Ano de 1974. Jimmy Page tocava, vestido de preto. Dois anos antes, comprou uma propriedade às margens do Lago Ness, que havia pertencido a Aleister Crowley, capa de álbum dos Beatles e espécie de guru de alguns artistas perdidos. Aura de mistério, de medo e curiosidade. Já escrevi sobre isso em outro livro. A casa deles se chama Boleskine.
Faltou a montanha. No filme The Song Remains The Same, Jimmy Page é visto escalando a encosta íngreme de uma montanha escura, escarpada, com a lua cheia envolta em nuvens finas. No alto, ele encontra a figura do eremita, que está de cabeça baixa, segurando sua lanterna, a luz que o aprendiz está buscando. Quando ele recua, no lugar de seu rosto aparece o de Page, que passa da meia-idade ao jovem, adolescente, criança, bebê até o embrião, antes de voltar pelos vários estágios até o do ancião - o Eremita do tarô e seu farol da verdade. No filme, quando Jimmy toca guitarra com um arco de violino, transforma-se num mago movimentando sua varinha no ar, criando um arco íris de onze cores. Ao alcançar o Eremita, o rosto começa a mudar. A mensagem é que a verdade pode ser alcançada a qualquer momento, mas você pode não tê-la recebido ou não saber que a recebeu. Isso vem do tarô de Rider-Waite, mas a interpretação específica faz alusões ao trabalho de William Holman-Hunt, pintor pré-rafaelita.
A montanha de Meallfuarvounie, ou Meall Fuar-mhonaidh, é uma colina no lado oeste do Loch Ness, nas Highlands da Escócia, com 700 metros de altura, de forma arredondada e posições proeminentes. Um marco distinto, visível de longe. A montanha fica diante da Boleskine House, do outro lado do lago. Crowley, dedicado alpinista, certamente a escalou. Meio século atrás, conquistou recordes mundiais do montanhismo ao redor do mundo com seu amigo Oscar Eckenstein.
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Boleskine
Non-FictionAs ruínas de uma casa e as ruínas em uma vida. A queda do peregrino, o final de um ciclo e a esperança de reconstrução. Um encontro com as profundezas no interior da Escócia.
