Natal 🎄

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O Natal em North Lake Tahoe era exatamente o que você imagina de um Natal típico de filme. Neve caindo suavemente, luzes piscando em todas as casas e chalés, e um frio que parecia querer te lembrar o tempo todo que isso aqui não é o Rio de Janeiro. Se eu estivesse em casa, a essa altura, estaríamos assando um frango com a família toda reunida, minha avó preparando algum prato especial, e talvez até improvisando um amigo oculto de última hora — porque nada grita "família brasileira" como aquela confusão organizada. Mas não. Aqui estou, no meio do inverno congelante, com flocos de neve grudando no cabelo e um vento cortante no rosto.

O mais engraçado é que o Natal aqui parece um daqueles filmes que a gente vê na TV. Tudo tão perfeito, quase de mentira. Sabe aquelas decorações impecáveis, com uma árvore de Natal em cada janela e neve caindo em câmera lenta? Exatamente isso. O resort estava incrivelmente decorado. As árvores iluminadas com luzes brancas e douradas ficavam espalhadas por toda parte, e cada canto do salão principal tinha um enfeite temático. A enorme árvore de Natal no centro, com bolas reluzentes e fitas, era o ponto alto da decoração. As lareiras estavam acesas, espalhando um calor acolhedor que contrastava com o frio cortante lá fora. O ambiente exalava uma atmosfera mágica, com os hóspedes circulando envoltos em casacos e gorros, sorrisos estampados em seus rostos, e o som suave das músicas natalinas ecoando pelos corredores.

Era como se eu tivesse sido jogado dentro de um daqueles filmes americanos que via com minha avó. Só faltava a trilha sonora tocando ao fundo e alguém aparecendo com um chocolate quente para completar a cena de comédia romântica. Mas eu não tinha tempo para fantasias cinematográficas. Não quando o meu trabalho me obrigava a vestir aquele maldito uniforme. Não me entenda mal, o colete de crochê marrom até que era suportável por cima da camiseta branca e da calça cargo marrom. Mas o gorro e as orelhas de elfo? Isso era tortura. E lá estava eu, carregando bandejas e fingindo que estava tudo bem, enquanto meu espírito natalino se debatia dentro de mim por causa do gorro ridículo.

Enquanto tentava me concentrar nas minhas tarefas, algo me distraiu — o meu telefone vibrando no bolso. Senti meu coração acelerar ao ver o nome da minha avó brilhando na tela. Eu precisava ouvi-la. Estávamos longe um do outro nessa data tão importante, e eu sabia que isso estava pesando tanto para ela quanto para mim.

— Alô, vó? — Atendi, me afastando discretamente para um canto mais silencioso do restaurante.

— Oi, meu querido! Como você está? — A voz dela soava como um abraço, e eu senti uma pontada de saudade no peito.

— Tô bem, vó. E você? — perguntei, tentando parecer mais tranquilo do que realmente estava.

— Ah, eu estou bem... — Ela fez uma pausa. — Mas é estranho, né? Passar o Natal sem você aqui. A casa tá tão vazia.

Senti um nó se formar na minha garganta. Eu também sentia falta dela, mais do que poderia expressar. — Eu sei, vó. Queria estar aí com vocês, mas... — Olhei pela janela, vendo a neve cair do lado de fora. — O resort tá lindo, todo decorado para o Natal. Parece um daqueles filmes de Natal que a gente assistia juntos. Só faltou o De Niro.

Ela riu, aquele riso suave que sempre me fazia sorrir. — Eu imagino! E como está o trabalho? Tá conseguindo se virar?

Suspirei, olhando em volta, observando os hóspedes passando com seus casacos de pele e sorrisos largos. — Tô indo bem. O ritmo tá frenético, mas nada que eu não consiga lidar. Só sinto falta de casa. — Eu hesitei antes de continuar. — E de você.

— Eu também, meu querido. Mas você está fazendo o que precisa ser feito. Estou muito orgulhosa de você. — Ela fez uma pausa. — Está conseguindo guardar dinheiro? Tá juntando o que precisa pra sua pós?

Assenti, mesmo sabendo que ela não podia ver. — Sim, tô economizando o máximo que posso. Depois que as festas de fim de ano passarem, vou procurar um segundo emprego. Preciso juntar tudo que der pra garantir essa pós no cinema.

Ela suspirou, mas eu sabia que era de alívio. — Isso mesmo, Alex. Você tem um futuro brilhante pela frente. E quando você voltar, vamos comemorar todas essas conquistas.

— Com certeza, vó. — Sorri, embora a saudade me apertasse o peito. — E você? Tá se cuidando? Tá tomando os remédios direitinho?

— Tô sim, tô sim! Não se preocupa comigo, só cuida de você aí.

Antes que eu pudesse responder, vi um cliente acenando para mim, indicando que precisava de algo. Suspirei, sabendo que minha folga de alguns minutos havia terminado. — Vó, eu preciso voltar. Mas a gente se fala mais tarde, tá bom? Eu te amo.

— Eu também te amo, meu querido. Não esquece de comer bem e descansar, hein?

— Pode deixar. — Desliguei o telefone, sentindo o peso da distância, mas também a certeza de que estava no caminho certo.

Guardei o celular e voltei ao trabalho, mas as palavras da minha avó ecoavam em minha mente. Mesmo longe, estávamos conectados. E isso era o suficiente para me fazer seguir em frente, por mais difícil que fosse.

O resort, com toda sua grandiosidade e magia natalina, não conseguia preencher o vazio que eu sentia por não estar com ela naquele momento. Mas eu sabia que essa escolha me levaria mais longe do que qualquer Natal em casa poderia. 

O Idiota Americano - 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora