A ideia de cursar uma pós de cinema nos Estados Unidos nunca saía da minha cabeça. Esse intercâmbio era apenas o primeiro passo, uma ponte que eu estava construindo para o futuro. O melhor caminho que encontrei para entrar no mercado americano foi fazer uma especialização em uma instituição renomada, como a University of Southern California (USC), enquanto procurava uma oportunidade de emprego no país. Mas a cada dia que passava, eu sentia o peso das minhas decisões se acumulando. O dinheiro que eu estava juntando aqui era essencial para garantir minha chance de entrar na USC. Cada hora de trabalho, cada momento longe de casa, era um sacrifício que eu estava disposto a fazer.
Estava perdido nesses pensamentos quando Diego apareceu do nada, jogando sua mochila no chão com um suspiro exagerado.
— Hermano, parece que tá carregando o peso do mundo nas costas. — Ele riu, sentando-se ao meu lado e tirando o gorro da cabeça.
Diego era o típico argentino que parecia carregar o calor do seu país natal no olhar. Seu jeito descontraído e o cabelo bagunçado só reforçavam essa imagem de quem leva a vida de forma leve, mas sempre com uma profundidade escondida. Não importava o quanto o trabalho fosse pesado ou cansativo, ele estava sempre com aquele sorriso fácil no rosto.
— Talvez porque eu esteja — brinquei, soltando um suspiro pesado. — Esse intercâmbio é importante, não posso perder o foco.
Diego revirou os olhos dramaticamente e deu um leve tapa no meu ombro.
— No manches, Alex. Você tá sempre tão sério. Não acha que merece relaxar um pouco? O mundo não vai acabar só porque você aproveita um dia de folga.
Eu tentei rir, mas o cansaço e as preocupações não deixavam. O que eu precisava mesmo era de uma pausa para respirar. Mas como eu poderia me dar ao luxo de relaxar quando meu futuro dependia de cada decisão que eu tomava aqui?
— Relaxe, eu sei disso — falei, tentando não soar tão tenso quanto me sentia. — Mas é que eu não vim aqui para me divertir, Diego. Eu tenho um objetivo, e cada dia que passa, sinto que o tempo está correndo.
Diego balançou a cabeça com um sorriso no rosto, como se achasse minha preocupação cômica.
— Sí, sí. Eu entendo, mano. Mas você também precisa viver o presente. Olha a Ana, por exemplo. Ela tá curtindo cada segundo — ele sorriu com os olhos ao falar dela. — Vocês dois são muito parecidos, mas ela não se deixa consumir pelo futuro. Talvez você devesse tentar fazer o mesmo.
Eu olhei para onde Ana estava, rindo e brincando com Stefani. Ela sabia como equilibrar as coisas, mesmo quando o trabalho parecia não ter fim. Ela tinha seus próprios sonhos, mas sabia viver o momento de uma forma que eu invejava.
— Ela realmente sabe aproveitar as coisas — admiti, rindo. — Mas, sabe, eu gosto de ter esse foco. Me mantém no caminho certo.
— Bueno, mas não te esqueças de disfrutar también. Ah, e falando nisso — Diego levantou as sobrancelhas com um sorriso travesso — você já percebeu como a Ana tá sempre por perto? Ela é uma boa amiga, mas... você acha que tem algo a mais aí?
Soltei uma gargalhada e balancei a cabeça.
— Ana é incrível, Diego, mas somos só amigos. E, você sabe, ela é muito direta. Se houvesse algo, ela já teria falado.
Ele riu, mas pareceu aliviado, como se estivesse esperando essa resposta. Antes que Diego pudesse dizer mais alguma coisa, o barulho na entrada do restaurante chamou nossa atenção. Claro, lá estava Noah com seu grupo de amigos, entrando como se o lugar fosse uma extensão de sua casa. Seu andar confiante e despreocupado me irritava mais do que eu gostaria de admitir.
— Olha só quem está de volta — murmurei, sentindo o estômago apertar.
Diego seguiu meu olhar e assobiou baixo.
— Esse cara é rico de verdad, né? Dá pra ver a confiança estampada no rosto dele.
— Ele é mais arrogante do que confiante — corrigi, tentando ignorar o nó de frustração que se formava em meu peito.
Diego riu e deu de ombros.
— Buena suerte, mano. Você vai precisar.
Então Diego chamou Stefani, e juntos, voltaram para seus postos no resort, deixando-me ali com meus próprios pensamentos e o desconforto crescente.
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Voltei ao meu posto, já me preparando mentalmente para lidar com o Noah. Eu sabia que aquela noite não seria fácil. E como esperado, fui designado para atender a mesa deles. Respirei fundo e fui até lá, com um bloco de notas em mãos, tentando manter a compostura.
— Boa tarde, senhores. O que vão querer? — perguntei, com o tom mais profissional que consegui forçar.
Noah levantou os olhos preguiçosamente para mim, me lançando um daqueles olhares que me faziam sentir como se eu não fosse digno de estar na mesma sala que ele.
— O que você acha? — Ele ergueu uma sobrancelha com desdém, me desafiando.
Eu mantive o sorriso no rosto, mas por dentro, a irritação já estava fervendo.
— Acho que você poderia me dizer, em vez de tentar adivinhar — rebati, sem perder a postura.
Os olhos de Noah estreitaram, e ele se inclinou ligeiramente para frente, com um sorriso de canto.
— Sempre com respostas prontas, não é? O problema é que você parece não entender seu lugar aqui.
Meus punhos se apertaram automaticamente. O que diabos esse cara pensava que era? Ele realmente achava que podia me tratar como se eu fosse inferior?
— Entender meu lugar? — perguntei, cruzando os braços. — Talvez você devesse tentar me explicar.
Noah me olhou por um segundo mais, o sorriso desaparecendo de seu rosto, e sua voz ficou ainda mais fria.
— Eu sou um hóspede, e você está aqui para fazer o seu trabalho. Garotos como você vêm para cá tentando realizar o famoso "American Dream" e esquecem o que realmente são. Qual é o seu sonho, Hollywood? Trabalhar em alguma multinacional ou algo assim?
Quando ele mencionou Hollywood, algo dentro de mim se quebrou. Ele não sabia nada sobre meus planos, mas aquela provocação foi direta no ponto mais sensível. Mantive minha expressão calma, mas por dentro, tudo que eu queria era dar uma resposta à altura.
— Grande ou pequeno, ao menos eu tenho um sonho — falei, com a voz firme. — E você? Algum sonho que vá além de andar por aí com seus amigos ricos e gastar o dinheiro do seu pai?
A mesa ficou em silêncio, todos os olhares presos em mim e Noah. Seus olhos se cravaram nos meus, e por um momento, pensei que ele fosse me atacar com outra provocação. Mas, para minha surpresa, ele simplesmente ficou em silêncio, me observando. Havia algo estranho na maneira como ele me olhou, como se eu tivesse atingido um ponto que ele não queria expor.
Antes que pudesse tentar decifrar aquele olhar, Ravi, um dos amigos de Noah, riu e jogou uma batata frita nele, quebrando o clima.
— Relaxa, Noah. Não vale a pena brigar — disse Ravi, casualmente.
Noah desviou o olhar e se recostou na cadeira.
— Tanto faz — murmurou, sem mais interesse.
— Espero que aproveitem o jantar — finalizei secamente, me virando para sair.
Enquanto me afastava, senti o olhar de Noah preso em mim, o que só aumentava a tensão no meu peito. Por mais que eu odiasse admitir, havia algo nele que me incomodava profundamente. Não era só sua arrogância... Era como se ele estivesse escondendo algo, algo que eu não conseguia enxergar ainda. E isso me deixava inquieto.
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O Idiota Americano - 1 (Em revisão)
RomanceO que acontece quando duas pessoas de mundos opostos se encontram em um lugar inesperado? Alexandre, um jovem brasileiro de 22 anos, vai para os EUA em um intercâmbio Work and Travel, determinado a juntar dinheiro para sua pós-graduação em cinema...