CAPÍTULO 10

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Kyoko acordou naquela manhã sentindo muitas coisas, e uma delas era o frio. O banho na madrugada havia deixado seu corpo gelado, e a falta de roupas por conta da fuga não planejada a colocou numa situação inusitada: dormir enrolada em uma toalha. A pensão onde estava hospedada fornecia toalhas limpas nos quartos, o que lhe serviu de pequeno consolo. Contudo, se recusava a vestir a mesma roupa que havia usado por dias, especialmente após ter andado por ai.

Assim que levantou, pegou o celular e digitou rapidamente uma mensagem para Taizo. 

Taiz raivoso: Preciso de roupas novas e algumas coisas..". 

Ao enviar a mensagem Kyoko sentiu-se um pouco exposta por pedir ajuda, mas sabendo que não havia outra escolha. 

Taizo sempre fora uma pessoa confiável, alguém com quem Kyoko podia contar. Desde o início, ele estava presente em momentos cruciais da vida dela. 

Ele estava lá para ampará-la na sua primeira queda de bicicleta, quando o chão parecia duro e implacável. Estava ao seu lado na sua primeira discussão na escola, oferecendo um ombro amigo, palavras de encorajamento e incentivando que ela não deixasse ninguém ditar quem ela deveria ser. 

Ele não hesitou em intervir no seu primeiro desentendimento com o primeiro namorado, protegendo-a de situações que poderiam causar-lhe dor mas também se certificando de que do chão ele não passasse.

À medida que Kyoko crescia, Taizo assumiu um papel ainda mais ativo em sua vida, não se limitando apenas a protegê-la fisicamente, mas também a prepará-la para enfrentar o mundo com a clara permissão de Hideri.

Ele começou a ensiná-la como se defender, inscrevendo-a em aulas de karate, uma arte marcial que ele mesmo dominava. Cada sessão de treinamento não era apenas uma oportunidade para Kyoko aprender habilidades práticas, mas também um momento de conexão profunda entre eles. Taizo transmitia suas lições com a mesma dedicação e cuidado que aplicava em todas as áreas de sua vida.

Ele nunca se casou, nunca teve filhos. Desde o momento em que fora designado para cuidar de Kyoko, a única coisa que ele conseguia pensar era em protegê-la. Não importava se era um problema grande ou pequeno, ele sempre estava ao seu lado, mesmo quando achava que ela estava sendo imprudente demais.

À medida que o tempo avançava, Taizo começou a sentir o peso da passagem dos anos com um peso diferente. Ele refletia sobre como o tempo pode ser cruel; quanto mais ele passa, mais difícil se torna encontrar espaço para seus próprios sonhos e desejos. 

Embora Taizo nunca tivesse desejado explicitamente construir uma família como um objetivo de vida, ele era humano e, como tal, carregava um desejo inconsciente e natural de ter algo mais para si mesmo. O desejo de ter uma família, mesmo que não fosse algo que ele planejasse ativamente, sempre esteve presente em algum nível de sua psique.

Ainda assim, naquela manhã, Taizo não respondeu à sua mensagem. O motivo do silêncio, ela sabia muito bem: o dia anterior. Kyoko havia fugido sem avisar para onde ia, deixando Taizo completamente no escuro. Aquilo o havia irritado profundamente. 

Ele não discutiu com ela diretamente, mas sua ausência de resposta, agora, parecia um tipo de castigo silencioso. Taizo sempre prezava pela segurança de Kyoko, e o fato de ela ter desaparecido sem lhe dar qualquer informação, somado ao perigo que isso representava, o deixava furioso.

Sabendo disso, Kyoko suspirou mais uma vez. Sabia que ele estava tentando ensinar-lhe uma lição, mas isso não a ajudava em nada naquele momento. Mesmo frustrada pela falta de resposta, Kyoko pegou o celular novamente, pensando em como tudo parecia fora de controle. De repente, uma notificação apareceu. Não era a mensagem de Taizo, mas sim uma videochamada.

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