04 ‧ Suguru

345 64 165
                                    

O Dr. Anderson terminou de fazer a Satoru sua habitual rodada de perguntas, depois olhou para mim e franziu a testa.

— Você precisa cuidar de si mesmo também. — disse ele. — Não está dormindo?

Eu balancei minha cabeça, mas abri um sorriso falso na frente de Satoru.

— Estou bem.

Ele suspirou, porque obviamente essa era uma conversa que ele tinha com os entes queridos de seus pacientes o tempo todo, mas sua expressão era gentil.

— Preciso lembrá-lo que você não pode cuidar dele se não cuidar de si mesmo?

— Não, eu entendo, obrigado.

Ele me deu um tapinha no ombro no momento em que dois outros médicos chegaram.

— Ok, Satoru. — disse o fisioterapeuta. — Vamos te levantar e te colocar em pé hoje.

Satoru estava fazendo exercícios em sua cama, flexão de pernas, esse tipo de coisa. Mas eles precisavam esperar por causa da cabeça dele. Vertigem e queda ou fortes dores de cabeça e náusea eram problemas sérios com lesões cerebrais. Mas eles achavam que ele estava pronto, então…

Satoru olhou para mim e engoliu em seco.

— Não sei.

O fisioterapeuta não se intimidou. Ele explicou o que faria em uma voz neutra que não dava margem para discussões; como ele ficaria em pé sobre o pé esquerdo por três segundos e eles sustentariam o peso dele. Primeiro, eles o sentaram e deixaram a cabeça dele acompanhar o movimento; depois, eles gentilmente baixaram os pés dele para o chão e o deixaram ficar assim por alguns minutos.

Ele já estava pálido, mas continuou me procurando, o que me deixou mais feliz do que deveria. Eu dei a ele um aceno encorajador a cada vez. Porque se ele conseguisse fazer isso, estaríamos um passo mais perto de ir para casa.

Um pequeno passo.

— Ok, Satoru, no três.

— Um.

Ele olhou para mim, assustado, mas determinado.

— Dois.

Ele respirou fundo.

— Três.

Eles o levantaram e ele ficou em pé sobre o pé esquerdo por um segundo, dois segundos, mas então sua cabeça caiu para a frente e eu avancei para ele como se fosse pegá-lo. Mas ele estava bem apoiado e eles o colocaram de volta na cama. Ele estava branco como um lençol agora, com suor brotando na testa e respirando pesadamente.

— Você se saiu muito bem, Satoru — disse o médico. O neurologista e o fisioterapeuta cuidaram dele um pouco e pediram as enfermeiras que o deixassem confortável novamente. Eu pensei que ele fosse vomitar, mas não vomitou.

Logo, éramos apenas eu e ele. Ele estava com os olhos fechados, embora tivesse um pouco mais de cor. Uma lágrima desceu até sua têmpora.

— Você foi muito bem. — eu sussurrei.

— Cabeça dói. — ele suspirou.

Ele parecia tão desamparado, tão frágil, que não consegui me conter. Eu tinha que confortá-lo de alguma forma e deixá-lo saber que ele não estava sozinho. Peguei a mão dele nas minhas.

— Você vai ficar bem, Satoru. Você não está sozinho. Tudo vai ficar bem.

Outra lágrima escapou, mas ele apertou meus dedos e não soltou até que o sono relaxou seu aperto.

***

Algo mudou em Satoru quando ele acordou. Ele estava diferente comigo.

Pieces of Us | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora