CAPÍTULO 2

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Jasper Jansen era um ótimo professor de matemática.

Ele lecionava em todas as turmas do Lycée Pierre Curie, sendo conhecido por seu método claro e preciso, e por transformar problemas complexos em desafios empolgantes. Ele estava naquela escola há muitos anos, tempo o suficiente para conquistar o respeito de alunos e colegas.

Para Jake, a matemática sempre fora sua matéria favorita, e parte disso se devia a Jasper. Ele admirava a forma como o professor explicava cada conceito, com paciência e paixão.

Jake costumava ver Jasper como um exemplo a seguir, um profissional que dominava seu campo e conseguia cativar os alunos de maneira quase natural. Para ele, o professor era alguém que fazia parte da rotina escolar, uma figura constante e confiável que nunca saía dos limites da sala de aula.

Isso seguiria sendo seu pensamento se, há pouco mais de um ano, sua mãe não tivesse iniciado um relacionamento com ele.

A partir daí, tudo mudou.

O que antes era uma simples relação aluno-professor tornou-se confusa e estranha para Jake. Ver Jasper todos os dias de aula na escola já era natural, mas agora também o via aos finais de semana, em sua casa, às vezes em momentos descontraídos, e isso mexia com sua percepção.

De repente, ele não sabia mais como separar as duas versões de Jasper: o professor atencioso e o homem que agora saía com sua mãe. Tudo parecia misturado, e o respeito que Jake tinha por ele começou a dar lugar a um desconforto crescente. Cada vez que entrava na sala de aula, não conseguia evitar a sensação de que algo estava fora de lugar.

Jasper continuava sendo o excelente professor que sempre fora, mas para Jake, ele se tornara uma figura mais complexa. Agora, ele era também o homem que estava invadindo o espaço de sua vida pessoal, e isso o deixava em uma posição difícil, sem saber como lidar com a nova dinâmica.

Eu sei o que vocês vão imaginar: era ciúmes, com certeza. Ter outro homem na casa não estava nos planos de Jake, mesmo que Jasper não morasse lá e muito menos que esse homem estivesse namorando sua mãe.

Mas também não era como se pudesse chegar nela e pedir para que simplesmente deixasse Jasper.

Ela merecia ser feliz depois de tanto lutar para isso. Jake sabia que a vida de sua mãe não havia sido fácil, e ele queria apoiá-la, mesmo que isso significasse enfrentar suas próprias dificuldades.

A felicidade da mãe não deveria ser sacrificada por causa dos seus sentimentos confusos e conflitantes. Talvez, apenas talvez, essa sensação de desconforto tivesse raízes no fato de nunca ter tido um pai presente. Ver outro homem agora tentando ocupar um espaço que, de alguma maneira, já fora reservado por alguém ausente era profundamente angustiante.

Jake nunca conheceu seu pai.

Na verdade, o tema sempre fora um território nebuloso, envolto em um silêncio desconfortável. Ele se lembrava vagamente de uma conversa que teve com sua mãe quando era um pouco mais novo. Ela havia revelado, de maneira vaga e hesitante, que a figura que deveria ser um herói na sua vida era mais parecida com um vilão em sua história. Ele se lembrava das palavras dela, cheias de um desconforto palpável, dizendo que ele havia ido embora, deixando um vazio que parecia impossível de preencher.

A cada vez que Jake tentava explorar mais sobre seu pai, sua mãe desviava o assunto ou fornecia respostas curtas e insatisfatórias, mas mesmo assim sequer sabia como ele se chamava, como ele era ou se ele também portava heterocromia. As explicações eram sempre vagas, como se houvesse uma necessidade de encurtar o assunto para evitar aprofundar a dor que parecia estar atrelada à lembrança. O desconforto dela era visível, e Jake, embora curioso, não queria causar mais sofrimento. A cada tentativa frustrada de entender o passado de seu pai, ele via o quanto isso afetava sua mãe, e isso o fazia se sentir culpado por querer mais informações.

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