Maiara
Eu o olho do outro lado da pequena mesa no terraço. Estamos em nossos roupões porque ela avisou que me quer de novo depois do jantar e eu disse que a queria também, na maior cara dura. Essa mulher está me transformando em outra pessoa. Marilia está concentrada em me servir, as sobrancelhas meio franzidas. Me pergunto como seria seu rosto completamente relaxado. Nesse momento seus olhos levantam e encontram os meus. Eu ofego baixinho, meu coração despencando com o impacto. É como se os olhos castanhos possuíssem uma espécie de força magnética que me mantém presa, incapaz de desviar o olhar. Estende o prato e eu o pego. Seus olhos estão intensos nos meus e percebo novamente aquela centelha de algo diferente.
— Obrigada. — murmuro, pegando meus talheres.
Ela se serve e começamos a comer em um silêncio tácito. A comida está deliciosa e me permito saborear com vontade, uma vez que no evento estive nervosa o tempo todo, com medo de cometer alguma gafe no meio dos ricaços. Além disso, a vaca argentina contribuiu para minar meu apetite. A voz de Ed Sheeran flutua até nossos ouvidos. Eu coloquei a pasta quando a comida chegou e Marilia surpreendentemente veio ajudar o funcionário a organizar tudo na mesa. Olho a Acrópole e quase suspiro sonhadora. Estar aqui fora, sob a brisa noturna, tendo essa vista espetacular à nossa frente, é quase como um encontro romântico. É eu sei, estou viajando. Não há nada de romântico nessa situação. Abano um pouco a cabeça. Sou tão tola. Porém, está claro que ela quer uma trégua. Por quê? O que a fez suavizar comigo? Pergunto-me intrigada.
— Fale-me sobre você, Maiara. — sua pergunta baixa me faz levantar a vista, encarando-a, chocada. Seus lábios contraem e pega sua taça de vinho, me encarando atentamente.
Eu bufo e limpo a minha boca, tomando um pequeno gole de água.
— Não acha que já passamos dessa etapa? — digo para desafiá-la.
Seus olhos cintilam e ela abre um meio sorriso, tomando um gole do seu vinho, me encarando.
— Embora discutir com você seja estimulante, especialmente a forma como a discussão termina... — seu tom e olhar são perversos, fazendo alusão a nosso sexo alucinado desta noite. Droga, ela tem razão. Meu rosto esquenta e seus olhos ficam mais intensos, penetrantes. — não quero ter que matar um leão toda maldita vez que quiser transar com você.
— O que você esperava? Estou sendo obrigada a fazer sexo com uma mulher que é desconhecida para mim. — digo, sem deixar minha mágoa de fora.
Seu maxilar fica tenso. Para minha surpresa, ela acena.
— Sim, eu entendi essa parte e estou disposta a fazer concessões. — diz, empurrando o prato limpo.
— Quais concessões? — pergunto finalmente, pegando a última porção do meu prato e levando à boca.
Marilia me olha longamente antes de responder. É uma mulher inteligente e já percebeu que não sou tão tola quanto pareço.
— Quero continuar tendo sexo mesmo depois de engravidá-la. — diz baixo, rouca, me hipnotizando com seus olhos lindos. — É muito gostosa. Não vou abrir mão de foder com você tão cedo.
Suas palavras são machistas demais para ela como sempre, mas, Deus, eu molho, pulso, desejando-a insanamente. Saber que estou agradando uma mulher experiente e fria como ela me deixa envaidecida, não posso evitar.
— Mas, o contrato...
— Esqueça o contrato. — pede, seu tom mais suave, sedutor. Deve ser exatamente assim que o diabo vem pedir sua alma. Caçoo. — Vou lhe permitir ver a criança. Vou lhe dar o que você quiser.