Um mês depois...
MariliaEu faço mais uma sessão de levantamento de peso e saio da academia, no terceiro andar da minha casa. Estou pingando de suor e faminta. Entro no meu quarto, indo direto para o banheiro. Depois de uma ducha rápida, eu me visto e desço para a cozinha para procurar algo para comer. Já passa das dez da noite, mas tenho me obrigado a treinar. Desde o mês passado, quando Chris dividiu sua preocupação comigo de que a Maiara podia estar se relacionando em um nível pessoal com seu médico, substituí o álcool pelo treinamento físico e voltei a me alimentar direito. Sem a menor vontade, mas era preciso. Ela, de fato, está ficando cada vez mais íntima do cara e, deixem-me dizer, o infeliz é jovem, vigoroso, bonitão mesmo, está no final dos fodidos vinte.
Enquanto eu estava ficando magra demais com a minha infrutífera greve de fome. Chris, com sua boca grande, me chamou a atenção para o fato de que eu não seria uma rival à altura se continuasse me matando aos poucos, como estava fazendo. Voltei com tudo para o treino impulsionada pelo ciúme e raiva do médico metido a conquistador. O tal até foi jantar duas vezes na casa da minha avó. Fiquei puta por minha avó ter aceitado o cara em sua casa. Eu me senti traída duplamente e o confrontei do lado de fora nas duas vezes, tentei fazer com que enxergasse o óbvio. Meu Deus, a Maiara está grávida! Será que não tem vergonha de estar dando em cima de uma mulher grávida de outra pessoa? Não. Aparentemente não. Por que teria? Ela está ainda mais linda com sete meses de gestação. Está um mulherão.
Doeu a primeira vez que os vi saindo juntos da sua última consulta. Os dois sorridentes, jovens. Ela se livrou de Chris para ficar apenas com o idiota, embora continue dizendo que é apenas amizade. Eu queria ir lá e socar o espertalhão, mas me contive por causa do bem-estar dela e de nosso filho. A última vez que nos falamos foi no dia em que a mala da sua madrasta foi presa e a prostituta da sua meia-irmã, despejada. Deus, eu sinto tanta falta dela. Sinto falta da sua voz, do timbre meio rouco. Do seu sorriso. Ela sente a minha falta? Será que pensa em mim, em tudo que vivemos?
São quatro meses longe. Quatro meses de saudade, solidão. Agora sei exatamente como se sentiu quando a deixei sozinha após o Ano Novo. Para piorar, estou atormentada porque deixou esse cara se aproximar. A Maiara não o deixaria se aproximar assim, de graça. Ela não é leviana com seus sentimentos. Será que já me esqueceu? Muito tempo se passou. Meu coração aperta dolorosamente com a mera suposição. Não. Eu não suportaria vê-la assumir um relacionamento com outra pessoa. Minha avó me garantiu que é apenas amizade quando a interroguei sobre o assunto. No entanto, eu sei o que deve estar passando pela cabeça do infeliz. Ele quer a minha mulher. Eu gemo em desânimo quando me lembro que não é mais minha. Joguei nossa vida fora e estou pagando por esse erro a cada dia quando acordo sem ela. A cada noite que vou dormir sem ela.
Esquento a lasanha de frango que Rosa deixou preparada. Ela tem estado contente que voltei a me alimentar direito. Como uma porção generosa e, em seguida, lavo as vasilhas que usei. Meu celular toca quando estou deixando o cômodo. Fico intrigada ao ver o nome da minha avó. Ela não costuma ligar nesse horário. Meu coração dispara quando penso que pode ser algo com a Maiara.
- Vovó? - atendo-a, apreensiva. Há um silêncio aterrorizante do outro lado e meu coração acelera mais. - Está me assustando. Aconteceu algo com a Maiara e o bebê?
- Oi, querida. - sua voz está triste. - Não é nada com eles, graças a Deus.
- nova pausa. - Foi o Marcos, Marilia. Acabaram de ligar do hospital. Ele faleceu.Eu paro, a notícia não me surpreendendo, mas impactando mesmo assim. A Maiara não vai aceitar isso tão bem. Ela tinha esperanças de que o pai acordasse e se recuperasse em algum momento.