MANU
point of viewOi, já tá liberado se matar?
Meu irmão inventou fazer um churrasco aqui em casa, o foda sabe o que é?
Apollo está beijando a ex dele na minha frente.
— Ai, vou no banheiro — falei pra Ajota que fez um ok com as mãos.
Entrei no quarto e me taquei na cama, nem tranquei, deixei a porta aberta mesmo.
Peguei uma garrafa de vodka que eu deixo de baixo da cama, só quem tem irmão que é carrapato de bebida entende.
Tomei dois copos americanos inteiros de vodka, depois de dois copos inteiros de vodka, senti o calor subindo e o mundo ao meu redor começou a girar levemente.
Eu estava no meio do segundo gole quando ouvi passos na direção do quarto.
Antes que eu pudesse me preocupar em trancar a porta, G.A. entrou, sem bater, como se já soubesse o que encontraria. Ele me olhou, um sorriso de canto brotando em seus lábios.
— Como cê tá? — ele disse, cruzando os braços enquanto se encostava na porta.
— Tô indo, e tu? — perguntei.
— Tô indo também, ae, quer dar um rolê de moto? — perguntou.
— Ave, eu quero! — falei animada.
G.A. sorriu mais largo, se aproximando de mim. Ele pegou a garrafa de vodka da minha mão e deu um gole direto no bico, sem hesitar.
— Já tá doidona, né? — ele disse, balançando a cabeça com uma risadinha.
— Ué, eu? Imagina! — respondi, meio rindo também.
— Vamos nessa, então — disse ele, me guiando para fora do quarto.
A brisa da noite bateu no meu rosto assim que saímos da casa, e eu senti a embriaguez se intensificar. G.A. montou na moto e subi na garupa, abraçando-o pela cintura.
— Segura firme — ele avisou, ligando o motor.
Quando a moto arrancou, o vento pareceu levar embora parte da minha confusão. O som do motor e a vibração sob mim eram quase hipnotizantes, e por um momento, tudo o que eu conseguia sentir era a adrenalina correndo nas minhas veias.
— Tampa a placa, branca — ele gritou e logo eu tampei a placa com a ajuda das minhas unhas, por conta do tamanho
Tampa a placa com as unhas foi uma missão, mas consegui. G.A. acelerou ainda mais, e a moto voou pelas ruas da cidade. A cada curva, a cada aceleração, eu sentia o peso do mundo se afastar mais um pouco.
Depois de um tempo, ele diminuiu a velocidade e tomou um caminho de volta pra minha casa.
Enquanto voltávamos, o silêncio entre nós parecia falar mais do que qualquer conversa. O vento cortava o som, e o ronco da moto era a única coisa que preenchia o espaço. Meus pensamentos, porém, estavam longe, não foi pelo o que aconteceu com o Apollo, nem ligo pra homem e muito menos sofro por ficante, amigo, conversante, sei lá que porra a gente é, é por que eu tenho essas fita mesmo
Quando chegamos na frente da minha casa, G.A. estacionou a moto com um movimento suave e desligou o motor. O silêncio se instalou de repente, pesado e cheio de significados não ditos. Eu ainda estava abraçada a ele, sentindo o calor do corpo dele através das roupas.
— Pronto, chegamos — ele disse, virando a cabeça levemente para me olhar. Seus olhos brilhavam sob a luz fraca do poste, como se quisessem dizer algo que suas palavras não conseguiam.
Desci da moto com um suspiro, minhas pernas um pouco trêmulas, talvez pela vodka, talvez pela adrenalina. G.A. desceu logo em seguida, e por um segundo, ficamos apenas nos encarando, como se estivéssemos tentando decifrar um ao outro.
— Valeu pela fuga — falei, tentando aliviar o peso do momento com um sorriso.
— Sempre que precisar — ele respondeu, dando um meio sorriso de volta.
Eu sabia que deveria entrar, que aquele era o ponto em que eu deveria agradecer e dizer boa noite, mas algo me impedia de me mover. G.A. também parecia hesitar, como se esperasse algo de mim, ou talvez estivesse lutando contra algo dentro dele.
— Manu... — ele começou de novo, com a voz um pouco mais baixa, quase como se estivesse inseguro do que dizer.
— Fala — eu respondi, mais perto do que pretendia, sentindo meu coração acelerar.
Por um instante, o silêncio se tornou insuportável. Então, sem mais hesitar, ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Eu não consegui me mover, meus pés estavam presos ao chão, como se soubessem que aquilo precisava acontecer.
G.A. colocou uma das mãos na minha cintura, e eu senti um arrepio percorrer meu corpo. Seu olhar estava fixo no meu, e antes que eu pudesse sequer processar o que estava acontecendo, ele abaixou a cabeça levemente, e seus lábios tocaram os meus.
O beijo começou suave, como se ele estivesse testando o terreno, esperando a minha reação. Senti o gosto da vodka nos lábios dele, misturado com o sabor que era tão G.A., algo que eu não sabia que havia guardado em algum lugar da minha mente.
Minhas mãos, como se tivessem vida própria, subiram até o pescoço dele, puxando-o para mais perto. O beijo ficou mais intenso, uma mistura de todas as emoções que eu vinha guardando — a confusão, a raiva, o desejo. Cada segundo parecia esticar, como se o tempo tivesse deixado de existir.
Quando nos separamos, ambos estávamos ofegantes, tentando recuperar o fôlego. Ele encostou a testa na minha, ainda me segurando pela cintura, como se precisasse de mais um momento para processar o que tinha acabado de acontecer.
Ele me deu um último beijo, dessa vez mais breve, mas não menos cheio de significado, antes de se afastar. Eu ainda podia sentir o calor dele, a sensação dos lábios dele nos meus, como uma marca que não iria embora tão cedo.
— Obrigada. — respondi, assistindo enquanto ele colocava o capacete e ligava a moto.
— Vê se me dá um toque depois!
Fiquei parada na calçada, vendo ele se afastar até que o som do motor desaparecesse ao longe. Quando finalmente me virei, lá estava ele, Apollo, me olhando de cima a baixo
— Boa tarde — falei e entrei para dentro de casa.