Maiara
A viagem de volta para casa é tensa. Eu choro ainda mais, olhando a cidade pela janela. A recente descoberta me deixando mais frágil, exposta, perdida como nunca estive em minha vida. Eu a amo. Oh, meu Deus, amo uma mulher que me tomou contra a minha vontade e me fez sua. Embora a Marilia esteja calada, posso sentir que ainda está com raiva pela forma como dirige, rápida e furiosa. Por quê? Será que significo algo para ela? Será que gosta pelo menos um pouco de mim agora? Rogo silenciosamente que sim. Estou tão dispersa que não percebo o carro parando na garagem. Ela está rapidamente na minha porta, abrindo-a e me dando a mão. Eu a abraço pela cintura e me deixo ser levada pela casa adentro. Ainda está silencioso, mas seus lábios tocam suavemente a minha cabeça em um gesto que me derrete, meu coração doendo de amor e esperança de que essa mulher tão complexa e reservada possa vir a me amar um dia.
Sobe as escadas me levando agarrada a ela e pouco depois estamos entrando em seu quarto. Ela me leva até o banheiro e me ajuda a sentar na bancada da pia. Volta ao quarto por uns instantes e logo reaparece com uma pequena trouxa na mão direita. Ainda sem dizer uma palavra, segura delicadamente a minha nuca e pressiona o pacote de gelo contra a minha bochecha esquerda. Arde e eu sibilo com a picada. Os olhos castanhos fervem.
- A vadia devia ter um anel para deixá-la ferida assim. - grunhe, rangendo os dentes.
Ela sempre gostou de me ferir. Mais lágrimas queimam em meus olhos e desvio o olhar do dela.
- Não. Olhe para mim, baby. - sua voz sai mais suave, me fazendo encará-la de novo. Meu coração está saltando desgovernado com a sua proximidade e a forma como está cuidando de mim. O jeito que está me olhando, como se eu importasse para ela. Seu polegar sobe um pouco, deslizando suavemente em meu queixo, olhos presos aos meus. - Me conte. Por que aquela garota a trata assim?
Eu pisco, as lágrimas descendo em meu rosto.
- Ela me odiou desde o dia em que meu pai a trouxe junto com sua mãe para as nossas vidas. - digo baixinho, derrotada. - Não sei a razão. Eu nunca fiz nada ruim que justificasse esse ódio.
Vejo um lampejo de empatia em seus olhos castanhos gelados.
- E seu pai, sua madrasta? Nunca perceberam nada disso?
- Meu pai sempre esteve cego de amor por Sarah e acabou adotando Dove como sua filha. - um soluço dolorido deixa meu peito. - Sarah nunca foi abertamente cruel comigo, mas sabia que a sua filha me maltratava e nunca a repreendeu. - puxo uma respiração trêmula. - Meu pai, ele só queria desesperadamente agradar sua nova esposa e...
- Deixou sua filha verdadeira de lado. - Marilia completa no tom raivoso novamente.
Eu apenas aceno. Foi exatamente isso que meu pai fez.
- Enfim, não há uma razão para Dove me odiar. Ela sempre o fez gratuitamente. - digo com voz apática.
Seu olhar fica mais intenso no meu e seu polegar sobe mais, acariciando minha face direita.
- Você não tem mesmo ideia, não é? - murmura, sua voz profunda e seu toque carinhoso, fazendo borboletas sobrevoarem em meu estômago. - E isso só a faz mais adorável. - diz em uma voz reverente. - Ela sente inveja, Maiara. Sabe que não chega a seus pés.
Suas palavras me surpreendem e eu abro a boca, chocada. O que ela está dizendo? Abano a cabeça.
- Não. Ela é muito mais bonita...
- Quem disse isso? Ela? - ela bufa. - É mentira. A cadela quis que acreditasse nisso porque é má e invejosa. - retira o gelo e examina minha bochecha.