A Abadia de Thelema

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Uma certa ruína merece ser citada por aqui. A Abadia de Thelema, localizada na pequena cidade de Cefalù, na Sicília, Itália, foi uma casa comunal fundada pelo ocultista Aleister Crowley em 1920. Aquele que foi considerado o homem mais perverso do mundo por um jornalista britânico criou esse espaço como um centro espiritual para praticantes de Thelema, a religião filosófica e esotérica que ele mesmo desenvolveu. Seu lema, cantado pela Sociedade Alternativa de Raul Seixas, era faze o que tu queres pois é tudo da Lei.

A Abadia foi estabelecida como um local de retiro espiritual, onde Crowley e seus seguidores podiam viver e praticar suas crenças em liberdade. A palavra abadia foi usada de forma irônica, uma vez que Crowley se inspirou na ideia de um mosteiro, mas em vez de focar no ascetismo cristão, ele promovia práticas mágicas, rituais de Thelema, e uma forma de vida hedonista, livre de repressão moral. O nome Thelema vem do grego, que significa vontade ou intenção.

Crowley e seus seguidores praticavam rituais mágicos, estudavam textos esotéricos, e seguiam um estilo de vida que combinava misticismo e magia com o prazer dos sentidos. A casa foi decorada com afrescos e murais pintados pelo próprio Crowley, que representavam cenas sexuais, simbologia mística e imagens inspiradas no tarô e na Cabala. Essas pinturas serviam tanto para inspirar a prática espiritual quanto para chocar a sociedade convencional.

A Abadia de Thelema funcionou até 1923, quando Crowley foi expulso da Itália pelo regime fascista de Benito Mussolini. A imprensa britânica e italiana já havia pintado Crowley como uma figura escandalosa e demoníaca, e seus relatos sobre supostas práticas de rituais sexuais e sacrifícios simbólicos fizeram com que a casa ganhasse uma má reputação. Após a sua expulsão, a Abadia foi abandonada e entrou em ruínas.

Até hoje, o local continua em grande parte negligenciado. As pinturas de Crowley permanecem parcialmente visíveis, embora o tempo e o vandalismo tenham desgastado a maioria das imagens. No entanto, o lugar ainda mantém um fascínio místico para seguidores de Crowley e Thelema, além de atrair esotéricos e estudiosos da contracultura. A Abadia de Thelema se tornou um símbolo tanto da rebeldia espiritual quanto da exploração dos limites da experiência humana. Crowley acreditava que para alcançar o potencial máximo, os indivíduos deveriam rejeitar as normas sociais convencionais e explorar seus desejos e vontades mais profundas. A Abadia, com seus rituais e filosofias libertárias, representa um experimento radical de vida comunitária espiritual e mágica. O local inspirou muitos artistas, músicos e escritores ao longo das décadas, sendo um ponto de referência para aqueles que estudam a obra de Crowley e o desenvolvimento do ocultismo moderno.

Este que vos escreve chegou a passar lá por perto, em Cefalù. Não sabia, na época, da Abadia. Alguns anos depois, pediu a um amigo que passaria por lá que lhe trouxesse uma pedra do local. Ele o atendeu, vencendo os 400 metros de aclive e coletando o presente. Este, infelizmente, foi acidentalmente atirado ao mar por sua esposa, que pensava ser parte do lixo.

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