CAPÍTULO 1

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A brisa suave do fim de tarde sussurrava segredos antigos enquanto atravessava o Lac des Étoiles, o lago mais famoso da pitoresca cidade de Montpellier, na França.

Uma cidade onde o velho e o novo se encontram em uma harmonia única. O Lac des Étoiles, com suas águas tranquilas e cintilantes, era um refúgio sereno para os que sabiam apreciar, um lugar onde histórias antigas e novas se entrelaçam, e onde as folhas douradas dançavam como fantasmas sob a luz difusa do sol que já começava a se despedir.

Sentado na grama, com o olhar perdido nas palavras impressas do livro de autoajuda,"La Vie en Soi" de Jean-Luc Charpentier, um jovem parecia imerso em um mundo só seu. Seus olhos, de uma mistura incomum e hipnotizante de azul glacial e vermelho rubi, brilhavam sob a luz do crepúsculo, como se carregassem dentro de si a fusão de gelo e fogo, de calma e tempestade. Eram belos e selvagens, mas havia algo de inquietante neles, como se escondessem um segredo profundo, uma dor que as palavras não ousavam revelar.

Os óculos de grau que ele usava, com armação fina e prateada, emolduravam seu rosto pálido, quase etéreo. Os cachos negros de seu cabelo caíam sobre sua testa de maneira desordenada, criando um contraste marcante com a brancura de sua pele. Ele vestia uma calça preta que se ajustava com discrição ao seu corpo esguio e uma blusa de manga longa, também preta, com punhos adornados por delicados detalhes brancos, confeccionada em um tecido grosso que protegia do frio que começava a se intensificar. Cada detalhe de sua aparência parecia refletir uma parte de sua alma – complexa, introspectiva, carregada de nuances que poucos compreendiam.

Em torno de seu pescoço, pendia um colar simples, mas profundamente significativo. A cordinha de couro marrom, cuidadosamente trançada à mão, sustentava um pingente de prata envelhecido com a inicial "J". Aquele colar era muito mais do que um acessório; era uma herança, um símbolo de alguém que tinha um lugar especial em seu coração – seu avô materno, de quem ele herdara seu segundo nome, Jake.

Jake significa "aquele que supera" ou "aquele que vence", representava a essência de seu avô, um homem que havia enfrentado as adversidades com uma força silenciosa e uma sabedoria incomparável. Seu nome era mais do que um simples título; era um lembrete constante de que também poderia superar, poderia vencer, mesmo que o caminho à frente fosse incerto e cheio de desafios.

Ao seu lado, sua mochila aberta revelava cadernos e livros escolares, sinais de que Jake havia saído da escola há pouco tempo. Naquele dia, as aulas integrais haviam sido interrompidas abruptamente por uma reunião convocada pela secretaria, sem qualquer explicação, o que resultou na liberação antecipada dos alunos. Agora, ele estava ali, sentado à margem do lago, esperando.

Ele aguardava a única pessoa que se atrevia a chamar de melhor amigo, como fazia todos os dias, para que pudessem voltar juntos para casa.

Théodore Gauthier não era exatamente o melhor aluno da classe; fazia pouco tempo que ele começara a se comportar, após perceber que poderia acabar reprovando justo no último ano do ensino médio. A ficha parecia ter finalmente caído, e sua determinação para mudar se refletia em seus esforços mais recentes. Mas, por um motivo que Jake podia apenas supor, Théo – como gostava de se referir a ele – havia sido chamado para a diretoria antes do anúncio da reunião. Até o momento em que deixara a escola, ainda não havia sido liberado e não queria esperá-lo nas dependências de lá.

A Lycée Pierre Curie não tolerava alunos de baixo comportamento e rendimento, especialmente no último ano, quando as expectativas eram mais elevadas e o futuro acadêmico estava em jogo. Théo, apesar de sua recente melhora, ainda carregava o peso de um histórico problemático. O rigor da instituição era conhecido por todos os estudantes, e a possibilidade de uma reprovação iminente fez com que ele finalmente reconsiderasse suas atitudes, claro que com uma leve pressão de sua mãe.

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