Mercado na cidade

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A primeira semana no resort tinha sido um verdadeiro caos. O ritmo no Restaurante Pinecrest era frenético, e eu ainda tentava me adaptar ao trabalho, ao frio cortante de Tahoe, e ao peso das minhas próprias expectativas. Cada dia parecia uma maratona interminável, com hóspedes exigentes de várias partes do mundo, e a sensação de que eu nunca conseguia descansar completamente. O inverno aqui era implacável, muito além do que eu poderia ter imaginado.

Naquela tarde, eu, Ana, Patrício, Stefani e Diego decidimos ir até a cidade para comprar algumas coisas básicas após o turno. O restaurante finalmente dava uma trégua, e com o Natal se aproximando, precisávamos garantir que estávamos preparados para o que viesse. A cidade ficava a uma distância considerável do resort, mas era nossa única opção de conseguir tudo o que precisávamos para os próximos dias.

Ao chegarmos, percebi que o clima da cidade estava agitado, com luzes de Natal piscando em praticamente todas as esquinas. A brisa fria trazia consigo o cheiro de neve misturado com o som das pessoas conversando em diferentes línguas. O mercado estava lotado, provavelmente devido à época, e as prateleiras eram enormes, repletas de produtos em tamanhos absurdamente grandes. Era o típico exagero americano que eu sempre via nos filmes, mas agora, vendo tudo de perto, a imensidão do lugar parecia quase surreal.

— Esse lugar é muito maior do que eu pensava — Ana comentou, seus olhos brilhando enquanto observava tudo ao redor com curiosidade. O reflexo das luzes de Natal dançava em seus olhos, e desde que nos conhecemos no aeroporto, nossa amizade parecia se fortalecer a cada dia.

— Sim — Diego concordou com um sorriso, também impressionado. — Tudo aqui é grande. Olha só isso. — Ele pegou um pacote de batatas fritas gigante, balançando-o nas mãos e exibindo um sorriso travesso.

— Isso é sério? — Ana riu, incrédula. — Quem consegue comer isso tudo?

Peguei um pacote enorme de biscoitos de uma prateleira próxima, tentando manter uma expressão séria enquanto mostrei para ela.

— Parece que aqui estão preparados para alimentar uma família por um mês com apenas um pacote de biscoitos — falei, lutando para não rir.

Ana soltou uma gargalhada, dobrando-se levemente para frente, e seu riso era contagiante, fazendo o ambiente parecer mais leve. O mercado, lotado com o burburinho das famílias comprando para o feriado, parecia vibrar ao nosso redor, mas, naquele momento, estávamos no nosso próprio mundo, rindo das proporções ridículas dos produtos.

Stefani, no entanto, não parecia tão impressionada. — Essa cidade é muito longe do resort, — disse ela, cruzando os braços enquanto observava o mercado com um olhar crítico. — Imagina se a gente precisar vir toda semana.

— Só vai precisar vir toda semana se você quiser — Patrício respondeu com um tom descontraído, jogando uma piscadela para mim e Diego. Já estávamos acostumados com o jeito dela.

— Preciso achar opções vegetarianas. Tomara que eles tenham algo decente aqui — Ana murmurou, olhando ao redor com mais desânimo do que curiosidade.

Logo de cara, era possível ver prateleiras intermináveis, cheias de produtos industrializados, doces, salgados e embalagens de tamanhos absurdos e com muitas variedades. Era quase como andar em um labirinto de cores e marcas que faziam de tudo para chamar atenção.

— Vem cá, eu vi uma seção vegetariana ali — Diego ofereceu, acenando com a cabeça para Ana enquanto começava a caminhar na frente. Claramente, ele tinha explorado o mercado com mais atenção do que a gente.

Enquanto Diego a guiava, comecei a perceber pequenos detalhes na interação entre eles. Um riso sutil de Ana aqui, um olhar prolongado de Diego ali. Nada explícito, mas havia algo nos gestos que indicava uma certa aproximação. A maneira como ele se inclinava para ela, como se quisesse garantir que estava confortável, e o sorriso de Ana quando ele mostrava algo interessante... tudo estava nos detalhes.

Fiquei observando enquanto eles escolhiam juntos alguns produtos. Ana apontava para algumas opções, e Diego fazia sugestões, sempre com aquele jeito brincalhão e tranquilo. A sintonia entre os dois estava cada vez mais evidente, mas parecia que ambos ainda não percebiam o que estava se desenrolando ali.

— Tá todo mundo arrumando alguma coisa por aqui, hein? — Patrício comentou baixinho ao meu lado, tirando-me dos meus pensamentos. — Você percebeu o que está rolando ali, né? — Ele sorriu, apontando discretamente para Diego e Ana com um leve movimento de cabeça.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Ah, reparei, sim. Mas parece que eles ainda não perceberam.

Patrício deu de ombros, divertido.

— Vamos ver onde isso vai dar.

Enquanto Stefani continuava andando pelo mercado, resmungando sobre estar cansada de caminhar, nós três começamos a pegar as coisas que precisávamos. O som dos alto-falantes do mercado tocava uma música natalina, misturando-se com as vozes das pessoas e o tilintar dos carrinhos de compras. Diego e Ana se aproximaram de nós, com Ana segurando uma sacola cheia de produtos veganos.

Diego tocou suavemente o ombro dela, os olhos fixos nos dela com uma expressão suave.

— Você achou o que precisava?

Ana sorriu para ele, um sorriso que parecia carregar algo a mais.

— Achei, sim. E obrigada por me ajudar a encontrar.

Eles se entreolharam por um segundo a mais do que o normal, e a tensão leve, mas presente, era palpável. Parecia que uma dança silenciosa estava começando entre eles, algo que ninguém ainda tinha coragem de admitir em voz alta.

Depois de um tempo, terminamos de pegar o que precisávamos e fomos em direção aos caixas. O mercado, ainda cheio, estava em clima de festa, com famílias correndo de um lado para o outro, fazendo suas compras de Natal. Enquanto Ana ria de uma piada que Diego contou, e Stefani fazia seu típico comentário pessimista sobre a viagem de volta, percebi que, apesar de todas as dificuldades da primeira semana, essa amizade que estávamos formando tornava o peso mais leve.

Naquele momento, cercado por essas pessoas, o caos da minha primeira semana no resort parecia mais cotidiano. 

O Idiota Americano - 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora