77- Irreconhecível

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Lauwana estava se isolando novamente, queria conversar com ela sobre isso. Novamente chamei ela para ir assistir ao jogo e ela não foi, era o palmeiras, a maior paixão da vida dela, se nem ele estava tirando ela de casa o que mais a tiraria? Ela tinha voltado a agir como uma zumbi, apenas seguindo a rotina. Estava mais irritada que o normal com tudo ao redor, brigando até mesmo com o vento e tenho certeza que esse estresse acumulado quer dizer algo mais intenso que apenas raiva.

Eu estava voltando para casa enquanto dirigia pelas ruas de São Paulo, perdemos por culpa da má arbitragem que infelizmente roubou um pênalti nosso. Eu estava estressado pelo jogo e também pelo pós jogo, alguns jogadores que estavam ali não me agradavam nem um pouco, deixando a rivalidade em campo ainda maior. Também me irritei bastante com a entrevista pós jogo, porque todos os jornalistas estavam fazendo chacota com meu nome e o nome de Felipe sem sequer falar algo positivo pelo jogo difícil que tivemos. Apenas julgavam e apontavam os erros como sempre, dei uma resposta meio grossa para um homem ali e provavelmente fiz merda, mas não me importo, estou cansado dessas palhaçadas todas.

Não sei se teria cabeça para conversar com Lauwana agora e não quero piorar o que já está ruim, apenas preciso do carinho dela e de Thales para me acalmar. Pena que a mulher estava tão distante e perdida em seus próprios pensamentos que sequer encostava mais em mim sem eu pedir. Sinto que meu relacionamento está indo de mal a pior, não quero perdê-la, amo aquela morena mais que tudo, mas não tem como manter um relacionamento sozinho. Estava pensando no melhor pro nosso filho durante todos os momentos ruins, coloquei em minha mente que uma hora aquilo iria passar e ela voltaria para mim. Mas estou começando a temer que isso não vai acontecer e ela vai continuar assim perdida por muito mais tempo do que eu esperava.

Estacionei o carro na garagem e soltei o ar enquanto encostava me corpo no banco do automóvel antes de sair. Eu precisava segurar as pontas e me manter calmo, independente do estresse ou de qualquer coisa, ela é minha mulher e Thales é meu filho e precisam de mim mais que eu preciso deles agora.

Saí do carro e comecei a andar em direção ao interior do prédio, cumprimentei as pessoas que estavam na entrada dele e segui em direção ao elevador. Esperei aqueles minutos longos até chegar em nosso andar, adentrei na residência avistando tudo organizado e apenas algumas louças sujas na pia. Já tinha me alimentado antes de vir com uma besteira qualquer com os rapazes então não estava com fome. Fui na direção do quarto já sabendo que Lauwana e Thales estariam se preparando para a rotina noturna de ambos.

Cheguei no quarto e me surpreendi ao ver que Thales já dormia sereno no meio da cama rodeado de almofadas. Vi a luz do banheiro acesa e pensei que a morena estava se banhando, mas não existiam barulhos de água nem nada do tipo. Peguei o menino no colo com cuidado e beijei seu rosto com carinho o acomodando em meus braços para levá-lo até o seu berço para ele dormir confortável.

Entrei no quarto do menino que era temático do fundo do mar, cheio de tons verdes, azuis, brancos e amarelos. Coloquei ele deitado com delicadeza em seu berço, liguei a babá eletrônica e deixei o pequeno abajur que exalava luz azul e servia para que ele não ficasse com medo caso se acordasse durante a madrugada. O menino não fazia mais isso a um bom tempo, sempre dormia a noite inteira e só acordava no outro dia de manhã bem cedo, Lauwana conseguiu acostuma-lo com essa rotina que criamos. Era meio tarde, umas dez e vinte da noite. Deixei o menino ali e fui até o nosso quarto novamente. Retirei meu casaco e minha camiseta, ao fazer aquilo escutei barulhos baixos de soluços.

Estranhei aquilo e comecei a ir em direção ao barulho. Entrei dentro do closet devagar e me assustei com a cena que vi, Lauwana sentada no canto do closet enquanto chorava compulsivamente derramando lágrimas e mais lágrimas fortes e dolorosas. Ela parecia tentar evitar o barulho, sequer percebeu que eu estava ali, rapidamente me aproximei dela que estava toda encolhida no chão enquanto abraçava os próprios joelhos.

Vizinhos - Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora