexandre, um jovem brasileiro de 22 anos, vai para os EUA em um intercâmbio Work and Travel, determinado a juntar dinheiro para sua pós-graduação em cinema...