16 ‧ Suguru

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foto da praia mencionada no cap

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Eu tinha café e torrada na mesa quando Satoru saiu do quarto. Ele estava andando, sem scooter, com o cabelo todo bagunçado e uma carranca no rosto. Sua expressão de gatinho irritado era tão adorável que me fez sorrir.

— Bom dia — eu disse, tentando não parecer muito alegre.

— Hmm — disse ele, se acomodando em um assento à mesa, tendo cuidado com sua perna. — Dia.

Deslizei o café para mais perto, depois seu prato com as torradas.

— Dormiu bem?

— Hm. — ele tomou um gole de café e mordeu uma torrada. — Sim.

Eu sorri por trás da minha xícara de café. Eu sempre amei a carranca dele durante as manhãs. Era como um cachorrinho aprendendo a rosnar. Mas hoje eu amava ainda mais. Eu ainda estava em êxtase da noite passada.

Ele disse que me amava.

E daí se ele estava dormindo? Seu cérebro adormecido tinha deixado escapar uma verdade, e eu me apegaria a ela para sempre.

— O que você quer fazer essa tarde? — perguntei. — Hoje está prometendo ser um bom dia.

Ele deu de ombro enquanto bebia seu café.

— Não sei.

— Eu tenho algumas coisas para fazer no andar de baixo esta manhã, mas pensei que talvez pudéssemos ir comer peixe e batatas fritas na praia no almoço. Que tal?

Outro pedaço de torrada, outro gole de café, depois o indício de um sorriso.

— Parece bom.

Ele nunca demorava muito pra aceitar o fato de que tinha acordado.

— Vou tomar um banho rápido.

— Ok.

Trinta minutos depois, nós dois tínhamos tomado banho, a cozinha estava arrumada e eu estava ajudando Satoru a descer as escadas. Ele estava ficando melhor e mais forte a cada dia. Pequenos passos todos os dias não pareciam muito, mas, em retrospecto, comparando à uma semana ou uma quinzena atrás, ele tinha chegado muito longe.

Ele usava a scooter na oficina porque o galpão em si era enorme, com pisos planos de concreto onde ele podia circular. Ele estava usando mais o braço, agora que se livrara da tipoia. Ele ainda não conseguia levantar nada pesado, nem aguentava segurá-lo por muito tempo, mas conseguia usá-lo. Ele tinha exercícios de fisioterapia para isso, e de vez em quando eu o via girar o pulso ou abrir e fechar os dedos.

Sempre tentando melhorar.

Uma coisa que era tão antigo Satoru a se fazer. Embora eu tivesse que parar de pensar nele como duas pessoas diferentes. Não deveria haver um velho e um novo Satoru. Havia apenas esse Satoru. Meu Satoru. Era quem ele era agora. E assim que levantei as portas de rolar, ele se ocupou, limpando, arrumando e varrendo enquanto eu entrava no meu escritório. Eu tinha colocado minha papelada em dia, falado com devedores e credores, olhado alguns pedidos e tudo mais. Tínhamos concluído o contrato com os Simpsons e fomos pagos, o que foi um alívio e diminuiu a pressão. Mas o que eu não tinha feito era finalizar a reivindicação do seguro da van. Ou melhor, a seguradora não tinha.

Verifiquei meus e-mails e suspirei quando não vi resposta à minha solicitação de atualização. Até chequei as pastas de spam e lixo eletrônico. Não havia nada. Me disseram que as reivindicações de indenização trabalhista e o seguro poderiam levar uma eternidade, mas minha gerente de caso tinha esperança de que receberíamos uma resposta rápida.

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