11 ‧ Satoru

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A névoa era espessa e pesada, me cercando e girando através de mim, pesando sobre mim. Ela se agarrava aos meus ossos e dificultava o movimento. Pesada e cansativa, e impossível de ver através dela. Se eu pudesse ver além, através dela, se ela apenas clareasse um pouco, eu seria capaz de ver... Todas as respostas estavam lá, a vida que eu tinha, tudo que eu conhecia, estava envolto em névoa.

Até as asas aparecerem. Como elas tinham aparecido antes em todos os outros sonhos. Era difícil de reconhecer a princípio, muita coisa faltava. Mas elas brilhavam um pouco mais agora, a névoa girava e dançava ao redor das asas, e eu tentei chegar até elas mais rápido. Eu precisava estar mais perto, e a névoa começou a clarear. Estendi a mão e toquei nas asas. Eu nunca tinha conseguido tocar nas asas antes... Isso era novo, e eu estava mais perto do que nunca.

E então a névoa se foi.

As asas eram macias sob a palma da minha mão. Um batimento cardíaco ecoou sob o meu toque, me assustando. Me chamando para casa.

Acordei assustado com um nome ecoando na minha cabeça.

Suguru.

E por um breve momento, pude sentir seu calor, sua força. Pude sentir seu cheiro, provar seu beijo.

Depois se foi.

Fechei os olhos, tentando entender o que restava daquele sonho, tentando lembrar de cada detalhe, mas não consegui. O sonho que tive muitas vezes havia mudado agora que eu sabia o que eram as asas. O que significavam e por que pareciam um lar. Quando eu não tinha ideia de onde era meu lar, aquelas asas ressoavam em meu coração.

Agora eu entendia por que aquele estranho que se sentou ao lado da minha cama no hospital, que nunca saiu, parecia tão familiar. Eu não o conhecia, nunca o tinha visto antes, mas por algum motivo eu confiava nele. Quando ele segurou minha mão no hospital, pareceu... certo. Parecia novo, mas de alguma forma familiar.

E agora eu sabia o porquê.

Claro, eu tinha visto as fotos de nós dois juntos e li as mensagens de texto, mas elas nunca despertaram nenhum sentimento além de tristeza, porque eu não conseguia me lembrar e ansiava pelo que os dois caras da foto tinham. Eu não tinha conexão emocional com aquelas fotos. Não o reconheci nas fotografias e também não reconheci quem eu era nelas.

Mas em algum lugar no meu cérebro, na névoa e na confusão vazia, havia um par de asas - uma memória - que estava tentando me dizer desde o acidente que o homem ao meu lado era meu lar.

Eu tinha fragmentos de memórias, de coisas que eu sabia, mas essa era grande. Essa tinha sentimentos por trás. Segurança, conforto, força.

Como ele disse, se essa fosse a única coisa de que eu me lembrasse, ele ficaria feliz com isso. E eu meio que concordei com ele. Quer dizer, eu queria todas as minhas memórias de volta, mas essa era um ótimo lugar para começar.

Apertei o botão para inclinar a poltrona e me sentei, dando a mim mesmo alguns segundos para me ajustar. Eu odiava como meu corpo e minha mente não estavam mais em sincronia. Como demorava alguns segundos para eu compreender as coisas, como se houvesse um atraso de dois segundos na transmissão. E a pior parte era que eu sabia que estava falando devagar. Eu conseguia ouvir, mas não conseguia fazer meu cérebro acelerar um pouco. Tudo o que eu fazia era lento. Como pensava, como falava, como me mexia.

Era assim que eu era agora.

Eu odiava, mas não havia nada que pudesse fazer sobre isso. Claro, era frustrante, mas eu simplesmente não tinha energia ou capacidade intelectual para ficar com raiva disso. Havia muitas coisas que minha mente não me deixava fazer. Muitas coisas que eu sabia que deveria me importar ou perguntar, mas eu simplesmente... não conseguia. Eu não tinha capacidade para isso.

Pieces of Us | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora