Jake observava Théo com uma atenção tranquila, enquanto ele encarava a atividade de matemática à sua frente. Sabia que o amigo tinha uma relação complicada com a matéria; a aversão era quase palpável, como se as fórmulas e números estivessem ali apenas para irritá-lo.
Ainda assim, Théo estava se esforçando, rabiscando a folha com determinação. A atividade não era das mais difíceis, apenas algumas operações e uma ou outra equação que exigiam mais atenção.
O problema de Théo nunca foi a falta de inteligência, mas sim uma resistência quase instintiva. Jake compreendia isso — ele via essa luta nos gestos tensos do amigo, no modo como ele hesitava ao escrever cada novo passo.
Sem dizer uma palavra, Jake inclinou-se levemente, notando o pequeno erro que Théo estava prestes a cometer. Seus dedos se moveram com precisão, tocando levemente o ponto exato da equação onde Théo havia se perdido por um detalhe.
Théo, em silêncio, parou por um segundo, os olhos se estreitando enquanto revia seu próprio raciocínio. Bastou aquele gesto sutil de Jake para que ele percebesse o equívoco. Uma correção simples, quase imperceptível, mas suficiente para ajustar o rumo da resolução.
Jake sempre gostou desse tipo de momento. Ensinar alguém sem precisar de palavras, apenas com um toque ou um olhar, trazia uma satisfação genuína. Era como se, ao ajudar o outro a ver o caminho certo, ele também reforçasse em si mesmo o valor do conhecimento.
Não era só a solução do problema, mas o processo de entendimento que importava. Aquilo o lembrava de como sua mãe o ajudava quando ele era mais novo, ou de como seus professores guiavam seu aprendizado no colégio.
O ensino era algo muito maior do que uma simples troca de informações — era uma forma de construir, peça por peça, o entendimento de outra pessoa.
O ato de transmitir conhecimento sempre trouxe um tipo de clareza que o acalmava. Era algo que o conectava, não só com o outro, mas também consigo mesmo. A tutoria na escola, por exemplo, havia se tornado um dos seus principais compromissos.
O Lycée Pierre Curie oferecia diversas atividades extracurriculares, mas a tutoria acadêmica era uma das mais importantes. Não era qualquer aluno que podia ser tutor — era necessário ter notas excepcionais e um comportamento irrepreensível.
A escola, ao longo dos anos, percebeu que os alunos aprendiam de maneira diferente quando guiados por colegas. Havia algo mais acessível e, muitas vezes, menos intimidante em tirar dúvidas com alguém da mesma faixa etária, alguém com quem pudessem conversar de igual para igual.
Jake sabia disso, e compreendia o quanto era importante criar um ambiente de confiança, onde as dúvidas pudessem ser expostas sem medo de julgamento. A tutoria, além de ser valorizada no boletim final, era uma das atividades que mais contribuíam para o crescimento dos alunos. Jake via nisso um reflexo do que ele próprio experimentava ao aprender com seus professores — uma troca que ia além do conteúdo, uma construção conjunta e Jake, com seu desempenho exemplar e disposição para ajudar, se encaixava perfeitamente.
Talvez fosse por isso que Delphine, tivesse pedido especificamente para que ele ajudasse Théo com suas dificuldades. Ela sabia que Jake era um verdadeiro gênio em tudo que se propunha a fazer, e o fato de serem amigos tornaria o processo mais natural e, quem sabe, até mais eficaz para Théo.
A habilidade de Jake em ensinar e transmitir conhecimento surgiu de uma curiosidade natural, que o levou a explorar novas áreas de interesse, principalmente após perceber o valor do aprendizado. Desde muito cedo, ele sempre revelou uma habilidade incomum para aprender sozinho, como se o mundo ao seu redor fosse um livro aberto, esperando para ser decifrado.
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RIDE OR DIE
General FictionNo limiar de uma transformação que redefiniu suas vidas, um jovem prodígio em tecnologia e uma estudante de moda com um passado enigmático se encontram no início de uma jornada inesperada. Quando o destino os une, uma teia intrincada de conspiraçõe...