Marilia
Aperto o passo, uma urgência irracional de encontrar a Maiara se instalando dentro de mim. Chego até a mesa e uma carranca desce em meu rosto, quando não a vejo. Carlos se levanta, se aproximando.
— Não tivemos a chance de conversarmos a sós ainda, Marilia. — me olha seriamente. Detecto desagrado em seu tom. O homem deve estar se roendo, porque preteri sua filha e me casei com uma menina que em nada me acrescenta. Todos aqui devem achar que estou perdidamente apaixonada pela ninfeta para cometer uma insanidade dessas. Em nosso meio os casamentos têm mais a ver com alianças financeiras do que com sentimentos. Eles não sabem que estou cobrando uma dívida.
— Seja rápido, Carlos. Vou me recolher para o meu quarto assim que encontrar a minha mulher. — tento não soar aborrecida.
Carlos me analisa. Ele é outra raposa velha, por isso é meu parceiro na América do Sul. No entanto, aquela parte do globo ficou pequena para mim. Quero mais. Voar mais alto. Literalmente. Maiara tem razão. Estou sondando o terreno para uma nova aliança global orquestrada pela MM. Ainda não estou propondo nada. Como disse, nesse momento estou apenas estreitando laços, formando mais parcerias. Não tenho nenhuma vergonha de dizer que estou usando minha participação na Star Aliance como um estágio para organizar minha própria comitiva, a Ocean Aliance. A MM tomará o lugar da nossa concorrente, em no máximo, três anos. Seremos o maior conglomerado de linhas aéreas do Brasil e da América Latina, podem anotar isso aí.
— Sim, eu também iria correndo para o meu quarto se tivesse uma coisinha linda daquela como companhia. — sorri maliciosamente, me dando uma piscada que ele pensa ser amigável. Eu fico puta. Velho safado!
— Cuidado, Carlos. — aviso-o calma e friamente. — É da minha esposa que está falando.
Seus olhos ampliam e toda malícia some da sua cara enrugada.
— Queira me desculpar pela brincadeira, amiga. — diz levantando a mão livre. A outra está segurando um copo de uísque.
Tenho vontade de dizer que não sou sua amiga. Tratamos de negócios. Apenas isso. Todavia, seria grosseiro da minha parte e no momento, não quero me indispor com os parceiros.
— Vá direto ao ponto, Carlos. Como disse, estou de saída. — instigo-o a parar com a conversa mole.
O homem corpulento acena e seu rosto fica sério.
— Devo dizer que fiquei surpreso com seu casamento tão repentino. — diz confirmando minhas suspeitas. Ele está se sentindo traído junto com sua filha. Quero rolar meus olhos, mas, me mantenho firme. — Chocado é a palavra, para ser sincero.
Olho-o firmemente, levantando uma sobrancelha que diz: e daí?
— Não devia, Carlos. — respondo baixo, concisa, meu olhar lhe dizendo muito mais. — A vida é minha. Me relaciono e me caso com quem eu quiser, quando eu quiser.
Meu tom brusco nas últimas palavras o faz se encolher um pouco, acenando em concordância.
— Sabe que a considero como uma filha, Marilia. — tenta de novo.
Mais uma vez quero rolar meus olhos para seu sentimentalismo barato. O homem só quer ter alguém para cuidar do seu negócio quando não puder mais, uma vez que a Sabrina, sua única filha, é uma socialite fútil.
— Mais uma vez, não devia. — digo-lhe em tom mais frio. Qualquer alusão a Michael Mendonça é o suficiente para acabar com o meu bom humor. — Meu pai está morto e estou muito bem sem ele.
Carlos engole audivelmente. Sua expressão diz que lamenta ter tocado nesse assunto.
— Eu apenas sonhava em ver minha Sabrina casada com você. — ainda arrisca.