Cheguei ao housing exausto, sentindo o peso do dia nas costas. Pelo menos, hoje eu tinha o consolo de saber que o turno no restaurante estava fora da minha agenda. Uma noite de folga, finalmente! Assim que entrei na casa, o calor me abraçou, aliviando o frio que dominava o ambiente lá fora. As paredes de madeira clara, o sofá verde-escuro surrado e o cheiro de café meio antigo davam ao lugar um ar acolhedor. Diego estava largado no sofá, com a expressão descontraída, alternando entre olhar para a TV e mexer no celular.
Sem dizer uma palavra, caí no sofá ao lado dele. E, em menos de cinco segundos, soltei um suspiro frustrado, incapaz de manter o silêncio.
— Ahhh, eu não aguento mais aquele cara — deixei escapar, mais para mim mesmo do que para ele.
Diego imediatamente desviou o olhar da TV, com uma sobrancelha levantada em curiosidade.
— Qué pasó agora? — ele perguntou, em seu tom usual de calma absoluta.
Suspirei de novo, jogando a cabeça para trás, sem saber por onde começar.
— Noah. O cara apareceu hoje na aula de esqui e praticamente me atropelou. Quase me derrubou, e ainda teve a audácia de fazer piada, como se tudo fosse uma grande brincadeira. E o pior: ele ficou me encarando com aquele sorriso irritante, sabe? Como se estivesse se divertindo às minhas custas.
Diego riu e desligou a TV, agora completamente focado na minha reclamação.
— Esse tipo é um babaca completo — Diego deu de ombros. — Toda vez que ele aparece, te deixa assim?
Eu soltei uma risada sem humor.
— Diego, é como se ele vivesse pra isso. Toda vez que ele me olha daquele jeito, sinto vontade de socar uma parede. Ele é o típico riquinho arrogante, que pensa que o mundo gira em torno dele. Só que tem alguma coisa nele... não sei, é como se ele quisesse ver até onde consegue me levar, entende?
Diego assentiu, o rosto refletindo compreensão.
— Hermano, escuta. Talvez ele queira mesmo te provocar, pero si tú ignoras... talvez ele desista. Parece que você tá dando muito poder pra ele. Talvez ele só queira te tirar do sério. Aí é só você que fica, como você fala, puto.
Revirei os olhos, mas ele estava certo.
— Vou tentar, mas não prometo nada. — Falei, meio a contragosto, mais para não dar o braço a torcer.
Diego deu um tapinha leve no meu ombro, me lançando um sorriso cúmplice.
— Buen chico. Agora, falando sério... — Diego mudou de tom, uma expressão animada crescendo em seu rosto. — Me diz uma coisa, a Ana vai pra festa dos J1, né?
Eu ri, lembrando do quanto ela insistiu para que eu fosse.
— Ah, vai! Foi ela quem mais me perturbou pra ir, com certeza vai estar lá.
Diego ergueu as sobrancelhas e sorriu, visivelmente animado com a informação.
— Qué buena noticia! Ela é fogo, cara. Toda vez que eu tento puxar papo mais sério, parece que ela escapa. É como tentar segurar água nas mãos, entende?
Ri, lembrando o quanto Ana podia ser imprevisível.
— Ah, cara, boa sorte. Ana é divertida, mas você já deve ter percebido o quanto é impossível prever o que ela vai fazer. A única coisa que sei é que, se ela estiver interessada, você vai descobrir.
Diego olhou para baixo, um sorriso tímido que eu não via com frequência.
— Valeu pelo aviso. Quem sabe a festa seja uma boa chance.
Suspirei, me sentindo mais leve, vendo que, de alguma forma, compartilhar minha frustração com Diego e ouvir sobre seu interesse por Ana me trouxe uma nova perspectiva. E, mesmo sem muita certeza, prometi a mim mesmo que, pelo menos nessa festa, tentaria deixar o estresse de lado.
Uma coisa era certa: aquela festa prometia ser interessante.
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O Idiota Americano - 1 (Em revisão)
RomanceO que acontece quando duas pessoas de mundos opostos se encontram em um lugar inesperado? Alexandre, um jovem brasileiro de 22 anos, vai para os EUA em um intercâmbio Work and Travel, determinado a juntar dinheiro para sua pós-graduação em cinema...