79- Solidão

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Fazem três dias, só três dias sem ela e parece que já fazem um mês. No primeiro dia eu fui atrás de Thales durante a noite porque não aguentei quando cheguei em casa e não achei ninguém para me receber. Eu estava mal, muito mal. Eles eram minhas base de tudo, meus maiores presentes dados pelo universo. Lauwana era minha cara metade, minha alma gêmea, a mulher da minha vida. Não sei como ela conseguiu tomar essa decisão, assumir ela e segurar a barra de tudo. Ela estava no seu antigo apartamento. No dia em que ela saiu de nossa casa eu a ajudei a levar as suas coisas e a organizar as de Thales. Vendo o que levaria do menino e o que deixaria para quando ele ficasse comigo nos meus dias de folga, todos os meus dias de folga serão ao lado do menino até nos resolvermos. Eu creio que vamos sim fazer isso, não me imagino com mais ninguém a não ser ela.

Está sendo difícil, chorei durante os três dias em pelo menos um momento. Penso que eu poderia ter feito mais, ajudado mais, prestado mais atenção em seu estado e feito mais por nós. Mas ao mesmo tempo que penso isso, eu olho e vejo que não tinha como fazer mais coisas. Simplesmente fiz de tudo para ficarmos juntos e bem, mas se ela quer tomar essa decisão eu não posso obrigá-la a ficar comigo. Não posso forçá-la a ficar em nossa casa. Eu precisava superar e aprender a viver sem ela, sem seus beijos e carinhos, sem sua risada e brincadeiras bobas, sem suas comidas maravilhosas, sem sua personalidade cativante, seu cheiro delicioso, sem seu amor. Teria que aprender a viver sem ele.

Torço a cada dia mais pra essa tortura acabar, a única coisa que anda me distraindo é o nosso filho e o futebol. Jogos me relaxam, trabalhar me relaxa e me deixa tenso ao mesmo tempo. Eu consigo me concentrar mais quando quero, os problemas somem e outros aparecem quando estou em campo, gosto de ver o meu trabalho como uma válvula de escape, é o que eu nasci para fazer. É o que eu gosto de fazer nas horas vagas e também quando estou ocupado, a qualquer momento eu estou com uma bola nos pés, não me lembro de sequer um momento da minha vida em que eu não estava dessa forma.

Estava no vestiário, após sair do treino, estava descansando enquanto pensava na desgraça da minha vida e em como os deuses devem me odiar para fazer tudo em minha vida dar errado. Rony se sentou ao meu lado, Caio se sentou do outro, Flaco e Veiga se mantiveram de pé todos me encarando. Confesso que demorei a perceber a presença deles ali por estar preso em minha própria bolha, quando percebi os olhares dos quatro em minha frente acabei me assustando.

— Que susto caralho. - falei, após dar um pulo no lugar ao olhar ao redor e ver milhares de olhos em cima de mim. - o que vocês querem em? - perguntei meio irritado pelo susto.

— A gente tá aqui te encarando vai fazer cinco minutos, você tá mal mesmo viu amigo. - falou Rony, colocando a mão em meu ombro dando leves batidinhas.

— E como você acha que eu ia estar depois de ter perdido minha família? - falei, me encostando na parede e cruzando os braços, bufando alto.

— Cálmate amigo, precisa parar de pensar negativo assim. Ela pediu um tempo, precisa colocar a cabeça no lugar e ela mesmo disse que vocês vão reatar, sai dessa depressão. - falou Flaco, e eu revirei os olhos.

— O López tem razão, você tá na merda cara, tem que se animar. Não tem o que fazer, é aceitar e bola pra frente. - falou Veiga, e eu quase soltei uma risada sarcástica.

Como se eu já não estivesse tentando fazer isso. É muito fácil falar da boca pra fora, tenho certeza que ele iria enlouquecer se a Roberta deixasse ele, imaginar se eles estivessem na mesma situação que eu e Lauwana onde envolve uma criança no meio, ele não aguentaria sequer um dia em minha pele.

— Eu sei que é difícil, eu já tive muitas fases ruins com minha mulher, mas vai passar cara, eu te garanto que vai passar. - falou Rony, e eu sorri sem mostrar os dentes para ele.

Vizinhos - Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora