Maiara
Meu celular toca sobre o criado-mudo. Eu estico o pescoço na direção e faço uma careta ao ver o nome de Sarah na tela. Tem me ligado insistentemente desde que não apareci para o almoço que quis me enfiar goela a baixo. Deixo tocar até ir para a caixa postal. Preciso encontrar as víboras quando retornar ao Brasil e estabelecer alguns limites, ou não vão me deixar em paz nunca. Pego minha carteira e vou em direção ao terraço. Marilia deve estar lá. Paro nas portas de vidro e corro os olhos pelo amplo espaço. A brisa noturna sopra agradavelmente, fazendo minha pele arrepiar, me lembrando de que meus braços, e boa parte do torso, estão de fora. Marilia havia informado à minha personal stylist da nossa viagem para cá e ela providenciou uma seleção de vestidos espetaculares para os eventos que terei de acompanhá-la. O modelo de hoje é muito ousado, embora longo. É branco, a saia ampla, com duas aberturas sensuais na frente, mostrando as pernas inteiras quando me movimento. A frente única que além de sexy, tem um decote profundo de encontro com o cinto prata que marca a minha cintura. Ela me ensinou o truque para não mostrar os seios inadvertidamente, no entanto. Basta usar discretas fitas adesivas e pronto!
Minhas sandálias são prateadas com strass. O hotel indicou uma maquiadora e cabelereira e Marilia a contratou para cuidar de mim antes dos eventos. O penteado de hoje me fez ofegar quando me olhei no espelho. Uma trança, ricamente intrincada e afofada, desce sobre o meu ombro direito e uma tiara lateral, prateada, em estilo grego, completa o visual. Sem qualquer modéstia, nunca me vi tão bonita em toda a minha vida. Pareço uma deusa grega. Eu rio um pouco de mim mesma com tal presunção, então, meu olhar colide com o de Marilia e, meu Deus... Acho que pronuncio isso baixinho, meu deslumbramento sendo transferido todo para ela. Está usando uma calça social cigarrete preta, scarpin branco, e blusa sem mangas de seda branca que tinha uma certa transparência, no qual dava para ver o realce de seu sutiã. Os cabelos soltos e lindos caíam até a cintura.
Sua figura exala riqueza, sofisticação, poder. E para o meu desgosto, estou irremediavelmente atraída, como a mariposa para a luz. Meu coração bobo acelera quando torno a encará-la. Está recostada à balaustrada, um copo de uísque na mão, a outra enfiada no bolso da calça. Sua postura sugere relaxamento, mas, sei que é enganosa. Marilia Mendonça não relaxa jamais. Estamos a uma boa distância, contudo, posso ver claramente a expressão nos olhos castanhos únicos. Eles me devoram, percorrendo lentamente o meu corpo, me deixando quente, meu sexo pulsando. Tudo em mim está muito consciente dela. Como a minha mulher. As palavras invadem meu cérebro me assustando de imediato. Não, ela não é... Começo a negar e suspiro resignada. As circunstâncias não são as mais propícias, no entanto, é isso que a Marilia é nesse momento: minha mulher. Foi ela que me fez mulher. Estremeço com essa constatação.
Ela descarta o copo sobre a mesa perto da piscina e vem para mim. Todo o tempo seu olhar segurando o meu.
- Você está atrasada. - diz asperamente. Eu rio um pouco. Cheguei eram quase seis da tarde, só para contrariá-la. Tomei banho correndo e fui me arrumar. Uma expressão intensa preenche seus olhos e ela me olha uma vez mais de cima a baixo, sussurrando: - valeu cada maldito minuto, no entanto.
Meu coração salta, não posso evitar. Está me elogiando? Eu não devia me importar, mas, quero que me ache bonita, sexy. Droga... Estou lelé da cuca. Como posso querer isso?
- Desculpe, querida. - digo-lhe docemente e ela estreita os olhos com a minha provocação. - Podemos ir agora.
- Tenho algo para você. - diz, pegando em cima da mesa uma caixa de veludo. Eu engasgo vendo a marca: Tiffany. Abre-a e não posso evitar minha boca escancarar, é um bracelete de prata, soberbo. É largo, com uma grande pedra verde, que suponho seja esmeralda, no centro. Absolutamente soberbo. - Gostou desse, pelo menos.