CAPÍTULO 4

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Na cozinha, Marjorie estava organizando seus pertences para deixar o local. A noite já havia caído, e ela ainda precisava passar no mercado para comprar algumas coisas para o jantar. Com um gesto suave, ela tirou o avental e o enfiou na bolsa que sempre usava, onde também guardava outros itens pessoais e as chaves de casa. A bolsa estava pendurada em um gancho próximo à porta dos fundos.

Enquanto se preparava para sair, Marjorie notou as mochilas de Théo e Jake, deixadas encostadas perto da entrada da cozinha. Com cuidado, ela pegou as mochilas e as colocou sobre a bancada, conferindo rapidamente o conteúdo para garantir que estavam em ordem.

— Julien — disse ela, voltando-se para um dos funcionários que estava passando e levando algumas louças. — Vou precisar que  fechem a cafeteria hoje. Verifique se todas as luzes estão apagadas e se a porta dos fundos está bem trancada. Avise aos outros, ok?

Julien olhou para ela e assentiu, demonstrando prontidão.

— Entendido, senhora. Não se preocupe com isso.

Marjorie sorriu, aliviada, e pegou sua bolsa, dando um último olhar ao ambiente para ver se não havia esquecido nada.

— Obrigada, Julien. Até amanhã.

Com um gesto final, ela pegou as mochilas de Théo e Jake e se dirigiu para a saída. Ao ir até o balcão de atendimento avistou seu filho e sua enteada conversando e rindo. Jake estava sentado com as pernas cruzadas, um comportamento peculiar que ele adotava desde pequeno, algo que Marjorie nunca tinha ensinado a ele.

Esse jeito de se sentar chamava a atenção de Marjorie, pois nem ela nem seus pais costumavam se sentar assim, ele sequer teve a oportunidade de conhecê-los.

Havia algo misterioso nessa postura, que ela associava a uma característica que parecia ter sido passada para Jake de uma forma quase inconsciente.

A cor e a forma dos cabelos, o jeito de falar e até o modo como Jake andava evocavam a imagem do pai.

Marjorie se lembrava bem do homem que tinha marcado sua vida de forma tão profunda, mas não da maneira que Jake poderia imaginar.

A postura de cruzar as pernas era quase emblemática dele, algo que Jake teria herdado sem jamais tê-lo visto na vida.

Porém, apesar das semelhanças físicas e de alguns gestos que eram inegavelmente paternos, Marjorie sabia que, pelo menos, em termos de caráter, Jake era muito diferente — e ela fazia questão de guiá-lo por outro caminho.

Nathan Donfort com toda sua presença marcante, não era o homem responsável que ela acreditava que o filho deveria ser. Ao contrário, ele havia a abandonado grávida, ocultando o fato de que tinha outra família na Alemanha, seu país de origem.

Jake, no entanto, não sabia nada dessa história. Marjorie nunca quis carregar o filho com esse fardo. Ela preferiu moldar o caráter dele por meio de exemplos e ensinamentos sutis, sem jamais impor seus valores de forma rígida. Desde cedo, ela foi lhe transmitindo lições importantes sobre respeito, lealdade e gentileza, sem que ele percebesse o peso dessas lições.

Ela o ensinou a cozinhar, não por necessidade, mas como uma forma de preparar Jake para a vida. Havia algo quase simbólico nesse gesto, pois, para Marjorie, o ato de cozinhar representava mais do que simplesmente alimentar.

Era uma demonstração de cuidado, de partilha, e uma maneira de mostrar que o equilíbrio em um relacionamento deveria ser construído em pequenas coisas cotidianas.

Era como se, ao aprender a preparar suas próprias refeições, Jake estivesse sendo preparado para entender o valor de compartilhar responsabilidades e de ser um parceiro em todos os aspectos.

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