POV: Noah I

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Olhei para o relógio de novo, tentando controlar a irritação que subia. Já estávamos atrasados, e isso estava me deixando louco. Marcamos de sair há mais de vinte minutos, mas minha mãe e Oliver pareciam ter todo o tempo do mundo. Olhei para a porta principal da mansão, esperando vê-los finalmente aparecer, mas nada. A mansão parecia maior quando estava assim, vazia, sem vozes. As paredes brancas e os móveis antigos quase refletiam o eco do meu humor.

O Natal com a família... Grande ideia. Vai ser ótimo, eles disseram. Vamos passar um tempo juntos, curtir a neve, disseram. E aqui estou eu, congelando no hall de entrada enquanto espero que minha mãe termine de escolher qual bolsa combina mais com o voo e que meu irmão decida se vai ou não tirar os fones de ouvido.

— Mãe! Oliver! — Eu gritei, a voz ecoando pelas escadas e corredores vazios. A paciência que eu tinha estava se esgotando.

Eu me aproximei da porta, abrindo-a para deixar o vento frio entrar um pouco, como se a brisa gelada pudesse me ajudar a controlar os nervos. O vento cortante me atingiu no rosto, lembrando-me do porquê eu odiava essa época do ano. Estávamos no Tennessee, e a ideia era pegar um voo para encontrarmos meu pai no resort. Ah, neve e família, o sonho de qualquer um, certo?

Errado.

Oliver apareceu finalmente, arrastando os pés, como sempre, com aquela atitude de quem faz o mínimo possível só para não ser incomodado.

— Sempre essa má vontade, hein? — Eu disse, cruzando os braços, enquanto ele se aproximava. Ele nem se deu o trabalho de responder direito, apenas deu de ombros, os fones de ouvido pendurados no pescoço.

— Eu nem queria ir, — ele murmurou, enfiando as mãos nos bolsos.

Claro que não queria. Oliver nunca queria fazer nada que exigisse esforço, exceto, talvez, ficar trancado no quarto com videogames. Eu revirei os olhos, tentando não começar uma discussão agora. Ainda não havíamos nem saído de casa.

Então minha mãe apareceu. A senhora Claire Wordsen desceu as escadas como se estivesse prestes a ir para algum evento de alta sociedade. Ela estava impecável. Vestido alinhado, saltos, maquiagem, até o perfume parecia exagerado para uma viagem de avião. Eu encarei a cena, incrédulo.

— Você tá arrumada demais pra pegar um voo, mãe. Normalmente, o ideal é ir confortável, sabia? — Comentei, mas claro que ela me ignorou completamente. Ela sempre fazia isso quando achava que eu estava sendo "inconveniente".

Ela passou por mim com aquele ar de superioridade, a bolsa cara balançando no braço, e foi direto para o carro. Os empregados estavam terminando de colocar as malas no porta-malas. Eu quase não acreditei no que vi.

— Isso tudo? — Perguntei, encarando a quantidade absurda de bagagem. — O que você tá levando, a casa inteira?

Minha mãe me lançou um olhar que era metade desdém, metade "você não sabe nada".

— Apenas o necessário, — respondeu com um sorriso vago, sem parar de caminhar.

Olhei de volta para Oliver, esperando algum comentário dele, mas, claro, ele estava ocupado demais em seu mundinho. O máximo que recebi foi um meio sorriso, como se ele estivesse se divertindo vendo o circo pegar fogo.

Eu não pude evitar revirar os olhos de novo. O necessário dela devia incluir roupas para todas as ocasiões possíveis e imagináveis. Afinal, o que seria de um resort no meio da neve sem a possibilidade de usar todos os vestidos do armário?

— Vamos, Oliver, — chamei, abrindo a porta do carro com um gesto irritado. — A gente vai perder o voo se a mãe decidir levar mais alguma coisa.

Ele soltou um suspiro pesado e, sem dizer uma palavra, entrou no carro, já colando os fones nos ouvidos de novo. Nossa mãe entrou logo em seguida, como se estivesse desfilando para uma plateia invisível, e eu a segui, tentando não me deixar afetar demais pela situação.

Com o carro carregado, o caminho até o aeroporto seria longo. O Natal em família seria interessante. Eu só esperava que o tempo juntos não se tornasse um caos completo.

O Idiota Americano - 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora