Maiara
Os dias foram passando numa velocidade vertiginosa. Lucca teve alta depois de duas semanas do parto e a Marilia tem estado presente a maior parte do tempo. Nas primeiras semanas, ela tirou mesmo folga do trabalho e sua ajuda foi, de fato, muito bem-vinda. Ela tem dormido num dos quartos perto do meu e de Lucca. Contratou uma cuidadora, técnica em enfermagem, para nos auxiliar nesses primeiros meses também. Foi graças a isso que não perdi muito sono, reclamação frequente das mães de primeira viagem. A Marilia realmente se preparou para cuidar do nosso bebê e cada vez que a vejo fazendo isso, sinto um misto de alegria e tristeza. Alegria por constatar que consegue amar o nosso menino, e tristeza porque me pego fantasiando em muitos momentos que ainda somos um casal feliz com a chegada do nosso primogênito. Mas, não, não somos mais nada uma da outra, e isso dói.
Ainda dói demais.
Lucca fez um mês na semana passada. Rosa fez questão de trazer um bolo e cantamos os parabéns. Chris veio acompanhado de uma morena um tanto exótica chamada Adriana. Uma moça que conheceu no Norte quando foi designado para as rotas domésticas. Parece que ele a está orientando na escola de pilotos da MM. Não sei o que há entre eles, mas dá para sentir uma energia sexual abrasadora entre os dois. Maraisa e Lígia também vieram. Agora o que me chocou de verdade foi a presença de Lauana, a irmã mais nova que a Marilia e Chris descobriram recentemente. Senti um clima estranho e misterioso entre ela e Lígia também.
Parece que preciso me inteirar das novidades. Lauana é um belo exemplar feminino, a exemplo da irmã, só que tem uma cara fechada, como se tivesse irritada com o mundo. É meio assustadora, no entanto um pouco da sua casca dura caiu quando perguntei se queria segurar seu sobrinho. Ela o pegou meio sem jeito, mas seu rosto suavizou visivelmente enquanto olhava meu pequeno rechonchudo.Lucca recuperou o peso e tamanho completamente nesse mês, graças a Deus e ao acompanhamento rigoroso da equipe de profissionais trabalhando junto com seu pediatra. Angelica esteve com um sorriso de orelha a orelha por ver eu e a Marilia sempre juntas ultimamente. Sei que ainda nutre esperanças de que nos acertemos em algum momento. Tenho deixado claro a cada oportunidade que a trégua é por causa de Lucca. Não quero que o meu filho cresça sem o amor e carinho da Marilia. Se para isso tenho que ficar perto da mulher que pisou sem pena no meu coração, eu ficarei.
Confiro o relógio mais uma vez e tento não parecer que estou contando os minutos para voltar para Lucca. Hugo sorri do outro lado da mesa. Ele me convidou para jantar, uma vez que estive praticamente dentro de casa o tempo todo nesse último mês. Meu resguardo acabou e me sinto mulher de novo. Meu corpo está muito mais voluptuoso, os seios grandes pelo leite acumulado. Nunca estive tão “gostosona”. Eu rio um pouco com esse pensamento nada modesto.
— Você não precisa disfarçar, Maiara. — ele ri, limpando a boca ao terminar seu prato. — Eu só queria a sua companhia hoje e, claro, fazê-la sair um pouco de casa.
— Eu sei. Obrigada por isso. — murmuro. — É que essa é a primeira vez que saio à noite e deixo o Lucca.
Seus olhos escuros seguram os meus.
— A senhora Mendonça está lá, não está? — detecto um leve desagrado em sua voz.
Hugo não está gostando da Marilia socada lá dentro da casa de Angelica o tempo todo. Contudo, nunca me disse abertamente, até porque não somos nada além de amigos. Por enquanto. Ele é bonito. Um moreno padrão, mas que mexe com um coração vazio. Bem, isso se o meu já não estivesse ocupado e se recusando a ser esvaziado. Zombo. Gostaria de sentir as borboletas voando no estômago, as mãos suando e ficando frias quando o vejo, mas não sinto nada disso. Não vou negar que é muito agradável de olhar, no entanto. Talvez com o tempo eu vá sentir todas essas coisas se der a ele uma chance.