Bateu o cartão de ponto exatamente às 7 da manhã. Cumprimentou os colegas nos corredores da empresa. Pacato cidadão, buscou sua mesa, limpa e vazia. Pegou sua canequinha e foi ao bebedouro. Beber água na canequinha era um ato de resistência. Dali a pouco leria as notícias e esperaria o dia passar, escrevendo suas memórias. Conheça a si mesmo.
Não tinha muito mais o que fazer. Estava numa espécie de limbo, num purgatório, como se naquela ala do aeroporto onde ficam os imigrantes ilegais com os quais ninguém sabe bem o que fazer. Destituído de todas suas atribuições, foi parar numa salinha dos Recursos Humanos, como um imigrante ilegal numa sala de aeroporto.
Esforços solitários para melhorar a existência humana podem resultar em tragédia. A Ruína é o ápice de um processo - o qual muitas vezes não se sabe se chegou ao fim. Na mitologia grega, Prometeu foi conhecido por desafiar os deuses ao tomar-lhes o fogo para entregá-lo à humanidade. Condenado por Zeus ao tormento eterno, foi amarrado a uma rocha, onde um abutre todos os dias comia seu fígado. Este voltaria a crescer durante a noite, apenas para ser comido novamente no dia seguinte. Na tradição clássica ocidental Prometeu se tornou uma figura que representava o esforço humano e o risco de consequências exageradas ou não intencionais.
Mais negativo de todos, o arcano Dez de Espadas é taxativo. Ruína significa um edifício destruído ou decadente. Perda de esperança ou saúde. A queda ou ruína de uma pessoa ou coisa. O Dez de Espadas mostra o colapso final do processo de pensamento. Raiva e frustração com a condição humana. Experiência de tristeza mental e tortura de outros. A ruína surge através de gestos fúteis em vez de lidar com a situação. A Ruína ensina a lição que os estadistas deveriam ter aprendido, e não aprenderam; que se alguém continuar lutando por tempo suficiente, tudo termina em destruição. Mas o desastre é uma doença estênica.Quando todos os governos se esmagam, ainda resta o camponês. No final das desventuras de Cândido, ele ainda pode cultivar seu jardim. Na terceira face de Gêmeos ascende um homem buscando armas, e um tolo segurando na mão direita um pássaro, e na esquerda um cachimbo, e eles são as significações de esquecimento, ira, ousadia, gracejos, obscenidade e palavras inúteis.
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Boleskine
Non-FictionAs ruínas de uma casa e as ruínas em uma vida. A queda do peregrino, o final de um ciclo e a esperança de reconstrução. Um encontro com as profundezas no interior da Escócia.